Conheça os Clubbers Matinais Londrinos

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Música

Conheça os Clubbers Matinais Londrinos

Um retrato dos rolês numa segunda de manhã na capital britânica.

São 5h30 da manhã de uma segunda-feira. Estou no banheiro da Union, uma balada embaixo dos arcos ferroviários no bairro londrino de Vauxhall, trocando ideia com um cara chamado Jamie. Um carinha do exército, que estava vestindo uma camisa com uma puta gola V escrito XXL e uma corrente dourada pesadona. Na maior parte dos fins de semana ele está vestido de drag e atende pelo nome de Barbarella Fierce.

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"Sou dançarino e faço a porta de umas baladas. Como a Fire, a Area quando estava aberta…", ele diz. "Sou pago para me divertir, e isso não me traz nenhuma dor de cabeça".

Estamos na Glamorous, a única festa de Londres em uma segunda de manhã. Rola toda semana desde às três da manhã até o seu cérebro explodir às 11. Ansioso para conhecer o tipo de gente que arregaça ouvindo techno enquanto a maioria de nós mal consegue focar no metrô no caminho para o trabalho, decidi colar e ver qual era.

Tinham só umas 25 pessoas aqui quando cheguei, mas estão todas na pista curtindo seriamente um set de tech house pesado do DJ Tiny Tarawe. Um tiozão grisalho de bigode e óculos escuros na cabeça, está com uma breja numa mão e uma canetinha de laser na outra. Parece que ele está no rolê desde 1994. Um cara vestindo uma camisa de traficante e uma calça jeans larga faz um breakdance enquanto seu chapa, usando máscaras, uma camisa florida e uma jaqueta da Adidas, se senta em uma pilha de microfones e acena com a cabeça. Uma garota italiana com maquiagem de glitter dança com os olhos fechados, sentindo a vibe. Dois espanhóis - Jose, que tem 24 anos e trabalha no Borough Market e seu irmão - zanzam por aí sem camisa exibindo seus músculos. Glamorous é uma balada mista, e tem a mesma quantidade de gays e heterossexuais.

Um doidão entra no banheiro.

Pergunto há quanto tempo ele está aqui.

"Oito anos", ele diz.

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É bem provável, penso. Este é definitivamente o tipo de lugar onde você pode se perder se não tomar cuidado. Às sete da manhã, eu vou para a área de fumantes. Está ficando claro e por trás dos muros, vejo as pessoas indo para o trabalho. Começo a trocar ideia com um cara chamado Tom. Seus olhos ficam se mexendo enquanto ele fala, absorvendo tudo. Ele faz a porta de uma balada em Shoredich e lembra um pouco o Pete Doherty antes de começar a tomar pico.

"Como será que eles conseguiram licença para ficarem abertos até essa hora da manhã", ele pondera.

Jamie, que está fumando atrás da gente, sorri.

"Estamos em Vauxhall [bairro da região central de Londres], né. Eles dão um jeito."

As coisas estão mudando por aqui, no entanto.

"Eles estão fechando todas, foi por isso que a Area foi vendida. Não são apenas os novos prédios. Toda a embaixada americana está vindo. Todos os clubes estarão fechados daqui um ano."

Que triste.

"Já passou da hora! A cena de Vauxhall existe há 15 anos. Tem que acabar alguma hora. Outras cenas surgirão."

Jose sai para descolar um cigarro. O Tom pergunta de onde ele é.

"Espanha."

"Espanha… um país lindo mas uma galera preguiçosa pra caralho."

Todos respiram fundo juntos.

"Sim, é verdade, eu acho - um pouco. Eu amo os espanhóis, me dou bem com a maioria deles, mas…"

A conversa passa a ser sobre imigração. Graças a Deus, Tom não é o punheteiro louco de MDMA que eu achava.

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"Qualquer pessoa que vem falar sobre imigração, eu acho que é racista, saca", ele diz. "Eu só penso 'vai se foder, quem você acha que é para falar sobre as pessoas estarem vindo para cá?' Eles podem estar passando por uma barra em casa, com a família. Quem é você para julgar? Eles estão trabalhando mais para ganhar menos.'".

Um magricelo usando uma camiseta arrastão e um jeans skinny preto bem hipster vem até nós. Ele tem dreads compridos, barba e um coração tatuado no pescoço. Está usando sombra azul. "Só tô trocando ideia com as bagaceiras", ele reclama.

No chão, fumando um cigarro e discutindo sobre French Montana está Lou, uma mina negra usando um boné de couro e um daqueles óculos do Kanye West, e sua amiga E. E. de 18 anos. Originalmente do Vietnã, ela agora mora em Lewisham. Está usando um Adidas clássico com uma estampa de graffiti. As duas minas parecem estar no rolê há muuuito tempo. E assim como muitos outros elas estão apáticas, cansadas demais para dançar, mas nem pensam em ir embora. Em vez de vazar, elas só fumam sem parar, bebem e falam merda. Seria fácil concluir que a vibe anti-Nirvana zuada da Glamorous abrigaria exclusivamente um bando de vagabundos esfarrapados. Mas isso está longe de ser o caso. Enquanto estava lá conheci o Pete, um contador freelancer; Mike, um funcionário de companhia aérea que estava em uma escala de Vancouver; e Steve, um fotógrafo. Claramente há um mercado para baladas que rolam segunda de manhã em Londres que vai além dos chapados em estágio terminal.

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De volta do lado de dentro, Ellie Cocks está quebrando tudo com um set de pérolas do techno incluindo "Pimp Out" do Denney e "Follow Jack" do Derick Prez. Ter sido a primeira pessoa a parar de fumar fez com que as músicas - e a energia - melhorassem.

Um cara ridiculamente bem vestido com um casaco de tweed ¾, uma camisa branca abotoada e um cachecol surge no meu campo de visão, parecendo ter acabado de voltar das férias em um spa no topo de uma montanha na Suíça. Talvez ele quisesse trocar dicas de saúde.

"Tem anfetamina aí, chapa?", ele pergunta.

.

Do lado de fora encontro o Jake, o raver das antigas gordinho e bebaço que conheci mais cedo conversando com o Tiny Tarawe, que está descansando depois do seu set. E descobrimos que o próprio Jake é um bedroom DJ.

"O que você toca?", Tiny pergunta.

"House e garage", diz Jake. "Acabei de comprar um novo set de decks. Custou dois paus e meio e foi de segunda mão."

Tiny acena com a cabeça. Ele começa a explicar como ele ensaia direto no apartamento de uns amigos, fala sobre sua nova noite na balada e sua ambição de tocar na Fabric.

Jake se balança para frente, seus olhos vidrados e com a respiração fedendo a cerveja.

"Cara, eu vou te mostrar - um ao lado do outro - o Slipmatt e… deixa eu ver. Ahhh porra, eu preciso achar"

Ele fica cutucando seu iPhone quebrado com seus dedos grossos enquanto eu e Tiny esperamos. Finalmente ele encontra o vídeo, é um clipe do Slipmatt e algum outro cara mandando uns breakbeats num terraço em Londres.

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"Slipmatt e… isso é incrível. É foda. Slipmatt e o… Isso é muito foda. Lado a lado. Foda demais."

Ele não conseguir lembrar o nome do outro DJ parece ser irrelevante.

"E um ao lado do outro", ele enfatiza.

Imune aos encantos do estilo anos 90 do hardcore felizinho do Slipmatt, Tony começa a mexer no seu próprio telefone, fazendo com que eu reaja educadamente às pirotecnias dos turntables.

Às dez da manhã, o Kid Kaos está tocando umas paradas deep house mais mainstream como "Jack" do Breach e começa a rolar uma conversa sobre o after que o Jamie e seus bróders vão. Pessoalmente, preciso ir para casa e me esconder embaixo do edredom por décadas. Porém, antes de ir, vou falar com o Jack para descobrir quais são seus planos.

"Eu? Eu vou para casa", ele diz. "Gosto de sair do Essex e vir até aqui, curtir e dar o fora. Tenho 44 anos de idade e três netos."

Mais do que justo. Enquanto passar a manhã em uma balada pesada em Vauxhall não é para qualquer um, os contadores, as drag queens do gueto fabulosas e os avôs que eu conheci na Glamorous estavam curtindo pra cacete. Só nos resta esperar que a Union e outros clubes em Vauxhall possam escapar do tormento da gentrificação e as festas continuem rolando.

A maioria dos nomes foram alterados.

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Tradução: Stefania Cannone