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Música

Aprendi a cozinhar com o Vegan Black Metal Chef

Comida com sentido de humor.

Devo admitir que desde que o escândalo da carne de cavalo rebentou, tenho pensado seriamente em tornar-me vegetariano. Não é que tenha problemas em comer cavalo, mas quero resguardar-me caso algum dia se venha a descobrir que a carne picada é feita com órgãos de sem-abrigo, ou algo do género. A cena é que a comida vegan sabe a pêlo de coelho e não tenho amigos vegetarianos a quem pedir receitas fixes. Conseguem, portanto, imaginar a minha satisfação quando dei de caras com o

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Vegan Black Metal Chef

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Durante os últimos tempos, o Brian Manowitz, o Vegan Black Metal Chef, transformou a sua cozinha numa masmorra medieval, fez

corpse paint

à metaleiro e enfiou-se numa armadura para fazer o seu programa de culinária vegan (disponível no YouTube). Até agora gravou 12 episódios e canta (vá, berra) os passos das receitas em todos eles. Liguei-lhe para descobrir se nos sacrifícios satânicos existe uma variante vegan.

VICE: Olá Brian. Suponho que a minha primeira pergunta terá mesmo de ser esta: por que motivo te lembraste do black metal para um programa de culinária vegan?

Brian:

Hmmm. A ideia, sinceramente, é juntar aquilo que me interessa. Tenho uma banda de black metal, somos os Forever Dawn. É o que curto. Aquilo que quis fazer foi um programa que eu próprio gostasse de ver.

Tudo isto é também uma crítica aos programas de cozinha, certo?

Exactamente. Ando neste mundo há séculos. Aliás, estou há mais tempo nisto do que na música — basicamente desde que me tornei vegan, aos 14 anos, e aprendi a cozinhar. Pensei: “Meu, esta é a melhor comida de sempre, o mundo tem de conhecer isto!” Foi aí que me lembrei que podia fazer um programa de cozinha, só que ao mesmo tempo também me pareceu uma ideia chata. Adormeço sempre que vejo um desses programas. Foi assim que decidi combinar tudo aquilo de que gosto. Também coincidiu com a altura em que consegui gravar decentemente. Agarrei esta oportunidade e decidi experimentar.

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Para ti, ser vegan é uma questão de moralidade ou de saúde?

Diria que quanto mais entras no mundo vegan, mais este te absorve. No início, é uma questão moral. Não acredito na exploração animal. Na indústria das carnes, a morte do animal é, possivelmente, a melhor parte da sua vida. Grande parte das pessoas não imagina o inferno que esta indústria é. Por isso, é muito mais fácil não fazer parte disso. Além disto, existem questões de saúde: a quantidade de hormonas e antibióticos que injectam nos animais, a quantidade de comida que é necessária para alimentar os animais… A indústria não destrói o ambiente para alimentar as pessoas, fazem-no para alimentar os animais.

Gosto da maneira como te divertes, ao mesmo tempo em que ofereces outras soluções. A maioria dos vegans que conheço não tem grande sentido de humor.

Obrigado. Acho que a diferença é simples. Não deves apenas dizer às pessoas aquilo que não podem fazer. Deves, sim, mostrar-lhes aquilo que elas também podem fazer. E isso é um processo mais complexo. A malta tem de comer e tem de comer boa comida. Mas é necessário ensiná-los a fazer precisamente isso.

Então e quanto tempo te rouba todo o processo de fazer um vídeo?

Mais ou menos um mês, mas também pode ser um pouco mais. A gravação faz-se numa noite, mas mostrar em vídeo o modo como se confecciona a comida é diferente. Acho que se torna muito mais difícil do que cozinhar normalmente. Demoro entre 90 a 120 minutos só para pôr o fato com a armadura e maquilhar-me. Editar o básico leva, aproximadamente, uma semana. Depois, o processo de criar a música dura, normalmente, mais duas ou três semanas. No fim, estou sempre a editar coisinhas, aqui e ali.

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E és tu que fazes a música, não é?

Correcto. Com excepção da bateria.

Aquela armadura que usas nos vídeos é real?

Sim, é real e pesa mesmo muito. A armadura é de plástico mas tem uma base de metal, que é o que lhe dá forma.

Estava aqui a pensar qual seria a alternativa vegan para sacrificar cabras. O que achas?

Os vegans falam directamente com Satanás e não precisamos de cabras.

Como foi a receptividade da comunidade de black metal? Apoiaram-te ou pensaram que estavas a gozar com eles?

Bem, se a comunidade black metal apoiasse alguma causa, sobre qualquer coisa, fosse o que fosse nesta merda de mundo (e até podiam ser outras bandas da cena), não seria mesmo uma comunidade de black metal. Enquanto continuarem a odiar isto e tudo o resto, significa que tudo está bem.

Acho que tens razão. Disseste que o pentagrama na tua tábua de madeira é essencial para invocar a essência de Satanás na tua comida. A que sabe a essência de Satanás?

Sabe muito bem.

Só isso?

Tens de provar. É muito bom.

Ok. Corre o rumor de que quando o Dead, vocalista dos Mayhem, se matou, os Euronymous comeram bocados do seu cérebro. Nessa situação, terias feito o mesmo ou o teu compromisso como vegan é maior do que aquele que tens com o black metal?

Boa pergunta. Não te sei responder. Tinha de estar lá para responder a isso. Não é algo em que normalmente pense, mas sim, existiria uma pequena possibilidade…

Mas é uma questão válida: muitas das tuas crenças baseiam-se no bem-estar dos animais e nos efeitos sobre o meio-ambiente. Comer o cérebro de alguém que acaba que levar um tiro não tem nada de mal, pois não?

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Não teria qual objecção moral em fazê-lo, não.

Era só isso que queria saber. Também me pergunto, tendo em conta que na Noruega a malta do black metal é conhecida por queimar igrejas, se alguma vez sentiste o desejo de colocar uma bomba num matadouro?

Bem, às vezes tenho esse desejo, mas não importa quantos matadouros ou igrejas queimes. A procura por essas coisas existirá sempre. Aliás, as companhias de seguros pagariam os danos e voltariam a construir matadouros num instante. Prefiro queimar os corações e as mentes das pessoas.

Que pragmático. Mas se tivesses de queimar alguma empresa que se alimente do sofrimento dos animais, qual seria?

Não sei, há uma parte de mim que quer deitar fogo a todas, mas, por outro lado, e racionalmente falando, prefiro que as pessoas deixem de frequentar estes sítios para que sejam eles próprios a cair.

Boa resposta. Bem, boa sorte!