Leia um trecho do novo livro do Corey Taylor, do Slipknot
Foto por Travis Shinn.

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Viagem

Leia um trecho do novo livro do Corey Taylor, do Slipknot

O metaleiro e hoje autor de best-seller reflete sobre merdas e prazeres de se viver nos EUA em 'America 51'.

O texto abaixo foi traduzido da VICE US. O original foi adaptado do novo livro de Corey Taylor, America 51: A Probe into the Realities That Are Hiding Inside "The Greatest Country in the World" , lançado em 8 de agosto pela Da Capo Press. Compre o livro aqui.

Há anos sou fã de história — não um estudante, mas um . Já li tantos livros que devo ter carcinógenos de poeira de biblioteca. Assisti documentários até meus olhos enxergarem em Technicolor. Arrastei minha família para tantos campos de batalha e "pontos de interesse" históricos que agora eles conferem nossos destinos de férias, para não acabar perto de um — citando minha sobrinha — "lugar chato como cocô de baleia e que cheira a igreja velha". Então sim, sou um fã de história porque sou fã de histórias em geral, e o que é história a não ser causos do passado, prontos para nos ajudar a modelar nosso futuro?

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O que faríamos sem ela? O que acontece quando esquecemos as lições que ela tenta nos ensinar? Mesmo como fã de história, sempre tentei moderar meu entusiasmo pelo nosso passado tendo respeito pelas tragédias que a história viu, percebendo que morte e perda sempre andaram de mãos dadas com a vida e a vitória. Ele dizem "ao vencedor, os espólios". Eu digo "ao entendido, as sutilezas".

Então você vai entender meu conflito interior quando, muitas luas atrás, me vi andando lenta e reverentemente pelos monumentos silenciosos do museu de Dachau, nos arredores de Munique, uma experiência intensa sabendo ou não sua história completa. O terreno é gigante. A maioria das estruturas foram arrasadas, mas imagens e vídeos mostram como o lugar era, incluindo uma recriação dos "dormitórios", que eram nada além de trailers onde, infelizmente, eles mantinham gente demais. Por respeito aos mortos, não vou entrar em detalhes. Mas vou dizer que foi um momento assombroso e iluminador para mim. A única coisa que me impedia de desmoronar sob o peso emocional daquilo tudo é que os EUA ajudaram a parar o mal humano responsável por esse trauma histórico. Geralmente não fico todo patriótico, mas saber que meu país ajudou a parar uma onda gigante de fascismo me deixa orgulhoso, mesmo que só por um segundo. O significado do lugar estava claro: NUNCA ESQUEÇA O PASSADO, OU ESTARÁ CONDENADO A REVIVÊ-LO. NÃO IGNORE A HISTÓRIA, OU ESTARÁ CONDENADO A REPETI-LA. O que aconteceu com o povo judeu naquele lugar e em muitos outros é uma das maiores atrocidades da história humana. Mesmo com os erros que cometemos nos EUA, conseguimos nos levantar por algo e contra aquele tipo de ódio bárbaro.

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Se pelo menos tivéssemos fiéis àquele sentimento…

Este país tem um caso de amor louco com cagar no quintal dos outros. A coisa mais escrota é que não deveríamos ser assim. Éramos os isolacionistas globais, só nos juntávamos a conflitos no último minuto e apenas quando nosso país estava ameaçado ou sendo atacado. Costumávamos ficar longe, nos segurando até não poder mais. Gostávamos de cuidar dos nossos próprios problemas. Agora não conseguimos deixar de meter o nariz em tudo. Amarramos a porra de um rojão em nós mesmos e tentamos nos tornar os últimos de uma longa lista de conquistadores. Sob o disfarce de ser a "polícia do mundo" ou os "xerifes da Terra", acabamos entrando de cabeça num buraco de coelho cheio de petróleo, dinheiro e interesses próprios nefastos. Invasão se tornou o nome do jogo, enquanto enfiamos um monte de conversa fiada no moedor da propaganda: "lutar contra o comunismo", "lutar contra o tráfico de drogas", "lutar contra guerrilheiros", "lutar contra o terrorismo", "lutar contra os fanáticos"… o loop infinito se fecha sobre nós, enquanto nos vemos devotados a um ideal que não é verdade, o que fez maravilhas pelo nosso apelo internacional, sejamos honestos.

Agora, antes de continuar, vamos deixar uma coisa clara: esse não é um livro sobre o nosso exército. Não estou trazendo esse ponto porque tenho algo contra nossos homens e mulheres servindo agora, nem contra nossos veteranos. Na verdade, membros da minha família vêm servindo nosso exército desde o meu avô, que lutou na Coreia. Apoio cada homem e mulher que lutou, morreu e defendeu nosso exército, não importa onde estejam. Não, vou falar aqui sobre política. Essas pessoas se juntaram às várias forças do nosso exército para serem parte de algo honrado e corajoso. Eles não tem culpa sobre o que esses políticos de merda aprontam, nem podem opinar no que são obrigados a defender de tempos em tempos. Soldados se importam com o país e a família — duas coisas que o governo sempre deixa de lado por ego e conflito de interesses. Então, quando falo sobre certas invasões e evasões subsequentes que aconteceram e inevitavelmente acontecerão de novo, não estou falando sobre familiares e amigos seguido ordens e seus corações — estou falando sobre babacas atrás de mesas que, sempre que perdem a cabeça, fodem as festas de fim de ano de todo mundo, levando a perda de perspectiva e, mais importante, de vidas.

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Talvez seja porque contraímos a febre de império. Essa pode ser a razão para colocar a mão no peito e jurar lealdade à "Bandeira Estrelada": porque é isso que os romanos faziam quando faziam sua saudação. Pode ser por isso que tentamos nos agarrar a territórios americanos como Porto Rico e Ilhas Virgens: porque foi isso que nossos "ex-benfeitores", a Inglaterra, fizeram até o final da Segunda Guerra Mundial. Pode ser uma razão subconsciente para estarmos tão contra os alemães e ainda termos problemas com os russos: porque eles nos enganaram para pensar que como somos "bons", "justos" e "lutamos pela liberdade", somos os únicos que podem explorar terras internacionais (ou seja, entrar chutando a porta e declarar lugares aleatórios como "território americano"). Esse último exemplo é o que fazemos com nosso "boca a boca", e vamos falar sobre isso depois. Vou ser honesto: aquele boca a boca não se sustentou bem. Isso só funciona agora fora do nosso próprio país. O mundo está de olho em nós. Não podemos mais jogar a carta do "conquistador na pele de libertador". Éramos trabalhadores. Agora somos o bicho-papão.

"Precisamos prestar um pouco mais atenção no que está no lado de cá da cerca. E com isso não quero dizer "construir uma porra de um muro" ou deportar imigrantes"

Esse é nosso legado ou nosso fardo nesta vida? Estamos condenados a nos tornar tudo que dizíamos ser contra? Às vezes imagino se os EUA de 1900 tinham uma ideia melhor do que precisava ser feito. Até Woodrow Wilson não conseguiu nos deixar de fora da Primeira Guerra, mas no começo batemos o pé para não entrar no conflito estrangeiro. Isolacionismo não resolve todos os problemas. Na verdade, somos parte de uma grande comunidade global, e precisamos ter uma presença nela. As pessoas olham para nós em busca de respostas, então se envolver é natural. Não podemos ficar fora de tudo. Mas precisamos prestar um pouco mais atenção no que está no lado de cá da cerca. E com isso não quero dizer "construir uma porra de um muro" ou deportar imigrantes para países que não representam ameaça. Quero dizer criar programas para desacelerar o uso de drogas e o desemprego em cidades, estados e países de baixa renda. Quero dizer usar nossos recursos para o bem, não para o mal. E já consigo ouvir os conservadores reclamando que "nossos impostos não podem ir pra isso".

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Bom, adivinhem só, putos: Vocês preferem que seus impostos ajudem outros americanos ou sejam usados para construir um muro inútil, que não vai manter ninguém para fora? Nenhuma pessoa vai ficar fora dos EUA por causa dessa porra desse muro. Se você é idiota o suficiente para achar que aquela fronteira é o único jeito de entrar no país, é bom dar uma olhada em algum mapa, porra. Temos oceanos dos dois lados — você quer tentar construir um muro cercando as duas costas? Temos um país gigante acima de nós — você vai construir alguma merda ali também? Essa história de "construir um muro" é ótima quando você está tentando convencer idiotas e racistas a votar em você, mas quando se trata da prática, não vai funcionar. É como aquele programa Encontrando o Pé Grande: eles não encontraram porra nenhuma. Mas se o programa chamasse Procurando o Pé Grande, ninguém assistiria. O truque está na promessa, não na entrega.

Desculpe se irritei alguém com essa pequena explosão aí do último parágrafo. Provavelmente sou uma das poucas pessoas deste país que gosta de estar no exterior. Agora isso é um pouco tenso para o meu conforto, mas honestamente, não tenho escolha — preciso fazer turnês para ganhar dinheiro. E também gosto muito de tocar para gente do mundo inteiro. Então tenho que equilibrar a parte legal do show com os altos níveis hostilidade que acompanham minha chegada em qualquer lugar fora dos shows. Depois de todos esses anos, estou acostumado — isso só significa que hoje em dia não faço muitos rolês quando estou na estrada.

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Tudo bem. Isso me poupa de ser julgado toda vez por merdas que sou claramente contra. Mas também uma das razões por que, a menos que você precise mostrar seu passaporte, a "camuflagem canadense" funciona tão bem para se desviar animosidades ou desdém que voam na sua direção quando as pessoas sacam seu sotaque baunilha. Tenho certeza que meus irmãos e irmãs do norte vão achar isso engraçado ou ofensivo, mas caralho, como você acha que me sinto? Se tenho que falar "aboot" e "eh" algumas vezes para evitar que minha comida venha cheia de saliva estrangeira, é isso que vou fazer. Faço todo o possível para evitar contrair hepatite A, B e C internacional. Esse é um teste que nunca quero gabaritar.

Quando falo sobre política estrangeira, sempre me esqueço dos nossos vizinhos do norte e do sul, mas não posso fazer mais isso hoje em dia, com o grande Cheetos ameaçando qualquer pessoa ligeiramente marrom, ou pior, jogando ironias veladas para que sua base merduncha faça as ameaças por ele. Estratégias escrotas como essa me deixam realmente puto. Na verdade, mal posso esperar para terminar de escrever isso e evitar ficar louco com todos os cenários de pesadelo que ele está colocando na nossa frente, por causa de seu ego e falta de noção. As pessoas o elogiaram em seu primeiro discurso no Congresso só porque ele não disse nada muito inflamatório. Tá tirando, porra? Gente adulta deveria ter rido na cara desse maldito idiota anos atrás. Mas como a direita é muito voraz e a esquerda muito excêntrica e tosca, acabamos com um presidente que acha que pode superar oposição estrangeira empilhando armas nucleares, como se estivesse mandando fotos de pintos para empregados, uma insinuação de que se ele não conseguir o que quer, todos os pênis serão disparados de uma vez. Morte por inveja do pênis — nossa senhora, que época para se viver…

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"O último filho da puta de alto escalão a sentir a ferroada da lei foi Nixon, e mesmo ele pôde renunciar, e mais tarde foi perdoado."

Bom, graças a Deus existe gente como Trudeau de olho em seu vizinho louco do andar de baixo. Às vezes tudo que você precisa para impedir alguma merda de acontecer é ter um cara que parece que pode arrancar sua cabeça numa briga. E ajuda que Trudeau não seja desagradável de se olhar. Será que se ele viesse assistir um show meu e eu tivesse minha Teen Beat canadense com ele na capa por perto, ele autografaria? Talvez eu possa até tirar uma foto, sabe? Eu subiria naquele homem como numa caixa d'água numa cidade em chamas. Sinto que quanto mais eu escrever aqui, mais vocês vão ficar desconfortáveis, pensando em mim realmente fantasiando com o primeiro-ministro do Canadá. E isso não é culpa minha, é culpa sua. Estou confortável o suficiente para me imaginar na garupa de um jet ski com Justin Trudeau, sorrindo feliz, a água espirrando à nossa volta, nós dois um pouco melados do protetor solar que passamos nas costas um do outro… OK, talvez eu esteja pensando demais nesse cenário "Eu <3 Trudeau", mas só porque ele não me respondeu no Twitter. Assim que ele me responder, vou superar. Quer dizer, depois de tricotar um suéter pra ele e tudo mais! O que um cara precisa fazer para ser notado por um chefe de estado hoje em dia? Posar nu? Bom, não vou fazer isso… não de novo

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Desculpa, onde eu estava mesmo?

Lembro de ter ouvido sobre "política externa combativa" pela primeira vez quando tinha 13 ou 14 anos, nas notícias sobre o caso Irã-Contra, um tipo de jogo paramilitar que se tornou o albatroz pendurado no pescoço da administração Reagan. Mesmo que ele não estivesse tentando invadir um território estrangeiro, ainda estava tentando ofuscar as leis e regulamentações estabelecidas pelo Congresso contra (1) vender armas para o Irã, e (2) continuar financiando rebeldes conhecidos como Contras na Nicarágua. Sob o disfarce de libertar reféns mantidos pelo Hezbollah no Líbano, uma tríade de pagamentos e favores foram passados por baixo da mesa pelo governo, organizada principalmente por pessoas do círculo interno de Reagan. Ainda não está claro quanto o velho realmente sabia sobre a complexidade das operações em si, mas ele e o coronel Oliver North levaram a culpa no final. Lembro de várias notícias e milhares de músicas escritas por gente como Don Hanley e Dave Mustaine falando sobre o escândalo em detalhes. Fiquei confuso, depois intrigado, e finalmente comecei a estudar política e todas as implicações que vêm desse tipo de patifaria nos bastidores. Longe do escândalo de diplomacia agora, lembro que foi um tempo assustador, e outro golpe na maçã brilhante que usamos nas nossas tortas americanas.

Mas isso também me mostrou que não importa o ultraje, não importa o impacto e não importa o nível de controvérsia, esses políticos sempre se safam. O último filho da puta de alto escalão a sentir a ferroada da lei foi Nixon, e mesmo ele pôde renunciar, e mais tarde foi perdoado por Gerald Ford. Isso parece ter estabelecido um precedente: de Clinton e seus boquetes até o grande Cheetos e essa porra rolando com o russos; a ameaça de acusação formal raramente vai além disso — ameaças. Talvez por isso Trump não esteja preocupado com que algo possa realmente acontecer. Então ele pode cagar nas relações internacionais o quanto quiser e nem suar enquanto acena seu punhado megalomaníaco de pintos nucleares para o resto do mundo.

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Nossa abordagem hipócrita na arena global se resume, como eu disse, no fato de que superficialmente abominamos esse tipo de atitude empírica, e mesmo assim temos territórios que estão sujeitos às nossas leis mas não recebem nenhum dos benefícios da nossa nação porco-capitalista. Porto Rico, por exemplo. Tecnicamente é um "território não incorporado", o que implica que o país está no caminho para se tornar um estado, e mesmo assim nada foi feito nos últimos 114 anos para mudar seu status, em grande parte porque as leis e políticas territoriais nunca foram definidas, permitindo tirar vantagem do território enquanto milhões de cidadãos americanos em potencial são marginalizados e explorados. As leis aqui nos EUA não se aplicam a cidadãos de lugares como Porto Rico, então o lugar lembra muito o Velho Oeste. Imagine ser um nativo de Porto Rico, obedecendo a lei dos EUA por extensão, mas tendo que lidar com um monte de putos naturalizados, que só querem se safar de assassinatos ou estupro entre um bar e outro. Sabe por quê? Porque os americanos tendem a ser bem escrotos quando vão para fora de nossas fronteiras.

Nos últimos 20 anos, decidimos que nossa prioridade é limpar toda a merda da caixa de areia, por assim dizer, então a maioria dos nossos conflitos externos aconteceram nas partes mais antigas da civilização do Planeta Terra. Concordo que é importante tentar impedir o ISIS de matar milhares de pessoas e destruir algumas das estruturas mais sagradas e antigas que a história já viu. A obscenidade do desdém deles por tudo ao nosso redor é nojenta. No entanto — e você pode não gostar de ler isso — se não estivéssemos zoando a região em primeiro lugar, não estaríamos nesta situação. Trabalhamos com o Talibã — SIM, A PORRA DO TALIBÃ — nos anos 80, quando estávamos tentando ajudá-los a repelir os russos do Afeganistão e outras áreas. Além disso, estávamos trabalhando com Saddam Hussein — SIM, COM A PORRA DO SADDAM HUSSEIN — para controlar movimentos mais violentos e religiosos, e o ajudamos a assegurar seu governo secular e, portanto, seu poder no Iraque. Aí nos envolvemos na região, o Talibã se tornou nosso inimigo, atacamos Hussein por causa do "petróleo", e do nada os EUA eram oficialmente o Grande Opressor na África, não só para Khomeini e Gaddafi, mas para todos os governos e líderes tribais da região. Viva! Conseguimos!

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Não quero que as pessoas achem que estou insinuando que merecemos os ataques terroristas que aconteceram conosco. Também não quero dizer que não havia ameaças que precisavam ser abordadas. Alguns desses extremistas, incluindo bin Laden, teriam feito coisas horríveis em outros lugares mesmo se não tivessem vindo atrás de nós. No entanto, meu ponto é simples: Havia outros jeitos de ajudar essas pessoas, mas com certeza certos cabeças do nosso governo pesaram os efeitos de mexer na região com os benefícios e acesso a todo o petróleo, e jogaram quase todas as precauções pela janela. Então você poderia pensar que algumas mordidas políticas na bunda nacional nos faria reavaliar nossas prioridades e endireitar nossas bases. Mas não: só estamos procurando outros lugares para onde mirar nossos eretores letais agora. Caralho, Trump até indicou que vai ostracizar países que não quiserem jogar bola com ele ou "A Marca Trump": como aqueles hotéis, campos de golfe, tigelas de bacon (talvez não), gravatas de piano (também não posso comprovar isso), a porra que a Ivanka empurra para a Macy's, ou Target, ou seja lá o que ela faça. Entendeu a imagem? Que bom. Eu estou totalmente perdido…

'America 51' já está nas livrarias.

Um efeito colateral interessante desse pisoteamento bélico do mundo é a paranoia que nasce dentro dos EUA. Na campanha do Cheetos ele garantiu aos americanos que estávamos em perigo por causa de terroristas internacionais e criminosos imigrantes ilegais. A primeira parte é verdade em pequenas doses, mas nenhuma dessas coisas chega perto da ameaça em que ele quer que a gente acredite. Na verdade, desde o 11 de Setembro mais pessoas neste país foram mortas por terrorismo doméstico de caucasianos que por ameaças internacionais — uma estatística que voa na cara do que esses putos cheios de ódio querem nos fazer engolir. Mas para eles, uma maldita proibição de imigração (leia-se: proibição de imigração "de qualquer um que não seja realmente branco") faz todo sentido quando estão espalhando essa retórica de merda. Medo é o câmbio da Ferrari: quanto mais alto, maior a rotação e maior o impulso para fora do portão. Então é claro que a administração Trump vai usar sites de "fake news" como o Breitbart para jogar a merda no ventilador e justificar políticas que façam os americanos se sentirem seguros. Mas o que acontece quando outros países começarem a proibir a entrada de americanos que se acham no direito de se meter em tudo? Eles não precisam nos deixar entrar também. Achamos, porque somos o grande xerife branco do mundo, que os outros países ficam felizes em nos ver e sempre vão nos receber de braços abertos. Minha experiência é o oposto disso: Muitas vezes, mesmo nossa presença em outro país ou nossa associação com seu governo nos tornam alvos. Então por que diabos alguém vai querer andar com o moleque da escola que sempre dá barraco e quebra coisas nas festas? Somos a América; somos uns puta cuzões. Se eu fosse um ministro de Relações Exteriores de outro país, eu provavelmente manteria distância. Além disso, acho que mais cedo que tarde, enquanto essa administração de merda está ocupada proibindo outros países (leia-se: cores) de entrar no nosso, mais e mais países farão o mesmo conosco. E o pior é que vamos merecer.

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Olha, eu sei que a maioria dos americanos não quer os EUA metendo o bedelho nos assuntos dos outros países, e em vez disso tem saudades do tempo em que cuidávamos mais da nossa vida. Não, não ouvi isso em algum lugar. Cheguei a essa conclusão sozinho. E acho que ela se encaixa bem: precisamos parar de foder o quintal dos outros e prestar um pouco mais de atenção na nossa própria casa. O problema é que o povo tem pouco a ver com quando, como e por que isso aconteceu em primeiro lugar. Entre os lobistas e políticos que nos enfiaram nessa merda, ninguém realmente pergunta o que achamos. Eles só nos dão informação suficiente para manter nossa pressão arterial alta, nos mostrando manchetes sangrentas para controlar nossos vieses, aí se metem em conflitos no mundo inteiro baseado em seus interesses no momento. Nós, americanos, se pressionados, somos a favor de deixar o mundo lidar com sua própria merda enquanto cuidamos da nossa vida.

E não tem nada de errado nisso, aliás. Na verdade é mais saudável para o mundo quando outros países resolvem seus próprios problemas. Se somos solicitados, acho que é legal quando nós, coletivamente, ajudamos como parte da OTAN. Mas infelizmente, nossa reputação global nos precede agora. Podemos dar ou tirar a segunda chance de um país de terceiro mundo. Podemos dar ou tirar a melhor chance de um futuro melhor nas mãos de gente não tão dedicada a coisas positivas como melhorar o comércio exterior, ou ajudar com fornecimento de água ou instalações médicas. Sim, há organizações independentes que cuidam disso, mas dependendo das relações do nosso país com outros, isso pode colocar a sua vida em risco de violência tribal ou sequestro. E não estou sendo paranóico; essas merdas acontecem, e não deveriam acontecer com gente boa dedicando sua vida a ajudar o próximo.

Há pessoas, como eu, que acham que para melhorar nosso lugar no mundo em geral, precisamos lentamente nos afastar das questões de outros países, mas sem os deixar no caos. Mas outros acham que devemos continuar entrando em territórios estrangeiros, seja sob o disfarce de "preservar a democracia internacional" ou "manter fascistas e comunistas longe com nossa presença". Essa dinâmica não faz sentido quando você entende que nossas impressões digitais globais estão em muitos tiros pela culatra e depressões. Nos rotulamos como libertadores, mas de certa maneira só gostamos das melhores partes dos filmes de ação, então é só isso que fazemos: entramos, começamos a merda, "libertamos as pessoas", e partimos antes dos créditos finais, recusando o trabalho pesado porque os americanos só querem histórias sobre vitórias, não sobre orçamentos e lição de casa. Para muita gente a parte importante de uma a guerra são as batalhas. E isso não é verdade: os locais sempre lutam mais que os libertadores porque há mais em jogo para eles. Eles estão dispostos a lutar por si próprios quando a hora chega. O que eles realmente precisam de nós é a estabilidade que vem de ser uma superpotência (aliás, fomos nós que nos demos esse nome, mais ninguém). Temos que estar lá para ajudar a recolher os cacos, não explodir a porra toda em primeiro lugar. Há mais bem e mais carma positivo em ajudar alguém a se levantar do que em derrubar. O mundo já tem agressores demais. O que realmente precisamos são professores, médicos, curandeiros e ajuda.

"Nenhuma nação é perfeita, claro, mas quando você se diz o país mais livre e feliz, depois sai por aí tacando fogo no país dos outros, é isso que chamamos de babaquice na casa Taylor."

Tenho uma filosofia na minha vida que me manteve na linha nos últimos anos. Claro, passei por muita merda egoísta antes disso, mas quando descobri, nunca esqueci: Só leva alguns segundos extras para ser legal com alguém em vez de ser um otário. Você não perde nada, e na situação certa, pode fazer a vida de alguém melhor. Essa pessoa vai espalhar essa energia enquanto ela durar, e as pessoas para quem ela espalhar farão o mesmo, e assim por diante, até que seu catalisador de bondade toque as válvulas de pressão da vida e dê a todo mundo um alívio da encheção de saco permanente que é viver. Para mim, não há razão melhor para ser assim do que essa. Algumas pessoas acordam de manhã, têm uma experiência de merda, e vão para cama com gosto de bosta na boca, não importa quantas vezes escovem os dentes. E o pior é que vão ter que fazer toda essa merda de novo quando acordarem no outro dia. Então por que não dar um descanso a elas com um pouco de gentileza, sendo legal, tirando alguns segundos para uma foto ou um pouco de conversa? É bom ser assim — nem sempre compensa, mas a vida não é sempre sobre nós, certo? De qualquer maneira, a motivação vem de um lugar bom, e o brilho pode durar por um bom tempo se você fizer do jeito certo.

Sinto que se os EUA tivessem a mesma mentalidade, não seríamos o Grande Encrenqueiro Global para tantas nações. Nenhuma nação é perfeita, claro, mas quando você se diz o país mais livre e feliz, depois sai por aí tacando fogo no país dos outros, é isso que chamamos de babaquice na casa Taylor. Muitas nações têm nosso número e nunca nos pedem nada porque sabem que com isso vem uma conta alta, mais gratuidade, mais interesses, mais, mais, mais. Somos os selvagens, os vikings, os hunos e a horda a caminho do Ford Theater. Não somos os heróis de toda história, mas também não somos os vilões. É complicado para dizer o mínimo. É como caminhar por um campo minado e quando você pisa numa mina, ela nem sempre te mata, às vezes libera um doce. Mas você não sabe disso, e não sabe qual é qual. Então siga com cuidado, e a glória vem com um belo "aleluia" quando você não se explode.

Internacionalmente, somos basicamente um esquete do Benny Hill, pelo amor de Deus. Estamos usando um biquíni vermelho, azul e branco, perseguindo todas as outras garotas porque quando cairmos, vamos levar todo mundo com a gente.

Quando eu estava andando por Dachau, nada disso estava na minha mente. Eu não estava pensando nos erros dos EUA ou em como o Ocidente venceu. Eu estava prestando minha homenagem àqueles que morreram por razões fascistas, racistas, de ódio e horríveis. Eu estava ouvindo o silêncio deixado na esteira da atrocidade. Eu estava deixando essa lição ser digerida antes de sentir algo tão fora de lugar quanto orgulho pelo exército americano ter algo a ver com libertar os sobreviventes dessa catástrofe. Havia um pensamento passageiro sobre isso, mas o coloquei de lado — não seria certo sentir isso naquele momento. Esperei até ir embora para tentar compreender a dicotomia entre a América que era, a América que é e, pior ainda, a América que certos líderes gostariam que fosse. Hoje esse processo de pensamento veio flutuando pelas águas revoltas da minha mente enquanto eu escrevia este livro, procurando pelas ondas certas, o ponto onde eu pararia de nadar e me renderia ao mar e todas as suas metáforas da teoria do caos. Se você quer um senso poético mais bonito do que está acontecendo nos EUA, é só olhar para o mar. Sim, abaixo da superfície há um mundo feito de sistemas e rotinas, da vida e todas as coisas que vêm com a vida. Mesmo se encontrar seu lugar entre tudo isso, você ainda pode apanhar num piscar de olhos.

Quando o último sair e desligar as luzes deste país, não quero que seu legado seja o de um grande predador do mar profundo. Eu gostaria que fosse mais como uma baleia-azul, atravessando a escuridão, emergindo de vez em quando para respirar, mas principalmente cuidando da própria vida, porque o resto não é problema dela. Ela só quer viver. Espero que ela se reproduza e passe sua vida para as crias, mas não há garantia de mais nada. Temos que encontrar um jeito de ser essa baleia: nos concentrar mais no nosso lugar no mundo e menos no que os outros estão fazendo. Às vezes você precisa deixar os outros fracassarem. Mas quando faz isso, há uma boa chance dessas mesmas pessoas encontrarem uma vitória na derrota. Às vezes você tem que fazer as contas para assegurar aquele soco que levará a um nocaute. Bebês não começam a andar porque queremos que eles andem, e geralmente não andam se estamos sempre os ajudando. Eles precisam engatinhar, cair e chorar, e eventualmente criar força nas próprias pernas e dar os primeiros passos que levam a caminhar, depois a correr, depois se manter sozinhos. Temos que permitir que o mundo faça isso. Não podemos pagar pelo ressentimento que vem de pegar na mão deles o tempo todo e não permitir que eles aprendam sozinhos. Até fazermos isso, não seremos realmente uma superpotência ou mesmo um líder global. Seremos apenas aquele vizinho escroto que ninguém gosta, que não cuida da própria vida, que está sempre se metendo em assuntos dos outros, e que no final da temporada será substituído por um ator menos irritante.

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