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Música

Música: John Cage

Dou-lhe 10/10, apesar de ter achado o disco uma valente seca.

John Cage Shock Vols. 1, 2, 3
EM Records
10/10 Perguntem a qualquer tipo hipster ou semelhante a sua opinião sobre o John Cage e todos dir-vos-ão a mesma coisa: “era um visionário”, “o melhor compositor do século XXI”, “a influência dele é inatacável”, “se ele ainda fosse vivo, felava-o”. O problema de maior é que estas pessoas nunca ouviram nenhuma obra sequer do John Cage — remetem a sua opinião desinteressante às críticas e crónicas que leram. Porque, sejamos francos, a “4'33''”, provavelmente a única coisa que dele conhecem, não se ouve, sente-se, reflecte-se sobre a mensagem por detrás da mesma e, de pronto, conclui-se que o tipo era na verdade um doido a quem deram atenção. Mas como era um doido fixe, a academia, essa instituição enorme que rege as nossas vidas saloias e nos diz o que é que importa na história e o que não importa, eleva-o a um pedestal e compromete-se em ensinar-nos, néscios, que o John Cage era um Deus absoluto. Por isso, esta é uma oportunidade para a malta que nunca ouviu o gajo a sério poder embrenhar-se um bocado na coisa e de pronto rejeitá-la para ir ouvir o novo disco da nova banda que é a nova cópia do novo pós-punk (estou a olhar para vocês, Divine Fits. Vão-se foder). John Cage Shock é um álbum triplo que documenta a passagem dele pelo Japão, onde tudo é melhor, especialmente a pornografia, na companhia de David Tudor, o seu intérprete de quase sempre. Uma obra de valor porque inspirou (aí está a “influência inatacável”) tudo o que se fez no avant-garde nipónico nos anos posteriores, incluindo a segunda melhor banda de sempre — os Rallizes Dénudés —, como poderão ler no Japrocksampler do Julian Cope. Ah, e uma Yoko Ono muito jovem também aqui toca violino ou qualquer merda, passando-se isto em 1962, muito antes de ela assumir como objectivo para a vida tornar o John Lennon num conas. Dou-lhe 10/10 porque, apesar de ter achado o disco duas horas de uma valente seca e ocasional interesse — quando nas composições se percorrem trilhos noise —,  não quero ser mal visto pela malta que percebe realmente desta coisa intitulada música.