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Música

O que Dimitri Vegas & Like Mike querem provar ao discotecar em vinil?

Talvez o EDM e a cultura vinil tenham se juntado e se tornado um monstro mutante assustador.

Caso você não conheça, Dimitri Vegas & Like Mike são dois DJs belgas que foram acusados de trapacear para chegar ao número um do top 100 DJs da DJ Mag em 2015, e usam produtores fantasma para criar seus hits. Apesar de não ter passado despercebida a ironia de seu lugar no top 100, apesar de sua relativa obscuridade, eles ainda têm sido responsáveis por produzir todos os hinos oficiais do Tomorrowland desde 2010. A dupla também tem dois hits número um em seu país natal, "The Hum" (com Ummet Ozcan) e "Higher Place" (com Ne-Yo).

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Mesmo com esse histórico, a dupla de EDM Dimitri Vegas & Like Mike tentaram recentemente provar sua autenticidade com uma tática um tanto quanto bizarra: tocar 11 minutos de um set "100% Oldskool Vinyl" durante um show desses de estádio absolutamente lotado na Bélgica.

Por volta das 1:10:00.

O feito aconteceu entre 17 a 19 de dezembro de 2015, durante as três noites do evento lotado chamado "Bringing The Madness 3.0", na arena Sportpaleis na Antuérpia, que também apresentou convidados especiais como Ne-Yo, Afrojack e Armin Van Buuren. A apresentação de duas horas e meia do grupo — cujo o vídeo no YouTube tem até aqui mais de um milhão de views — em sua maioria consiste de hinos EDM pop previsíveis, incluindo dois de seus hits número um na Bélgica, "The Hum" e "Higher Place", assim como mixes de Kanye West, Drake, Bieber e inevitavelmente, um acapella de "Smells Like Teen Spirit".

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Acontece que depois de cerca de uma hora de apresentação, os caras deixaram seus CDJs de lado e os substituiram por três turntables. Na verdade, parece que Dimitri Vegas foi o único a tocar vinil de verdade — em meio à arena lotada de fãs socando o ar, ele tranquilamente soltou vários hinos clássicos da Euro rave dos anos 90 que décadas atrás servia de trilha sonora para eventos parecidos, como "Drop That Beat" o hit de 1998 de Ixxel, o clássico hardstyle de 1996 de Dem Rats "Now This", e o feroz "Hell-E-Copter" de Marc Acardipane — ocasionalmente fazendo uma pausa para as típicas poses de DJ. Enquanto isso, seu parceiro, Like Mike, pulava por aí fazendo cena, tirando selfies com fãs enlouquecidos, batendo palma e jogando vodka em suas goelas como se estivesse em uma área VIP.

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O que significa quando dois DJs personificam tudo o que há de errado com a cultura dance mainstream — e alcançaram certo nível de fama com ajuda de truques de marketing e esquemas pagos ao invés de trabalho duro e talento — recorrem ao vinil para tentar ganhar alguma credibilidade? A DJ Mag sugeriu que o feito poderia ser descrito como um "antídoto para as acusações de 'só apertar play' que muitos artistas do EDM sofrem".

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Mas nós suspeitamos que o truque vá mais longe — afinal de contas, o vídeo da apresentação no YouTube é apresentado pelo Tomorrowland, o mesmo festival no qual, em julho de 2014, o time dos DJs supostamente pagou mulheres para perambularem com iPads, pedindo para que o público do festival votasse "espontâneamente" na pesquisa da DJ Mag. Logo, todos que concordassem em votar eram apresentados a uma página, num iPad, na qual eles podiam votar diretamente em Dimitri Vegas & Like Mike. Com isso em mente, existe uma boa chance que esse set só de vinil tenha sido apenas mais uma "inteligente" jogada de marketing da dupla.

Em uma escala maior, talvez o EDM e a cultura vinil tenham se juntado e se tornado um monstro mutante assustador, com a arte de tocar discos tendo sido substituída pelo espetáculo raso e explícito. Enquanto exploramos em uma matéria recente o crescimento do vinil, o colecionismo de discos chegou em um nível sem precedentes na aceitação mainstream, quando todo mundo — da Urban Outfitters a Amazon — ganham com o "fator cool" da mídia. Se o último truque de Dimitri Vegas & Like Mike for algo a ser levado em conta, o que antes era tomado como um símbolo de legitimidade está se tornando outra coisa sob luzes ofuscantes da dance music comercial.

Tradução: Pedro Moreira

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