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Opinião

PCP. A comer gelados com a testa desde 2015

A propósito da precariedade no mundo laboral, o Partido Comunista Português postou um vídeo em que compara António Costa a um conhecido mafioso do cinema. Ao mesmo tempo, continua a suportar o Governo. Ridículo.
Da esquerda à direita, não há quem resista a um ice cream generoso na época veraneante. Foto por Mark Cruz no Unsplash.

O Verão está a rolar e quando pensamos que a política portuguesa nos iria deixar em paz e de férias, eis que há sempre alguém que faz questão de subir a fasquia da tolice. Como se o mundo adorasse ver fulano a comer gelados com a testa, ou a fazer figura de idiota útil sem cair em graça e sem ser engraçado.

Desde que, a par dos Bloquistas, sustentou o poder socialista, o PCP tem contribuído para danificar a sua própria sanidade mental. O vídeo lançado no Facebook dos comunistas na sexta-feira, 6 de Julho, onde compara António Costa ao mafioso Don Vito Corleone (ver vídeo abaixo) - no intemporal filme O Padrinho -, é revelador do non sense que tem marcado a agenda liderada por Jerónimo de Sousa desde 2015.

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De forma explícita, o PCP cola o mandato rosa ao patronato (e à dupla Rio/Cristas) e, por inerência, responsabiliza-os pela horrível condição de muitos trabalhadores - com destaque para uma praga nacional chamada precariedade. Com ou sem a razão do seu lado (deixamos essa avaliação para a opinião competente dos "Eixos" do quotidiano televisivo), o que não se entende é que, ao mesmo tempo, mantenha o apoio ao actual Executivo - repleto de "Socráticos", diga-se.

Pior é quando têm os olhos bem fechados, os ouvidos com montanhas de cera e a boquinha tapadinha que nem o zip das calças, em situações em que reconhecidamente Costa & Companhia têm falhado (vá lá que ainda não têm aparecido grandes incêndios este ano…). É irritante que de segunda a quinta dão o aval às suas directrizes, mas de sexta a domingo voltam a incorporar o "espírito do contra".

Com tanta curva e contracurva, não choca que tenham perdido algumas Câmaras históricas para os socialistas o ano passado. Entre a fotocópia mal tirada e o original pouco fiável, a segunda opção ganha vantagem. Aproveitando a boleia da Operação Tutti-Frutti, onde há alegadamente estranhos ajustes directos, jobs for the boys e financiamento partidário com dinheiros públicos envolvendo dirigentes do PSD e PS, não é de menosprezar que o mesmo se possa ter passado nas autarquias comunas (deseja-se que o clássico "olhe que não, olhe que não" seja uma realidade).

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Normalmente, perpetuar-se num lugar é dar azo a manobras pouco transparentes. Em países onde a ética profissional é tratada de forma infantil, isso é uma evidência. Veja-se este exemplo entre portas. Quando temos um primeiro-ministro que envia um amigo do peito para falar em nome do Estado, sem que o mesmo ocupe uma posição oficial na mesa das negociações - lembras-te do caso Lacerda Machado com a TAP? -, o nível de exigência é angustiante e bastante questionável.

"Esquizofrenia parlamentar" à espera do Orçamento de Estado

Tal como a personagem de Tony Soprano, muitos políticos da nossa praça precisavam de se deitar no divã de Jennifer Melfi. (Foto série "The Sopranos"/Cortesia HBO)

A esquizofrenia parece ter tomado de assalto o Parlamento. De um lado, o PSD e o CDS fazem pela vida. Os primeiros, a manifestarem que estão ali para fazer o contrário de tudo o que Rui Rio pretende, pois estão em risco de serem trocados nas próximas Legislativas e até lá era bom que o líder caísse; e os segundos tentam escapar pelos intervalos da chuva à cumplicidade dada a muitas medidas do Centrão que tem afundado o país em dívidas (no vídeo abaixo, Freitas do Amaral, antigo Ministro dos Negócios Estrangeiros num governo PS, explica um dos gastos fúteis com o erário público).

Do outro lado da "trincheira", o BE e a CDU atingem os píncaros da incoerência. Ao criticarem e, de seguida, acenarem com um ok às decisões do Governo, parecem andar inspirados na estória de Dr. Jekyll and Mr. Hyde.

Sendo o grupo parlamentar rosa mansinho (como qualquer partido no poder), salva-se o PAN. Este new kid on the block bem tenta excomungar algumas tradições patetas - caso das touradas -, mas é difícil conseguir dar um passo efectivo em determinadas matérias com apenas um deputado e muito cinismo de boa parte do hemiciclo.

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Antes das 3561 selfies, de um desmaio solarengo, da homenagem a Zé Pedro no Rock in Rio, dos sound bites junto de Trump e do aconchego à Selecção na flash interview (Ufa! Só de escrever já ficamos cansados), Marcelo admitiu que haveria eleições antecipadas caso o Orçamento de Estado para 2019 seja chumbado daqui a uns meses. Apesar dos partidos à esquerda ameaçarem com o recuo na Geringonça, não se prevê que, chegado o momento da aprovação, neguem a passadeira aos senhores e às senhoras do Largo do Rato. Por terem receio de ficarem com o ónus de uma eventual crise política e, sobretudo, por não terem a certeza quais os danos que possam sofrer eleitoralmente.

Voltando ao clip facebokiano postado pelo PCP, há uma pergunta à espera de resposta. Se os comunistas acham que Costa norteia o seu mandato como se de um mafioso se tratasse - na citada pasta laboral -, quem serão eles ao pactuarem com mais um Orçamento de Estado socialista? Enquanto pensas noutra personagem cinematográfica, era bom que o partido de Álvaro Cunhal voltasse a comer gelados de forma adequada.

Nota final - Nos últimos dias, muito se falou de Madonna, dos seus 15 automóveis e do alegado benefício que lhe terá sido dado pela edilidade lisboeta para estacionar os ditos cujos. Depois de ouvir o comentário elucidativo e engraçado de Ricardo Araújo Pereira (ver abaixo), pouco mais há a acrescentar.


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