Morre Rogério Duarte, um dos mentores intelectuais da Tropicália

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Morre Rogério Duarte, um dos mentores intelectuais da Tropicália

O designer, músico e poeta baiano estava internado num hospital de Brasília, mas a causa da sua morte não foi divulgada.

Rogério Duarte na década de 1960. Foto: Divulgação/MAM-RJ

Aos 77 anos o fim deve parecer mais próximo, palpável, real. Nesta idade o fim não tem mais a ignorância da juventude de crer ser imortal. Ele está ali, logo ali, há alguns metros de distância. O designer, músico, poeta e tradutor baiano Rogério Duarte encontrou seu destino na noite desta quarta-feira (13) em Brasília. A causa de sua morte não foi divulgada por sua família, mas na real isso muitas vezes é o que menos importa. Quando era "imortal" Duarte era foda pra caralho. Ele deu cara, e principalmente identidade visual, pra Tropicália. Não se atenha aqui só ao raso mergulho de que ele era o cara por trás dos cartazes dos filmes do Glauber Rocha. Ele foi sim o cara que desenhou o Deus e o Diabo na Terra do Sol e A Idade da Terra, que inclusive fez a trilha sonora.

Cartaz do Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha. Foto: Divulgação

Na sua conta estão, além de ser um dos mentores intelectuais do movimento, canções como "Objeto semi identificado", de Gilberto Gil. "Anunciação", "Acrílico" e "Gayana", de Caetano Veloso. "Boneca Semiótica", de Jards Macalé. E as capas de discos? Puta que pariu, e as capas de discos. Sabe a capa do Gil meio monarquista de monóculo, do disco de 1968? É dele. A do Refazenda também. A cara séria do Caetano numa moldura no disco lançado em 1968 também é obra dele. Some aí ainda a capa do piscodélico disco da Gal de 1969 e do Cantar, de 1974.A capa do disco do Jorge Mautner, também de 1974 advinha de quem é? E a do Lugar Comum do João Donato? Isso sem falar nas capas de discos e revistas. Acho que deu pra sacar, né? Nascido em Ubaíra, cidade a 270 quilômetros de salvador, Duarte mudou — como grande parte de sua galera — para o Rio de Janeiro. Lá, foi diretor de arte da União Nacional dos Estudantes (UNE) e da editora Vozes, lá também, em 1968, foi sequestrado, preso e torturado pelos militares ao lado de seu irmão Ronaldo. Rogério Duarte se foi quase da mesma forma que viveu: nos bastidores, na encolha. Quase passando despercebido às manchetes, mas deixa um legado musical, visual e estético incontável. Deixa também uma puta sensação de que não lhe deram o devido valor. Comemos bola. Agora toda homenagem, que poderia ser em vida, será póstuma.