Laura Marling fala sobre explorar a perversão de nossos desejos em 'Semper Femina'

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Música

Laura Marling fala sobre explorar a perversão de nossos desejos em 'Semper Femina'

Ao falar de seu novo disco, Marling debruça-se sobre qualidades femininas e masculinas, como ela foi inspirada por mulheres e sua curiosidade quanto à psicologia.

Fotos por Hollie Fernando

A carreira da cantora e compositora inglesa começou na adolescência ao ganhar elogios por conta da sabedoria em seu disco de estreia Alas I Cannot Swim, de 2008. Marling  vinha da nova cena folk londrina do final dos anos 2000, a mesma que deu à luz nomes como Mumford and Sons e Noah and the Whale. Sua estreia jovialmente desafiadora e emocionante foi indicada ao Mercury Prize, fato que se repetiria em seu segundo álbum I Speak Because I Can e no quarto Once I Was an Eagle. Sua obra é caracterizada por sua relação com o violão (e a guitarra em Short Movie, de 2015) e as postulações, filosofias e histórias relatadas por ela: "Failure", de  Alas I Cannot Swim, fala de um romance com um músico fracassado e os fracassos que podemos atribuir a nós mesmos; "The Beast" de  A Creature I Do Not Know conjura imagens desconfortáveis míticas e demoníacas, ainda que familiares, do homem; já "Saved These Words" em Once I Was an Eagle é um triunfante declaração a um amante que se foi. Marling, agora aos 27 anos, não esconde seus discos passados, falando com bastante carinho sobre eles e seus antigos eus.

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"[Meus discos] são como antigos diários, marcas de sua época. Não os escuto com frequência, o que seria bem esquisito, especialmente porque foram escritos de forma a exorcizar algo que foi de fato exorcizado. Não quero reviver aqueles momentos."

Semper Femina é o disco mais disciplinado e conciso de Marling.  Diferente de seus projetos anteriores, estes foi intencionalmente editado e estruturado de outra forma. Marling afirma que seu produtor, Blake Mills, conhecido por trabalhos com nomes como Sky Ferreira, Fiona Apple, Conor Oberst e Alabama Shakes, decidiu deixar de fora quaisquer acordes estranhos que a artista tem o costume de adicionar, seguindo assim uma estrutura mais tradicional que, de acordo com a própria Marling, deixou seu som mais palatável do que nunca. A sonoridade alterna entre folk, country e blues, dificultando determinar seu gênero exato, o que fica evidente no principal single do disco, "Soothing", uma faixa sutil e suave, quase que um jazz que começa com um baixão grave antes dos vocais serenos de Marling entrarem. Na emocionada "The Valley", que fala sobre uma mulher ver outra sofrer e a sensação de desamparo disso tudo, a guitarra de Marling suaviza sobre um crescendo de cordas enquanto canta "Te amo pela manhã / te amo durante o dia / te amaria pela noite / se ao menos ela ficasse" [ I love you in the morning/I love you in the day/ I'd love you in the evening/ if only she would stay].

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Ela admite, porém, que isto é um trabalho e uma parte ruim de ser uma pessoa pública é a necessidade de definição, muitas vezes aos olhos de outros. Não que Marling viva na defensiva; por outro lado, ela é uma pessoa atenciosa, amigável e bastante humilde, ainda que ciente de sua posição. "Isto é o máximo [de divulgação] que já fiz para um disco porque preciso pagar minha banda e não rola mais tanta grana no meio musical", comentou. "Não estou reclamando, tenho sorte de estar onde estou, mas preciso vender um certo número de discos ou shows para ter uma carreira de verdade, é a realidade da época em que vivemos. Daí tenho que fazer algumas coisas meio chatas em termos promocionais em que tem gente perguntando coisas no automático, entende? E isso é de quebrar o coração, é dureza. Se alguém me fala algo como 'então me fala…' e daí seguem uma listinha pedindo pra falar de música tal e tal. Esperam que você queira se vender dessa forma."

Porém Marling nem precisa se vender assim porque ela se vendeu para seus ouvintes. No começo da semana, antes de nossa entrevista, ela tocou com sua banda no Rockwood Music Hall no Lower East Side de Manhattan em um show patrocinado pela WFUV, que irá ao ar em meados de março. O público, composto por umas 100 pessoas, se mostrou empolgado quando ela subiu ao palco, mas demonstrou respeito quando a música começou. Ao passo em que ela dominava o palco, assumia determinada postura, muitas vezes mirando nas luzes do palco, antes de tocar gentilmente as cordas de sua guitarra enquanto segurava firmemente seu braço. Seu público estava ali pelo clima de intimidade derivado das canções e filosofia de sua mente e voz. Marling, como A Imperatriz, sempre coloca seus sentimentos em primeiro lugar; intuitiva, emocional e proporcionadora de percepções, dando ao público calmamente aquilo que esperavam.

Sarah MacDonald é redatora do Noisey Canadá.  Siga-a no Twitter.

Tradução: Thiago "Índio" Silva