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As Pessoas Que Morrem de Medo de Vomitar Sofrem de Emetofobia

Considere isso um aviso: se você você não consegue falar sobre vomitar, golfar, chamar o Hugo, regurgitar ou dar PT, pare de ler agora.
Ashwin Rodrigues
Brooklyn, US
Crédito: Shutterstock

Considere isso um aviso: se você você não consegue falar sobre vomitar, golfar, chamar o Hugo, regurgitar ou dar PT, pare de ler agora. Iremos explorar a emetofobia, o medo paralisante (e nada incomum) de tudo que envolva vômito.

Pensar sobre o ato de vomitar, pensar sobre os outros vomitando ou pensar na mera existência do vômito como uma substância são atos que podem despertar a fobia, que vai além da mera aversão à sensação de regurgitar o que você acabou de colocar no estômago.

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Além desses estopins internos, os estímulos externos que costumam induzir o vômito — como beber demais, comer alimentos de sabor muito pungente, e fazer exercícios pesados — costumam ser evitados pelos emetofóbicos.

MUITOS NÃO CONSEGUEM USAR A PALAVRA 'VÔMITO' E OPTAM POR ALTERNATIVAS COMO 'V*ITO'

Imagine ter que evitar todas as coisas que podem te fazer vomitar. Sair para beber algumas cervejar com seus amigos? De jeito nenhum. Seus dias de comedor de competições chegariam ao fim se você fosse diagnosticado; seu sonho de correr uma maratona seria deixado de lado imediatamente.

Os sintomas são similares aos de qualquer crise de ansiedade: O medo de vomitar poder causar tonteira, ansiedade, náusea e, bem, vômitos.

Como ocorre em outras fobias, a causa do problema e o gatilho original da fobia não são completamente compreendidos, mas grande parte da literatura médica sugere que o medo fica incutido no paciente após um episódio particularmente ruim de crise de vômito na infância.

Veja o caso de uma garota de 10 anos, cuja crise de vômito induzida pela apendicite e medo subsequente foi estudado em um estudo publicado no Indian Journal of Psychiatry:

"Ela pensava constantemente na sensação de náusea. Ela começou a comer menos, evitando comidas que antes a agradavam. Ela se preocupava com o odor pungente de vômito na privada e pedia para sua mãe limpá-la frequentemente. O medo aumentou lentamente até o momento em que ela começou a evitar brincadeiras com outras crianças por medo de que elas a evitassem ou a zombassem caso ela vomitasse na frente delas.

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Ela também desenvolveu um sono reduzido e superficial e pensamentos e preocupações constantes sobre vomitar à noite e reclamações de náusea e regurgitação após o jantar."

Felizmente, a menina se recuperou, mas nem todo mundo é tão sortudo.

A emetofobia é também conhecida como uma FEV, um acrônimo que soa como um eufemismo para vômito e significa Fobia Específica de Vomitar. Isso nos traz a uma importante distinção: A maior parte dos humanos pertencem a um espectro que vai da moderada à extrema aversão ao vômito e situações que envolvem golfadas – mas porque é nojento.

Tendo dito isso, a intensa e muitas vezes debilitante doença conhecida como emetofobia não é nada rara: um estudo holandês revelou que 8% da população sofre com o distúrbio, e que mulheres eram muito mais propensas (pelo menos naquela população) a apresentá-lo. Na verdade, o número de mulheres afetadas superava o de homens em uma razão de 4:1.

"Apesar do conhecimento clínico e científico dessa doença ser limitado, a condição não é rara na prática clínica", acrescentou Viljo van Hout, autor do estudo.

Existem vários tipos diferentes de emetofobia; no entanto, eles não são mutamente excludentes:

"Para alguns pacientes, o maior medo está relacionado ao ato de vomitar, enquanto em outros predomina o medo de que outras pessoas vomitem em sua presença", escreveu van Hout. "O medo de que outras pessoas vomitem pode estar relacionado ao medo de contaminação, e subsequentemente, ao medo de vomitar. Todavia, o maior medo de alguns é vomitar em um local público ou em uma situação social na presença de outras pessoas."

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Casos graves da fobia podem levar à comportamentos nocivos como dietas extremamente restritas, uma medida tomada para evitar qualquer risco de vômito. Segundo algumas pesquisas, metade das mulheres que sofrem de emetofobia postergam ou evitam completamente a gravidez devido ao medo de sofrer com enjoos matinais.

Como ocorre com várias fobias, há um extenso suporte online para aqueles que sofrem desse transtorno. O Emetophobia.org, por exemplo, tem milhares de membros e uma comunidade online extremamente ativa.

Muitos dos membros do fórum não conseguem usar a palavra "vômito", e optam por alternativas como "v*ito". Da mesma forma, os emetofóbicos (ou "emets", como eles se denominam na internet) provavelmente dão uma olhada no PhobiasAtTheMovies.com antes de ir ao cinema para saber se o filme que eles irão assistir irá colocá-los frente a frente com seu medo.

Como ocorre na maioria das fobias, o tratamento da emetofobia envolve a reintrodução lenta e controlada do estímulo (no caso da garota mencionada acima, o tratamento começou com a simples leitura da palavra). Além disso, os pacientes submetem-se à teoria cognitiva comportamental, que é a prática consciente do pensamento racional a fim de superar a ansiedade ou fobia. Para aqueles casos que vêm de um trauma, a hipnoterapia é uma opção a ser considerada.

Se você conseguiu ler esse texto sem sentir nenhum vestígio de ansiedade, você provavelmente pode ficar feliz em saber que você não sofre de emetofobia — você só não gosta de vômito. É bem provável que você só esteja um pouco enjoado com esse papo, assim como eu, e queira parar de ler agora.

Tradução: Ananda Pieratti