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Tecnologia

Como se livrar das mosquinhas de banheiro da sua casa

Este inseto habita a Terra há 300 milhões de anos. Dá para imaginar que a batalha não será fácil, né?

Todo mundo convive com a onipresença daquelas mosquinhas que ficam pelas paredes dos banheiros. Em casa de rico e de pobre, no ambiente urbano ou rural, elas estão sempre à vista. E não adianta ficarmos putos: elas já habitavam a Terra milhões de anos antes da nossa existência e, ao que tudo indica, continuarão por aqui até depois que a humanidade se tornar um sopro de poeira cósmica na imensidão do universo. Isso porque esses insetos possuem incríveis capacidades de se reproduzir e de se adaptar aos diferentes climas. Faça o teste: você pode exterminá-las de hora em hora, e a cada vez surgirá uma nova dúzia delas.

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Ainda que não nos ataque, as moscas de banheiro podem ser bem chatas. Além de habitarem sanitários, elas ficam um tempão naqueles sebos dos canos condutores de água das estações de esgoto, onde também se reproduzem. Os gêneros que vemos em nossas casas são dois: Psychoda, de antenas terminais mais curtas, e Telmatoscopus. Ambos se multiplicam como população natural dos ambientes urbanos e suburbanos. Enquanto houver algum espaço calmo e úmido em paredes de canos, vegetações em decomposição, ninhos de pássaros e buracos de árvores, lá as bichinhas estarão a infestar. É assim há milhões e milhões de verões.

"Os fósseis antigos delas datam de mais ou menos 170 milhões de anos", me explicou o professor de bioquímica Reginaldo Peçanha Brazil, da Faculdade Oswaldo Cruz. "Como é um inseto muito pequeno, com pouco mais de 3 milímetros, dificilmente os temos em pedra. Então os fósseis mais remotos encontrados, todo o material preservado de fósseis dos phlebotomines, é em âmbar. Se você for lá em Burma, na Ásia, encontrará registros de espécies bem antigas, os precursores desses que a gente tem aqui. Na América, inclusive."

"Estamos aqui há 20 mil anos e eles, há 300 milhões. Eles criam resistência aos inseticidas e se adaptam a novos ambientes. Mas é possível a gente controlar."

E por que elas curtem banheiro? Bem, segundo o professor, é por causa do apetite de suas larvas. As larvinhas de psychodas são depositadas na gosminha orgânica dos canos porque essa película contém algas (Ulothrix), fungos (Phormidium), bactérias e protozoários – o banquete perfeito para a ninhada. As das espécies telmatoscopus são comuns pelas plantas nas estações de tratamento municipais e nos tubos de escoamento de edifícios residenciais. De certo modo, as larvas trazem benefícios pra gente porque elas quebram o filme gelatinoso acumulado e produzem uma massinha fecal que é levada embora com facilidade pela água corrente. O foda é que as moscas adultas seguem o caminho do cano e vão parar nos nossos locais de intimidade. Além do incômodo, ficar em contato com elas no mesmo ambiente pode causar reações asmáticas alérgicas em algumas pessoas.

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Como no verão as moscas parecem ficar ainda menos tímidas, e como meu banheiro está tão dominado por elas que tenho de pedir permissão para cagar, decidi consultar manuais para elaborar um guia ambientalmente correto para controlarmos as presenças delas. Controlar, não erradicar, que fique claro. "A gente nunca fala em erradicação de insetos. Isso é uma coisa totalmente errada", diz Peçanha Brazil. "Estamos aqui há 20 mil anos e eles, há 300 milhões. Eles criam resistência aos inseticidas e se adaptam a novos ambientes. Mas é possível a gente controlar."

O primeiro passo para se livrar das moscas de banheiro, dizem Peçanha Brazil e outras fontes consultadas, é identificar o cano de onde estão vindo — que é onde suas larvas crescem. Como elas voam meio mal, sempre dando voltas sem destino certo, uma tática é cobrir os ralos parcialmente com fita adesiva. No dia seguinte, ou horas depois, onde tiver moscas presas às fitas é um foco.

Depois, o lance é comprar uma escova de tubo ou um cabo de limpar encanamento, instrumentos comuns para limpar os canos por dentro, e mandar bala. Tire o ralo e esfregue as laterais com a escova até ficarem lisas, já que é ali que as mosquinhas depositam suas ovas. Com o cabo, aquele que se usa para desentupir canos, puxe os cabelos e outras coisas de difícil dissolução pelo caminho. É nojento, mesmo. Mas não tem saída.

Então é chegada a hora de despejar um limpador de canos, e deixar agir. Feito isso, pegue um desentupidor daqueles de bombear, e dê o trato final, pra escoar todo tipo de gosma orgânica.

No pain, no gain. Uma vez limpos os canos dos ralos infestados, substitua as grades vazadas por aquelas que abrem e fecham. Daí você só abre na hora de tomar banho ou de escovar os dentes, lavar o rosto, e não dá sopa para essas inofensivas, porém irritantes mosquinhas, povoarem as paredes do seu banheiro.

Se nada disso der certo, conforme-se: nem dinossauros e predadores menores foram capazes de contê-los. "Como são insetos de pequeno porte, fogem fácil de seus predadores, e acho que esse foi o sucesso deles na evolução", diz Peçanha Brazil. "E se você pegar um Jurassic Park, em que você via libélulas que tinham dez, 15 centímetros, elas não tinham mais de 20 centímetros porque senão seria fácil do predador comê-las. Um inseto de pequeno porte pode se esconder, se abrigar em determinados orifícios até passar a tormenta e, nisso, ele vai se adaptando." Que tenhamos sorte, então.

Foto por Björn Hjaltason