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As travestis brasileiras estão sendo apedrejadas

No dia 27 de abril, José Alvanir Pereira da Rocha, travesti conhecida como Catarina, estava na rua quando dois caras de moto passaram por ali e a apedrejaram de forma covarde. Casos parecidos têm acontecido e as autoridades não parecem se importar.

Há quem deseje uma morte lenta e dolorosa para algumas pessoas e há quem prefira fazer isso com as próprias mãos. Mas não estou falando das mulheres muçulmanas, vítimas desse tipo de condenação. Na madrugada do dia 27 de abril, José Alvanir Pereira da Rocha, travesti conhecida como Catarina, estava na rua quando dois caras de moto passaram por ali e a apedrejaram de forma covarde. O crime aconteceu na cidade de Canindé, no Ceará.

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Catarina logo após o apedrejamento. Foto/Reprodução via.

Por telefone, Dona Nazaré, mãe de Catarina, me conta como foi. “Ele estava com o parceiro dele na rua. Dois homens de moto começaram a persegui-los. O parceiro fugiu e meu filho ficou. Puxaram ele pelo cabelo até que ele fosse ao chão. Jogaram pedras, tijolos, fizeram a maior perversidade.” Pergunto por qual motivo isso pode ter acontecido e, de pronto, ela me responde “Só pode ser preconceito. Ele se veste como mulher, gosta de sair de sainha curta. O povo vive fazendo piada com ele, xingando, inventando apelido”. O termo “homotransfobia” está surgindo e não é à toa. Gays incomodam, travestis e transexuais também – e nada disso é novidade.

Catarina, como prefere ser chamada, foi internada em estado grave, correndo risco de morte. Agora está em casa, melhorando, sem poder comer porque perdeu metade dos dentes, com o rosto desfigurado e inflamado, debilitada, quase sem conseguir falar. O caso ganhou repercussão na mídia local, mas quase nada foi falado em outras regiões do país.

Gilvan de Melo Machado depois de receber alta do hospital. Foto/Reprodução via.

Não foi a primeira nem a segunda vez que um homossexual brasileiro foi brutalmente atacado com pedras. Em junho do ano passado, Gilvan de Melo Machado foi espancado e apedrejado em Uberlândia, Minas Gerais. Ele trabalhava como manicure e teve seus serviços solicitados, mas tudo não passava de uma armadilha para que covardes motivados por ódio o machucassem.

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Em 2012, uma travesti foi apedrejada até a morte no bairro de Paripe, em Salvador (Bahia). Em Curitiba e São José dos Pinhais, duas cidades do Paraná, a mesma coisa. Em Palmas, no Tocantins, um professor de 56 anos se assumiu homossexual e seu fim não foi diferente. Apedrejamento. Até a morte.

Por que as pedras? Porque é um método fácil, cruel, exequível. Diferentemente de uma faca ou uma arma de fogo, é difícil incriminar alguém comprovando digitais. É difícil apurar quem passou por ali e, em minutos, deixou uma pessoa agonizante jogada no asfalto. Para as que trabalham na prostituição é provavelmente pior, já que ficam pela rua, absolutamente vulneráveis a qualquer coisa. Travestis de Fortaleza já relataram ser alvos de pedras enquanto aguardam clientes pelas calçadas.

Assim como muita gente tomou tiro de bala de borracha no rosto e na virilha (por que será?) durante as Jornadas de Junho, uma coisa é comum nos apedrejamentos de homossexuais: a cabeça é sempre o alvo principal das pedradas. Ou seja, se isso não é intenção deslavada de matar alguém, então não sei o que é.

Em todos os casos citados nesta reportagem, nenhum culpado foi apontado pelas investigações. Ou seja, os crimes de ódio contra gays, travestis e transexuais continuam acontecendo e, aparentemente, aqueles que os cometem estão à solta por aí.

Siga a Débora Lopes no Twitter: @deboralopes.