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Música

Histórias aos pares SWR: tripas, sangue e o Commando Xuxu

Vaginal G. Warrior das Commando Xuxu e o Iconoclasta Gamão apresentam-nos as suas histórias.

Estamos no ano 2013 depois de Cristo. Toda a Lusitânia está ocupada pela malta da pop, da pimba e da latinada…Toda? Não! Uma vila habitada por irredutíveis metaleiros resiste ainda (e sempre!) ao invasor. É desta pequena vila do norte de Portugal, de gente que faz da cerveja a sua poção mágica, de gente que nem medo tem de que o céu lhes caia em cima. É desta pequena vila que surgem as aventuras abaixo descritas. Nas Histórias aos pares SWR, convidamos duas personalidades do universo do metal por semana (até à data do festival) a partilharem as suas melhores histórias do SWR – Barroselas Metal Fest, que este ano se realizará entre 24 e 27 de Abril, no sítio do costume. Para esta semana, temos uma breve história sobre o nascimento e apogeu das Commando Xuxu, e um prato típico do Minho: tripas à moda de Raboselas. Desfrutem.

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VAGINAL G. WARRIOR

(Generala das Grindcore Xuxu Commando Attack)

Foi em Dezembro de 2006, numa noite de Lua Cheia, que se consolidou o vosso pior pesadelo dos concertos daqui e dacolá. Não foram os astros que se alinharam para dar nascimento a esta memorável equipa. Nada disso, foi a vontade de festa, o undergrind e o rot’n’roll que fizeram todos os ingredientes entrar em fermentação. Naquela época (oh pá, já estamos todos um bocado velhotes), parecia que a irmandade galaico-lusitana regressava aos seus inícios. A Galiza estava quase morta no que diz respeito a demonstrações públicas de ruído extremo e, apesar de haver muito trabalho encoberto, ficava-se pelas salas de ensaio. Não fosse o movimento que havia no país ali abaixo e estaríamos podres.

Tudo o que a Tugalândia nos proporcionou nessa altura não tem preço: o bagaço, o SWR, a bifana, o caldo verde e, de grande importância, o fórum Metal Underground. Este espaço dirigido por gente como nós — aqueles que ninguém queria ver na rua, os que eram barrados na igreja aos domingos, os que poderiam passar horas ao computador a dizer asneiras sobre o

tape trading

dos 80’s — fez com que se tornassem de ferro as correntes que nos ligavam, e o SWR foi o espaço físico que nos permitiu o contacto cara-a-cara.

Grindcore Xuxu Commando Attack.

O amor ia crescendo e o tráfico internacional de bagaço por licor café foi primordial no casamento. Foi assim que a cidade da Guarda nos viu nascer: um grupo de quatro gajas (50 por cento galegas, 50 por cento portuguesas) que decidiu fazer um pacto de sangue (e de restantes fluídos) para espalhar o terror onde quer que fosse. A Generala Chainsaw Maniac, a Generala Vaginal Grinder, a Cinderfuckingrella e a Claudia Exorsister estabeleceram aí o manifesto do Grindcore Xuxu Commando Attack, vulgarmente conhecido como COMMANDO XUXU.

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Machowomen

assumidas, activas na cena anti-musical e sempre sob o nosso grito de guerra “LORÓ LORÓ LÓ LÓ”, fundámos um tipo de actividade que poderia ser definida como “cheerleader meets hooligans". Isto originou um híbrido nunca antes visto pelo olho humano: as hooligrinders. E, sem dúvida, o SWR Barroselas Metalfest era uma reunião anual obrigatória, não só para a comunidade metálica, mas também para os freaks mais autênticos (gajo da bola, homem-árvore…).

Também funcionou para melhorar as nossas técnicas de ataque ruidoso e para começar as nossas pequenas batalhas no mosh, lançando como catapultas o nosso exército para a secção crowdsurfer. O Commando XUXU, querido por fãs da boa festa, foi igualmente odiado pelos mais trves e pelos que não conseguiam entrar na turma das xuxus. Desde então, declarámos guerra a todos os haters, não esquecendo aquele que não conseguiu aguentar as bolas de sabão da Claudia Exorsister no concerto de Inquisition no SWR: as nossas armas são mais poderosas do que as vossas.

Commando Xuxu numa das suas investidas aos palcos.

Hoje em dia, o GXCA viu a sua actividade pública reduzir-se. Os membros do Commando estão espalhados pela Europa a travar as suas próprias guerras, mas vocês já sabem que o Commando Xuxu não está na igreja, está nos nossos corações (ou esse era Cristo?). De certeza que vão encontrar Deus (deve andar pelo castelo que vende ginja).

Aparecemos sempre quando nos chamam três vezes depois da meia-noite. Hasta la vomitória siempre!

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GAMÃO

(ex-produtor executivo UseLess Poorductions; vocalista de Traumático Desmame e de Putnam Was The Bastard; iconoclasta em EYE8SOCCER; anti-psiquiatra do DSM666)

Desde 2004, falhei duas vezes o Steel Warriors Rebellion Metal Fest! Porquê? Não sei, mas arrependi-me! Para escrever esta crónica sobre o festival de Raboselas, vi-me obrigado a pesquisar fotografias antigas. De pouco me lembro mas parece que fui feliz, rodeado de amigos e de notas de rodapé da história do metal internacional. Estórias há muitas.

Estávamos em 2006, período áureo do Myspace, onde se combinou homenagem aos Gut. Ficámos tão entusiasmados com a vinda dos reis do grind gore alemão que resolvemos cozinhar para eles. À chegada, a tranquilidade habitual no acampamento: o Nocturnus Horrendus (Morte Incandescente) e o Boy-G (Fetal Incest) já dormiam ao relento, por entre as tendas, e em posição fetal conforme lhes permitia o vinho do garrafão. Entre petiscos e ganzas, lá se prepararam as famosas tripas à moda de Raboselas, com a preciosa colaboração de uma luxuosa equipa: Goregasm, Cirrose, Daídi, Galamba, Fuminhos e o já mítico Homem-Bola.

Um dos colaboradores, preparando as tripas à moda de Raboselas.

Com a refeição preparada, resolvemos dar um pulo ao bar dos concertos e tivemos o prazer de conhecer pessoalmente os membros dos lendários Gut. Entre abraços e cervejas, lá cantámos “The Taboo Room” ou a “Embalmed in Pig Sperm”. Admirados com fãs tão dedicados, H.B. Bonah e Bukkake Boy pediram-nos um pouco de vinho tinto, para fazer uma brincadeira em palco. Com um sorriso, respondemos que teriam vinho que chegasse para o espectáculo.

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Membros da história anterior também participam neste vídeo.

O festival ia excelente com os estónios LOITS a darem um fenomenal concerto de flak’n’roll, bem regado com absinto checo. Já com os Gut a tocarem o incompreendido “Anal Tambourine”, os cozinheiros pousaram a panela no palco. Pouco depois, soava o riff inaugural de “Cripple Bitch”, musiquinha tão popular junto da comunidade hipster, graças à versão dos Feia Medronho. Era o sinal que todos esperavam! Caos e confusão! Deu-se a invasão de palco: punks embriagados, groupies engessadas, cirurgiões desalmados e posers curiosos trataram de espalhar as tripas à moda de Raboselas sobre o tronco desnudado de Bukkake Boy. Inesquecível!

Dois festivaleiros deleitando-se com os restos após o fim do concerto.

Reza a lenda que o sangue dos fãs foi tanto que danificou irremediavelmente um dos amplificadores do palco. O guitarrista Pumpgun Messiah também perdeu a sua valiosa máscara nessa noite e ainda hoje oferece recompensas por ela em fóruns online. Enfim, um episódio digno duma vinheta do Marcos Farrajota na sua na sua série “Não Estavas Lá”. Quem não estava, estivesse! O resto é história!