FYI.

This story is over 5 years old.

Saúde

Passei um ciclo menstrual sem absorvente e não foi um desastre

Descobri até umas técnicas pra não manchar meu sofá ou colchão.
Foto por Jackie Dives.

Descobri sobre menstruação livre (do inglês "free bleeding") quando a ex-baterista da M.I.A Kiran Gandhi correu uma maratona menstruada sem usar nenhum produto para menstruação. Achei legal combater a vergonha e não deixar um pouco de sangue atrapalhar sua corrida. Também fiquei me sentindo melhor sobre a vez que acidentalmente menstruei na minha calça de ginástica quando tinha 13 anos, que é praticamente a pior coisa que pode acontecer naquela idade.

Publicidade

Isso também me fez querer ser mais aberta sobre minha menstruação. Quando conheço um cara que se mostra visivelmente desconfortável em lidar com o assunto, geralmente quero falar sobre inchaço, cólicas e as questões digestivas estranhas que nos acometem todo mês. Como lésbica, creio que isso seja um serviço importante para minhas irmãs heterossexuais. Nunca fiquei com nojo da menstruação de outras pessoas, durante o sexo ou não, e acho que o mundo seria um lugar mais saudável se mais pessoas pensassem assim.

Então, posso dizer que vi no conceito de menstruação livre um belo foda-se para o patriarcado, mas não pensava nisso como uma escolha real de estilo de vida. Sei que existem muitas mulheres por aí que abdicam totalmente de absorventes, copos menstruais, calcinhas menstruais e outros produtos para coletar sangue. Mas eu achava que não era algo pra mim; isso até alguns meses atrás, quando comecei a sair com alguém que era uma menstruada livre na época.

Foi aí que minha visão mudou completamente.

Desde então, conheci outras pessoas que aderiram à prática por várias razões, que vão de reduzir lixo a estar mais em contato com o próprio corpo. Como alguém que às vezes tem problemas para entregar o controle, parecia algo que eu deveria tentar. Quer dizer, será que era tão ruim assim?

Pensando agora, é difícil lembrar qual era meu maior medo. Acho que provavelmente era manchar meu sofá e ter pessoas aleatórias reparando que eu não estava usando nenhum produto feminino. O cheiro não me preocupava muito, o que é estranho considerando que tenho um olfato muito desenvolvido (além de um reflexo de vômito foda) e além disso, eu tinha visto em primeira mão como menstruação pode fazer sujeira (e sim, às vezes ser fedida).

Publicidade

DIA UM

Vamos deixar as coisas claras, menstruar livremente faz bagunça e a primeira coisa que você precisa fazer é aceitar isso. Passei metade do meu primeiro dia de menstruação livre sentada numa toalha assistindo Buffy, a Caça-Vampiros. E não qualquer Buffy, a sexta temporada de Buffy. A Buffy mais triste, deprimente e às vezes problemática. Um ótimo conselho que me deram foi beber muita água. Isso garante visitas mais frequentes ao banheiro, onde você pode checar sua situação. Então bebi muito líquido e fiz xixi de 30 em 30 minutos.

Incrivelmente, não sangrei na minha calcinha nenhuma vez no primeiro dia. Também experimentei muito menos desconforto. Geralmente tenho cólicas fortes quando menstruo. Tudo dói, incluindo meu cu. Se não tomo um remédio forte antes das cólicas começarem, fico sem condições de fazer nada pela maior parte do dia. Sem brincadeira, já tive que sair do trabalho por causa disso.

Estranhamente, minhas cólicas foram mais fracas enquanto eu menstruava livremente. Não tenho evidência empírica para provar que foi porque eu estava menstruando livremente, mas gostei de não ter que tomar remédio.

Naquela noite eu tinha combinado de encontrar uma amiga num bar para um evento. Esse seria o primeiro teste real do meu nervosismo enquanto tentava não sangrar nos assentos públicos. Quando eu pensava no pior que podia acontecer – um estranho apontando uma mancha de sangue? Foda-se! – eu sentia uma estranha segurança de que conseguiria lidar com isso. Coloquei um shorts preto e parti.

Publicidade

Felizmente, o lugar tinha bancos de couro preto, então me senti segura no caso do truque “beber muita água para fazer xixi constantemente” não funcionasse. Troquei para cerveja e relaxei. Não tive problemas, exceto uma mancha pequena na calcinha. Minha amiga, claro, foi lá e contou pra todo mundo que eu estava fazendo menstruação livre, e ninguém se mostrou abertamente com nojo. Até fui paquerada.

Dormir menstruando livremente era uma preocupação. Uma coisa é lavar uma calcinha, outra era ter que lavar meus lençóis ou talvez manchar o colchão. Não vou mentir, optei dormir em cima de uma toalha para garantir. O que, para minha surpresa, não foi necessário. Como bônus, não tive que ficar estressada em acordar de madrugada para trocar o absorvente interno e não ter um choque tóxico. Sim, isso é uma coisa que me deixa muito estressada, apesar de o risco ser baixo.

DIA DOIS

O segundo dia geralmente é o de fluxo mais intenso. Resolvi ter um dia bem cheio, porque esse era o objetivo do experimento. Até aquele ponto, minha menstruação livre tinha sido muito fácil porque eu tinha acesso rápido ao banheiro. Então decidi fazer uma aula de ioga. Novamente, coloquei uma calça preta e parti para o estúdio.

Logo descobri que é impossível não sangrar enquanto você faz planking. Essa provavelmente foi a descoberta mais interessante. Toda garota sabe que espirrar e tossir rende uma onda de sangue quando você está menstruada. Mas dessa vez eu sabia toda vez que isso estava acontecendo.

Publicidade

Me senti meio iluminada sabendo exatamente quando estava e não estava sangrando. Isso realmente me fez sentir em contato com o meu corpo, mesmo tendo certeza que estava sangrando na minha calça de ioga logo antes de pedirem a pose do bebê feliz. Até onde notei, ninguém ficou ofendido. Não vi nenhuma marca no colchonete quando limpei com álcool no final.

Convencida de que eu devia estar coberta de sangue, decidi não correr pra casa depois da ioga. Optei por saborear o momento. Até passei para pegar uma pizza no caminho pra casa. Sério, quem era essa pessoa? Se você quer se sentir livre, aconselho experimentar um dia. Estar pouco se fodendo é a melhor sensação. Quando finalmente cheguei em casa para ver o resultado do massacre na minha calça, descobri que não era nem de perto o estrago que eu esperava.

Naquela noite, fui de bicicleta para o cinema e me sentei por quase duas horas para assistir o incrível Sorry to Bother You. Troquei de calcinha e calça antes de sair porque, bom, você também não vai querer ser escrota. E eu não ia ficar saindo a cada 30 minutos da sala para fazer xixi, então não tomei água. E deu tudo certo! Mais ou menos, né, porque sangrei em outra calcinha e manchei um pouco o lado de dentro do meu jeans preto. (Nenhum assento de cinema foi danificado, juro.)

Naquela noite, nem dormi em cima de uma toalha.

DIA TRÊS

Toda a minha confiança recém-descoberta sobre menstruação desabou de repente quando percebi que ainda estava menstruando na manhã seguinte. Era meu primeiro dia num emprego novo e eu queria usar meu jeans preto mais legal, mas ele ainda estava sujo de sangue. Eu não queria usar um absorvente interno, mas honestamente, também não queria sangrar na minha calça social cinza. Então optei por usar um protetor diário de calcinha.

Estranhamente, minha menstruação foi quase inexistente no terceiro dia. E percebi que eu podia nem ter usado nada se continuasse bebendo bastante água para mijar a cada 30 minutos. Comecei a achar que muitos dos meus hábitos de menstruação eram exagerados, e tinham mais a ver com imaginar o pior cenário possível do que com a quantidade real de sangue que meu corpo produz.

Publicidade

Mas então, eu faria isso de novo? Provavelmente não pela menstruação inteira, mas com certeza não vou mais dormir com um absorvente interno, só um protetor de calcinha mesmo. E antes que você me pergunte por que não uso copo menstrual, já tentei e não deu certo pra mim. Doía muito pra colocar.

Vou usar absorvente interno quanto estiver planejando sair à noite ou assistir um filme no cinema, ou no trabalho, ou quando estiver sentada no sofá de amigos. Mas desde que comecei esse experimento, reduzi meu uso de absorvente em quase dois terços.

Apesar de ainda usar absorvente durante os dias de maior fluxo, acho que esse foi um bom exercício para ver que você não precisa usar absorvente o tempo todo. E se algum acidente acontecer, sinceramente, foda-se.

Matéria originalmente publicada pela VICE Canadá.

Siga a Aurora Tejeida no Twitter.

Siga a VICE Brasil no Facebook, Twitter, Instagram e YouTube.