Coisas que você não sabe sobre uma influenciadora digital

Me lembro de um dia específico em que saí de casa sem me importar com roupa ou maquiagem, mas ao voltar me deparei com uma mensagem, não de um "hater", e sim de alguém que acompanhava meu trabalho, que sem maldade alguma comentou que me viu na rua e que eu estava "irreconhecível". Talvez aquela pessoa nem fosse imaginar o quanto aquela palavra me atingiria, a ponto de passar meses sem sair de casa se não estivesse devidamente produzida.

É fundamental que se tenha discernimento, e respeitar que independente da imagem "perfeita" que passamos na internet, somos seres humanos como quaisquer outros, e que não somos obrigados a seguir um padrão de expectativas que colocam sobre nós. Justamente por sermos influenciadores não se deve invalidar nossos dias tristes, nossa autoestima baixa e nossas preocupações para não nos tornarmos apenas mais um manequim na vitrine de alguém.

A partir disso entendi que, por mais que eu tratasse minhas redes sociais como um portfólio para atrair trabalhos, nada disso justificaria minha falta de transparência com as pessoas que me acompanhavam; e que ser verdadeira e ser humana ao mostrar minhas fraquezas talvez pudesse ajudar outras pessoas que naquele momento estivessem se sentindo como eu.

Entendi então que eu também carregava grande responsabilidade pelas coisas que compartilhava, e era necessário ter muita cautela para que nada do que eu dissesse influenciasse alguém de forma negativa ou que fosse interpretada de um jeito errôneo.

O que quero dizer com tudo isso é que todos os dias vocês se deparam com feeds organizados, vidas perfeitas, corpos como o meu – dentro de diversos padrões estéticos – e muitas vezes se culpam por não conseguir alcançar tudo aquilo, mas se esquecem de que aquelas pessoas estão cumprindo seus trabalhos, estão vendendo a ideia de um lifestyle que não é necessariamente verdade todo o tempo, elas filtram seus problemas, editam suas fotos, compartilham o que for conveniente. Já viram alguma influenciadora postar foto num enterro?

Não estou dizendo que no mundo existem apenas criadores de conteúdos que postam uma vida de contos de fadas, ao contrário, cada dia vemos mais mulheres reais compartilhando informações maravilhosas, mulheres que representam todos os tipos de corpos, sexualidades e raças. E cada vez devemos abrir mais espaço para que pessoas verdadeiras tomem seus lugares na internet, que ganhem voz e que finalmente atinjam pessoas que antigamente não se sentiam representadas pelas mídias em geral.

A internet é uma ferramenta necessária, que nos conecta cada vez mais e que nos ensina muito. Precisamos aprender a usá-la de tal forma que não nos faça sentir sabotados e com a autoestima baixa, e sim para criar grandes redes de apoio em que qualquer pessoa se sinta confortável da forma que é, porque o mundo é muito complexo para vivermos em uma caixinha onde só um padrão é o certo, sendo que vivemos cercados de diversidade.

Eu prezo por um mundo em que cada vez mais pessoas como eu, que trabalham com sua imagem em redes sociais, descubram o quanto é gratificante ajudar alguém por ser quem você é, sem filtros, sem poses, por sermos todos iguais.

Peço cuidado para não levarem tudo o que vocês veem na internet como regra. Nossa influência só vai ser algo saudável se em vez de simplesmente aceitarem tudo o que dissermos como verdades absolutas, passarem a ter um olhar mais crítico sobre cada conteúdo e saber extrair o melhor de cada um deles. Cada indivíduo é único na sua essência. Se pudermos acrescentar algo positivo na sua vida, ótimo, mas você tem que andar com as próprias pernas, sabendo o que é melhor para você no contexto em que vive.

Mais do trabalho da Fernanda Xavier no Instagram.

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