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Música

O gin e a Coronado tornaram-se nos meus melhores amigos

A última grande festa de 2012.

Fui ver a festa dos meninos da Coronado: pessoal da música alternativa artística, mas com pedais de distorção, a ver quem faz mais barulho. Eles são como o círculo de velhos que joga à sueca lá no bairro: mas que, em vez de se dedicarem à batota, fazem música. São todos muitos amigos, pelo menos na frente uns dos outros. Miúdos de subúrbio, que devem ter aprendido a tocar, porque não tinham mais nada para fazer. As vicissitudes de morarem em cidades-dormitório, portanto. Não é que eu possa falar mal disso: até sou de uma cidade entre Alverca e Bobadela. Só que joguei mais Playstation e essas coisas, por isso é que agora sou só “jornalista”. Encontrar o sítio da festa é que pareceu difícil. Lá conseguir chegar, mas o Ateneu estava encerrado. Até pensei que tivessem cancelado a festa. Mas não, a entrada era na parte lateral, tive de subir um degrau exageradamente grande e, depois de atravessar um ginásio do tamanho de um campo de basquetebol, lá cheguei ao Primeiro Andar. O espaço assemelhava-se mais a uma sala de estar (sobretudo para quem não leu bem a informação no evento do Facebook, e chegou perto das nove, quando o evento tinha hora de início agendada para as 11 horas). Estava tudo a jantar. O quê? Sei lá, coisas vegetarianas, assim verdes e laranjas. O campo de basquetebol transformou-se na sala de espera. Senti-me num recreio, só que o único gajo que se virou para mim disse: “Puto, orienta-me aí 50 cêntimos.” No fim de contas, esse gajo até era um amigo meu, outrora straight edge, mas já estava mais do que bebido. Viveu-se o intervalo escolar utópico: não havia betos nem mitras, podíamos fumar/ beber o que se quiséssemos, e durou horas. Já passava das onze quando, finalmente, começaram os concertos. Primeiro, foi Spellcrafter. Um rapaz a tocar umas músicas daquelas de abanar o capacete, todas electrónicas. Teve azar, o som estava tão baixo que a sessão mais soava àquelas pausas lúdicas entre concertos. Apesar disso, o sonoro era fixe, deixa lá! Havia duas salas: a que tinha o “palco Amílcar” e a outra, com o “palco André Cecílio”. Eram parecidas e lado a lado, mas lá actuariam bandas diferentes. Os retornados Suchi Rukara levaram toda a gente de Amílcar para André Cecílio. Ficou tudo maluco com o concerto. Abanámo-nos todos ao calhas, porque aquilo tem um ritmo caótico, diferente daquelas vibes da discoteca. As músicas continuam tão boas como eram quando eles as deixaram de gravar. Não se esqueçam de voltar. Depois, foi a vez do concerto metade-surpresa dos Adorno. Estava mesmo cheio, toda a gente estava pronta para ouvir a melhor banda portuguesa de emo-a-sério. Não desiludiu. Pessoal todo suado, muita gente a fazer crowdsurfing (ou a nadar por cima da multidão, em português) e música boa, daquela mesmo alta. A festa estava em fogo. Havia tanta gente, que as salas estavam a abarrotar. Com o passar das horas, as pessoas começaram a ficar mais simpáticas e, progressivamente, o ambiente foi melhorando. Resumindo: estávamos a ficar bêbados. A sede era tanta que o bar passou a ter três camadas de pessoa à espera de bebida. Até houve alguém, com os copos, que disse ao microfone no fim do concerto dos Adorno: “Pessoal, o próximo concerto é no Palco Amílcar. Quem não for ver é chunga.” Claro que essa pessoa fui eu. Depois foi a vez de RA e esta actuação foi um descanso para o corpo. Era como se uma banda de doom tocasse através de um vocoder. Ouviram-se sintetizadores com notas compridas. Senti que a sala tinha sido transportada para o centro de um vulcão. Numa noite de concertos em modelo rapidinha de elevador, não deu para ficar indiferente a nenhuma das bandas. Foi um cocktail de cenas boas, daquelas que não deixam um sabor azedo na boca. Os Lydia’s Sleep transformaram o mood deixado pelo RA, levando o mundo inteiro à reflexão humanística. Têm futuro, espero que não tenham de emigrar. Vá lá, pessoal. Isto é o século XXI, dá para fazer música com o computador. O Ricardo Martins foi o herói da noite. Se ele morresse, três das bandas desta festa não poderiam tocar: Suchi Rukara, Adorno e, por fim, os Cangarra. Estes últimos são um bocado o spin-off de Lobster, não é? Não que a música seja igualzinha, mas o conceito é parecido. Não estou a dizer que o Jersey Shore e o Geordie Shore sejam iguais, mas ambos acabam por ser sobre idiotas, não é? Um baterista e um guitarrista (ambos com distorção e a produzirem música espectacular) consumam algumas semelhanças, não é? Ou será da cerveja? Não estou a dizer que é mau. Pelo contrário: é bom. Não começas a pensar nestas, coisas quando bebes demais? Os Equations trouxeram, novamente, o peso.  É, tipo, rock matemático com voz em falsete, mas não tem nada a ver com os Bee Gees. O calor era tanto que, por esta altura, já estava tudo semi-nu. Não tenho nada contra isso. Ah! Os miúdos da Maia também tocaram uma música com a Carolina Torres (que toda a gente estava a fingir que não conhecia da televisão). Finalmente, alguém que sabe mesmo cantar. Na brinca, pessoal que canta nestas bandas, vocês também sabem! O menino Jibóia hipnotizou a noite. Noite esta que se estava a aproximar do fim. Tudo porque alguém achou que, por lhe oferecerem gin e tequila, seria agradável beber o referido líquido como se de cerveja se tratasse. Esse alguém chama-se Pedro Paulos (sim, o gajo que está a escrever isto). Não foi muito boa ideia. Podes ser uma pessoa muito divertida, mas se não te lembrares dos acontecimentos, não podes ter aquela nostalgia da “melhor festa de sempre”. A amnésia tomou conta do meu corpo, e quando dei por isso, estava a acordar. Pelo menos, foi na minha cama, e estava vivo. A festa da Coronado foi inesquecível, nas partes de que me consigo recordar. Soube a passagem de ano adiantada. Teve música boa, pessoas fixes e uma ressaca brutal no dia seguinte. Cheguei ao final da noite assim. Muito divertido. Ah. Desculpem, não me lembro se vi SAUR. Mas ouvi dizer que foi demais. Fotografia por Camila Vale