GTA XX é a série especial da VICE Brasil, com entrevistas e análises exclusivas, que celebra os 20 anos da franquia que mudou tudo nos games.
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Difícil pensar em uma série que evoluiu tanto com a história dos games quanto Grand Theft Auto. Desde quando o primeiro jogo foi lançado em outubro de 1997, os games da série acompanharam – senão diretamente causaram – as grandes mudanças na indústria, redefinindo várias vezes o que entendemos sobre videogame há 20 anos.
A série até agora só vendeu menos que Mario, Pokémon e Tetris, o que diz muito sobre o quão longe foi um game sobre roubo de carros, atropelamentos, tretas de gangue e sexo constrangedor. GTA tem partes iguais de crueldade e humor, conseguindo ser ao mesmo tempo uma paródia cínica do sonho americano e uma ponte que liga o mundo dos games com o mundo da cultura pop – da TV, dos filmes e da música mainstream.
Quando os irmãos Dan e Sam Houser, da BMG Interactive, receberam a missão de lançar um novo departamento de games na distribuidora de música, eventualmente eles bateram na porta do estúdio escocês DMA Design, que mostraram um protótipo do jogo que ainda se chamava Race’n’Chase e tinha o mesmo formato do primeiro GTA que conhecemos, mas com um visual bem fácil de encontrar na seção de jogos indies minimalistas atuais do Steam.
O primeiro jogo, Grand Theft Auto, já vendeu quase 200 milhões de cópias desde quando foi lançado em 1997. O sucesso era tanto e o escândalo em torno da sua violência também que o game foi até proibido no Brasil – tecnicamente, a proibição da comercialização do jogo original continua de pé. O jogo teve dois pacotes de expansão (os primeiros jamais lançados pro primeiro PlayStation), “London 1969” e “London 1961”, que contavam com missões que se passavam num cenário londrino com carros e prédios típicos da época.
GTA 2 expandia todas as boas ideias do primeiro jogo e afundava ainda mais o pé na cultura de rua e de séries policiais. O maior exemplo disso é a cafoníssima abertura live-action do game, uma versão ainda mais tosca dos filmes de ação policial trash dos anos 80 que a série de uma forma ou de outra homenageia. A intro de 90 segundos é uma versão cortada de GTA 2: The Movie, um curta de oito minutos produzida por Sam e escrita por Dan Houser. Se você acha que os 90 segundos dão muita vergonha alheia, não vai acreditar no poder de vexame do curta completo.
O acordo com a BMG Interactive e a DMA Design foi pro saco depois de uma série de compras e vendas das empresas e os direitos do jogo ficaram para a nova empresa dos irmãos Hauser, a Rockstar Games, que por sua vez, assinou um contrato de distribuição com a TakeTwo. Foi depois desse momento de reorganização que a série realmente saiu do casulo.
Em 2001, GTA III redefiniu a visão estética da série, que persiste até agora, buscando um realismo 3D cujo ponto de perfeição é quase eternamente inalcançável. Dias antes do lançamento do jogo, os ataques de 11 de setembro rolaram, colocando a Rockstar em alerta. A empresa adiou o lançamento em algumas semanas e removeu algumas coisas que poderiam pegar mal na época, como missões que envolviam carros bomba e aviões, e também as texturas das viaturas policiais, que eram muito parecidas com a da polícia de Nova York.
GTA San Andreas foi a grande virada cinematográfica da série em 2005, focando em narrativa e na história do carismático protagonista Carl “CJ” Johnson, um dos personagens mais memoráveis da série. San Andreas também foi marcado pelo caso confuso do Hot Coffee, um conteúdo escondido no meio do código do jogo que foi descoberto por um modder holandês. A cena descoberta no mod “Hot Coffee” mostra o protagonista fazendo sexo explícito em que rolava um tipo de mini-game. O conteúdo ainda estava com aquela cara de versão inacabada, com péssimas texturas e animação, mas deu ruim o suficiente para o governo americano pedir uma investigação dentro da TaleTwo.
Na sequência, saiu o primeiro jogo da série feito em resolução HD, GTA IV, que tinha uma narrativa ainda mais imersiva e única pra série – especialmente porque, ao contrário dos outros games, esse jogo tinha um tom de “o crime não compensa” no final. Seu grande momento veio depois do lançamento de uma versão pro PC, um reino mágico povoado de mods incrivelmente criativos que se aproveitavam na natureza de sandbox em uma boa definição de GTA IV. Os mods já existiam desde o primeiro GTA, mas foi só no quarto título principal em que se tornaram muito populares.
GTA V é o jogo mais atual da série, e também o mais importante para o público brasileiro, porque foi o primeiro game oficialmente localizado em português, trazendo expressões extremamente precisas como “Se fodeu!” no lugar do tradicional “Wasted!”, que aparece quando o jogador morre desde o primeiro Grand Theft Auto.
Agora, GTA entrou em uma nova fase de expansão. Apesar de “London 1961” ser o primeiro GTA com partidas multiplayer mata-mata no PC, foi só com o recente GTA Online que a série descobriu um enorme sucesso no multiplayer online em várias plataformas. GTA Online é um fenômeno, gerando inúmeras comunidades e dando uma sensação inédita de universo realista e contínuo à série.
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É por essas e mais razões incríveis que criamos a série GTA XX.
Até o fim de outubro, vamos contar histórias inéditas sobre a enorme cultura que gira em torno de Grand Theft Auto, que falam sobre desde o artista mais importante dos modders brasileiros, até a enorme influência que as trilhas sonoras dos jogos tiveram nos artistas, as imagens incríveis feitas por um fotógrafo especializado em GTA, um panorama sobre o interesse dos acadêmicos brasileiros pelos games da série e por que GTA falha miseravelmente com a representação das mulheres.
Tudo isso para celebrar os 20 anos da franquia mais influente dos videogames modernos.