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O Futuro da Arte Sonora É Uma Bola Abraçável

Os artistas ingleses Alison Ballard e Mike Blow criaram uma esfera azul enorme que toca música bem baixinho. Vem cá, dá um abraço.

As obras de arte expostas em espaços públicos não costumam incluir bolas do tamanho de uma pessoa, mas isso não impediu os artistas ingleses Alison Ballard e Mike Blow de criar exatamente isso. A instalação sonora interativa POD permite que os espectadores sintam fisicamente a vibração das ondas sonoras através da superfície de duas esferas infláveis, cada uma com 1,80 m. A superfície da POD pulsa no ritmo de um arquivo de áudio que toca no seu interior. O público é convidado a envolver e abraçar a superfície com o rosto e o corpo, curtindo a doce massagem da POD.

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A premissa simples e a forma sem mistérios de abordar a tecnologia nos levam a crer que a colaboração entre Alison Ballard e Mike Blow vai continuar. Com a ajuda e o apoio de Edmund Harcourt, organizador do festival experimental Wycombe Listening, e diretor da produtora Hogarth, eles já começaram a implementar novos e empolgantes rumos para a POD, incluindo colaborações com poetas e composições musicais espaciais que usam esculturas como instrumentos.

Falamos com Alison Ballard e Mike Blow para descobrir algo mais sobre as origens humildes da POD, seu futuro ambicioso e seu (muitas vezes) caótico presente.

The Creators Project:  Conte-nos a história da POD.

Alison Ballard: A ideia da POD foi meio que brincalhona e autoindulgente. Eu pensei: "não seria ótimo fazer ressoar a superfície de um balão de 1,80m com som?" [risos]. E as pessoas aparentemente responderam muito bem a essa ideia! Então eu pensei que talvez devesse colocá-la em prática.

Mas na verdade não tenho paciência para o lado tecnológico disso, então liguei pro Mike, que é bem mais tecnológico do que eu. Nos conhecemos numa residência artística em 2008. No seu trabalho ele usa diariamente muito mais tecnologia que eu e tem muito mais experiência nessa área, com robótica e esse tipo de coisa. Liguei pro Mike e disse "socorro! Preciso colocar alto-falantes minúsculos dentro de um balão, para emitir sons bem baixinhos!".

Como funciona a POD?

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Mike Blow: Usamos o fenômeno auditivo das batidas, no qual há duas frequências muito próximas, mas não iguais. A forma com que interagem faz com que em algumas partes elas reforcem umas às outras enquanto em outras partes elas se diminuem mutuamente.  A ideia original da POD era emitir apenas sons muito baixos. Então eu pensei, "como posso gerar um som baixo e profundo usando alto-falantes menores?". Pois não tínhamos como colocar um subwoofer ali dentro. A solução foi colocar alto-falantes que emitissem sons suficientemente baixos, e com as batidas conseguimos fazer sair esse som pulsante. Dá a impressão de ser uma frequência mais baixa do que realmente é.

POD usa dois alto-falantes virados um para o outro dentro de um tubo de papelão, que chamamos de caldeirão de áudio [risos]. Cada alto-falante é atravessado por uma oscilação pura em ré e no tubo elas se misturam e produzem o som dessas batidas. Tecnologicamente é muito simples.

Como era a POD no início do trabalho?

AB: O coletivo Shunt, em Londres, foi o primeiro a fazer a encomenda [da POD]. E foi aí que vieram os balões escaláveis de 1,80 m, nós os chamávamos assim… mas não dava realmente para escalar aquilo. Eram mais robustos do que um balão normal, mas ainda assim estouravam. O interessante era que o volume ali no Shunt era tão alto que você não conseguia ouvir a não ser que chegasse muito perto, então todos acabavam tocando nos balões. Acabou que colocamos [a POD] num canto e as pessoas fizeram fila para entrar. Foi inesperadamente maluco!

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MB: Quando o Ed [Edmund Harcourt] entrou em contato com a gente, perguntamos se podíamos obter fundos para tornar as PODs mais fortes, feitas de PVC. O que não percebemos foi que por serem infláveis, as pessoas iam adorar empurrá-los, ou coisa do gênero. Sendo infláveis elas estimulavam isso.

AB: Agora, pelo menos, mesmo que quebrem não vão explodir, só desinflar devagar sem ninguém perceber. Diria que são mais difíceis de quebrar, agora.

Lamentam ter perdido os balões originais?

MB: De certa forma eram legais porque eram totalmente uniformes. E claro, estes (os novos) são feitos de painéis, então dá pra ver as linhas.

AB: Sim. Mas acho que de certa forma foi a história do projeto que nos deu esse relaxamento com relação ao que [a POD] é e o que pode se tornar, porque sempre foi fluído. Os balões precisavam ser monitorados e isso era cansativo. Funcionou, foi ótimo, e de certa forma a ressonância era mais forte na superfície dos balões. Mas não era muito prático.

MB:Como obra, POD evoluiu de várias formas, desde a luz que foi colocada em seu interior até aquela vez no Wycombe Listening em que usamos um controle à distância para ligar e desligar as PODs, coisa que nunca havíamos feito antes.

AB:Penso que cada vez que exibimos POD, fazemos alguma pequena mudança. Ou uma grande mudança, como quando trocamos os balões por bolas de vinil. E ainda há mais por vir. Isso é o mais empolgante para mim, ver que POD ainda é bem mais focado no conceito do que na execução. Muita coisa pode mudar nesse aspecto, mas a simplicidade original da experiência segue inalterada.

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Podem nos contar algo mais sobre as mudanças que planejam fazer?

AP: Conversamos muito sobre as mudanças que seriam boas para a obra, o que poderíamos fazer com ela. E nós três [Alison, Mike e Edmund] percebemos que estávamos muito interessados em testar formas diferentes de instalar as bolas, caso tivéssemos muitas à disposição. Essas conversas evoluíram, como é natural, e todos percebemos que nos empolgava a ideia de chamar músicos e compositores pro projeto. Queremos que usem a instalação atual como ponto de partida, mas queremos deixá-los o mais solto possível. Para ver de quantas formas as pessoas conseguem repensar a relação de forma física, visual e também sonora. Digamos que seja um campo [de PODs], então que seja um campo; mas se acharem que deve ser uma longa fila em linha reta, com exatamente 1,80 m entre cada bola, então é isso que faremos.

MB: Acho super empolgante pegar as PODs e usá-los como uma forma de apresentar uma composição, ou ver como eles inspiram as pessoas a criar algo. Isso cria uma sinergia entre as PODs e aquilo que as pessoas se sentem inspiradas a criar para elas. A proposta é aprimorar o sistema de som para que seja de alta qualidade e possa transmitir com precisão a música que alguém criou, ou uma obra de arte sonora que alguém queira colocar, ou até mesmo poesia.

E você pode basicamente criar uma composição espacial ou uma que transita entre uma POD e outra, ou que funcione numa de cada vez, como algo sequencial… existem mil maneiras para usá-las. Por isso é interessante incluir os compositores.

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Eu testei vários tipos de sons com as PODs. Acabamos usando esse som pulsante, abstrato, não narrativo, mas eu também tentei sons elétricos, sons mais altos e descritivos, e descobri que eles não se encaixavam bem com a forma das PODs. Existe uma correlação entre a forma das PODs e os sons, pelo menos nessa primeira versão da peça. Não é exatamente sinestesia, mas ela está presente. Os sons que usamos parecem funcionar bem com formas esféricas. E ainda tem que ver o nível de volume que funciona com o tamanho das PODs. Se for muito baixo, a parte visual predomina. Se for muito alto, predomina o áudio. Conseguir o equilíbrio é parte da obra.

Ou seja, essencialmente, você é o primeiro na série de compositores para POD?

MB: Bem, nós dois somos, eu diria. De certa forma co-criamos o som.

Tem alguém que você gostaria que compusesse algo para as PODs, um dia?

MB: Se pudesse voltar no tempo, escolheria o Rolf Julius. Ele foi um artista realmente pioneiro no campo de sons e objetos, e criou instalações lindíssimas combinando objetos muito pequenos e simples, como potes de água ou potes de pigmento, às vezes pedras, pó de concreto, coisas assim, e alto-falantes minúsculos que funcionavam sem amplificador diretamente de um toca-CD. Tudo muito baixo, muito suave, mas prestando muita atenção à relação entre os sons e os objetos usados.

AB: Não sei, acho que meu inconsciente tem uma lista de desejos, mas ao mesmo tempo não quero ter uma lista de desejos. Quero manter esse ethos, tentar algo inesperado e ver o que acontece. Se você já sabe quem vai chamar para participar, uma parte disso se perde, porque você sabe o que esperar, já que pediu algo específico.

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Trabalhando com a POD, vocês aprenderam algo novo sobre sons, sobre o desejo que as pessoas têm de tocar, ou sobre a interação entre esses dois sentidos?

MB: Quando fizemos para o Whitley Festival e o Wycombe Listening, as PODs já eram mais fortes. O que percebemos foi que, por serem infláveis, as pessoas adoraram empurrá-los e tudo mais. Teve gente que com toda inocência fez rolar um deles, achando que era uma gigantesca bola de praia. Mas infelizmente ele tinha uma espécie de bateria de automóvel por dentro, sem falar no alto-falante, e aí rasgou em vários pontos. Não sei se dá para ver na foto, mas um deles tem alguns pequenos remendos nos pontos que tive que consertar [risos].

AB: Aprendi muito, a POD é baseada na reação do público. As pessoas não conseguem esconder o que pensam da obra, se amaram ou se odiaram. E as pessoas tendem a escolher uma dessas coisas. Tem os que adoram e querem ficar ali um tempão. E tem os que perguntam "mas para que serve?", aí tocam na bola e dizem "então ela reage quando eu toco?". Como há uso da tecnologia, alguns esperam que seja algo interativo. Para essa turma temos que explicar que nossa forma de interação é mais tipo velha guarda. Fique mais um pouco com a obra! E eles voltam a perguntar "e então o que acontece?". E aí, se tudo der certo, há uma revelação. POD consegue fazer com que a pessoa pare e interaja com ela. Pode ser uma interação grande ou pequena, mas ela fez isso acontecer.

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É curioso que alguns se sintam tão desconectados da experiência depois de passar tanto tempo abraçando e tocando a obra. E ela vibra, coisa que provavelmente causou tantos comentários de duplo sentido que vocês nem querem comentar mais.

AB: Perdi a conta de quantas vezes perguntei às pessoas se queriam vir abraçar minhas bolas.

Fez muito bem. É uma piada pronta.

AB: Quem perder essa piada já morreu por dentro.

Para saber mais, visite o site de Alison Ballard e seu Twitter, além do site de Mike Blow. Aqui, sabia mais sobre o Hogarth no Vimeo.

Tradução: Susana Cristalli