O Verão está a rolar e quando pensamos que a política portuguesa nos iria deixar em paz e de férias, eis que há sempre alguém que faz questão de subir a fasquia da tolice. Como se o mundo adorasse ver fulano a comer gelados com a testa, ou a fazer figura de idiota útil sem cair em graça e sem ser engraçado.Desde que, a par dos Bloquistas, sustentou o poder socialista, o PCP tem contribuído para danificar a sua própria sanidade mental. O vídeo lançado no Facebook dos comunistas na sexta-feira, 6 de Julho, onde compara António Costa ao mafioso Don Vito Corleone (ver vídeo abaixo) - no intemporal filme O Padrinho -, é revelador do non sense que tem marcado a agenda liderada por Jerónimo de Sousa desde 2015.De forma explícita, o PCP cola o mandato rosa ao patronato (e à dupla Rio/Cristas) e, por inerência, responsabiliza-os pela horrível condição de muitos trabalhadores - com destaque para uma praga nacional chamada precariedade. Com ou sem a razão do seu lado (deixamos essa avaliação para a opinião competente dos "Eixos" do quotidiano televisivo), o que não se entende é que, ao mesmo tempo, mantenha o apoio ao actual Executivo - repleto de "Socráticos", diga-se.Pior é quando têm os olhos bem fechados, os ouvidos com montanhas de cera e a boquinha tapadinha que nem o zip das calças, em situações em que reconhecidamente Costa & Companhia têm falhado (vá lá que ainda não têm aparecido grandes incêndios este ano…). É irritante que de segunda a quinta dão o aval às suas directrizes, mas de sexta a domingo voltam a incorporar o "espírito do contra".Com tanta curva e contracurva, não choca que tenham perdido algumas Câmaras históricas para os socialistas o ano passado. Entre a fotocópia mal tirada e o original pouco fiável, a segunda opção ganha vantagem. Aproveitando a boleia da Operação Tutti-Frutti, onde há alegadamente estranhos ajustes directos, jobs for the boys e financiamento partidário com dinheiros públicos envolvendo dirigentes do PSD e PS, não é de menosprezar que o mesmo se possa ter passado nas autarquias comunas (deseja-se que o clássico "olhe que não, olhe que não" seja uma realidade).Normalmente, perpetuar-se num lugar é dar azo a manobras pouco transparentes. Em países onde a ética profissional é tratada de forma infantil, isso é uma evidência. Veja-se este exemplo entre portas. Quando temos um primeiro-ministro que envia um amigo do peito para falar em nome do Estado, sem que o mesmo ocupe uma posição oficial na mesa das negociações - lembras-te do caso Lacerda Machado com a TAP? -, o nível de exigência é angustiante e bastante questionável.A esquizofrenia parece ter tomado de assalto o Parlamento. De um lado, o PSD e o CDS fazem pela vida. Os primeiros, a manifestarem que estão ali para fazer o contrário de tudo o que Rui Rio pretende, pois estão em risco de serem trocados nas próximas Legislativas e até lá era bom que o líder caísse; e os segundos tentam escapar pelos intervalos da chuva à cumplicidade dada a muitas medidas do Centrão que tem afundado o país em dívidas (no vídeo abaixo, Freitas do Amaral, antigo Ministro dos Negócios Estrangeiros num governo PS, explica um dos gastos fúteis com o erário público).Do outro lado da "trincheira", o BE e a CDU atingem os píncaros da incoerência. Ao criticarem e, de seguida, acenarem com um ok às decisões do Governo, parecem andar inspirados na estória de Dr. Jekyll and Mr. Hyde.Sendo o grupo parlamentar rosa mansinho (como qualquer partido no poder), salva-se o PAN. Este new kid on the block bem tenta excomungar algumas tradições patetas - caso das touradas -, mas é difícil conseguir dar um passo efectivo em determinadas matérias com apenas um deputado e muito cinismo de boa parte do hemiciclo.Antes das 3561 selfies, de um desmaio solarengo, da homenagem a Zé Pedro no Rock in Rio, dos sound bites junto de Trump e do aconchego à Selecção na flash interview (Ufa! Só de escrever já ficamos cansados), Marcelo admitiu que haveria eleições antecipadas caso o Orçamento de Estado para 2019 seja chumbado daqui a uns meses. Apesar dos partidos à esquerda ameaçarem com o recuo na Geringonça, não se prevê que, chegado o momento da aprovação, neguem a passadeira aos senhores e às senhoras do Largo do Rato. Por terem receio de ficarem com o ónus de uma eventual crise política e, sobretudo, por não terem a certeza quais os danos que possam sofrer eleitoralmente.Voltando ao clip facebokiano postado pelo PCP, há uma pergunta à espera de resposta. Se os comunistas acham que Costa norteia o seu mandato como se de um mafioso se tratasse - na citada pasta laboral -, quem serão eles ao pactuarem com mais um Orçamento de Estado socialista? Enquanto pensas noutra personagem cinematográfica, era bom que o partido de Álvaro Cunhal voltasse a comer gelados de forma adequada.Nota final - Nos últimos dias, muito se falou de Madonna, dos seus 15 automóveis e do alegado benefício que lhe terá sido dado pela edilidade lisboeta para estacionar os ditos cujos. Depois de ouvir o comentário elucidativo e engraçado de Ricardo Araújo Pereira (ver abaixo), pouco mais há a acrescentar.
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"Esquizofrenia parlamentar" à espera do Orçamento de Estado
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