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Você Transa Ser Espremido que nem Sardinha no Metrô de SP? Alguém Acha que Sim

Em propaganda "testemunhal" veiculada na rádio Transamérica, o Metrô de SP tenta justificar a superlotação no transporte público da cidade.

Todas as fotos via.

Os quase oito milhões usuários do transporte público de São Paulo sabem como é voltar para casa. Além das falhas técnicas – muitas vezes classificadas pelo governador como “sabotagem” –, as horas passadas amontoado dentro dos vagões e o risco de levar uma “encoxada” de algum idiota sem sua devida autorização, há quem ache que tudo isso faz parte dum grande barato. Se você discorda, então é porque talvez não esteja tirando proveito suficiente da situação.

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No dia 18 de março, uma ouvinte foi ao Twitter contra uma propaganda “expressamente ofensiva e desrespeitosa” veiculada durante o programa Papo de Craque na Rádio Transamérica (101,1 FM em São Paulo).

Você pode ouvir o áudio da propaganda aqui.

“E aí, galera? Quem tá falando aqui é o Gavião e quero falar com você que vive na correria, pra lá e pra cá. Cê (sic) sabia que o Governo do Estado está investindo pesado no transporte sobre trilho? Se você juntar hoje o Metrô e CPTM transportam todo dia sete milhão (sic) e meio de passageiro. É gente pra caramba, hein? E olha que tem ainda sete obra que tão em andamento que vão aumenta e deixa mais moderno os trem e as estação. Nos horário de pico é normal trem e metrô ficá lotado. É assim também nas grande metrópole espalhada pelo mundo. Pá falá a verdade eu até gosto do trem lotado é bom pra xavecá a mulherada né mano! Foi assim que eu conheci a Giscreusa. Muito já foi feito e o governo sabe que ainda tem muito pra fazê (sic).”

A rádio se manifestou rapidamente, tentando justificar que o Gavião é um personagem do programa e que “o departamento responsável alterou o texto do referido comercial”. O tal Gavião é o tipo clássico de piada de futebol, em que todo são-paulino é viado, todo palmeirense é fascista e todo corintiano é bandido. Isso, por si só, já carrega sua cota duvidosa, mas, aparentemente, os responsáveis pela propaganda acham esses estereótipos aceitáveis e ainda acham que rola tirar um proveito porque “nos horário de pico é normal trem e metrô ficar lotado” e que “é bom pra xavecá a mulherada”.

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A indignação parece ter surtido efeito, pois foi protocolada hoje na Promotoria de Justiça de Direitos Humanos de São Paulo uma representação movida pelos deputados estaduais Alencar Santana e Luís Cláudio Marcolino (ambos do PT). A representação contra o secretário da Casa Civil do governo do Estado, Edson Aparecido, o diretor-presidente da CPTM Mário Bandeira e o diretor-presidente do Metrô, Luiz Antônio Carvalho Pacheco pede para que seja instaurado um inquérito civil a fim de apurar de quem é a responsabilidade civil e administrativa da veiculação da propaganda, pedindo também a imediata suspensão da mesma.

O Metrô, diante do caso, declarou o seguinte:

“Assim que tomou conhecimento da inserção (em forma de testemunhal), totalmente inapropriada, o Metrô consultou a agência responsável pelo plano de mídia que incluía a referida emissora de rádio. Foi informado de que seu conteúdo não só estava em desacordo com o propósito do comercial como também nunca fora informado de seu conteúdo. Advertida, a Rádio Transamérica FM tirou o comercial do ar e informou que a produção desse infeliz conteúdo é de sua inteira responsabilidade. Como jamais foi aprovado ou autorizado, esse serviço não foi nem será pago pelo Metrô.

O testemunhal é uma peça publicitária que deve seguir um briefing. Neste caso, o briefing transmitido à rádio era mostrar a modernidade do Metrô de São Paulo e explicar que a lotação nos horários de pico acontece em todas as grandes cidades do mundo. Além disso, deveriam ser anunciadas as obras de expansão em andamento.”

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Até que esse jogo do “quem peidou?” costuma funcionar de vez em quando, mas não tem como estranhar que uma propaganda que leva o nome do Metrô tenha sido veiculada sem nenhum tipo de aprovação prévia. A assessoria de imprensa da Transamérica soltou um comunicado oficial justificando que a propaganda veiculada tinha como o objetivo “exclusivo de entreter e divertir o público ao passar informações úteis sobre os serviços do transporte público”. Nada foi comentado se a propaganda foi previamente aprovada pelo Metrô.

Fica a pergunta para os usuários do Metrô e da CPTM: essa propaganda representa vocês?

Atualização

Às 20h26, recebemos uma nota de esclarecimento do Metrô com a seguinte mensagem:

O Metrô informa que irá processar a rádio Transamérica FM pelo uso indevido e sem aprovação de seu nome em inserção testemunhal veiculada em programa da emissora. 

Nem o Metrô nem a agência Nova SB, a qual a Companhia encomendou campanha sobre obras de expansão da rede metroviária, foram informados de que tal conteúdo seria veiculado pela rádio Transamérica. 

O Metrô reitera que repudia o conteúdo veiculado pela rádio Transamérica. 

Siga a Marie Declercq no Twitter: @marieisbored