FYI.

This story is over 5 years old.

Tecnologia

Tendências Tecnológicas que Precisam Sumir de Vez em 2015

Vamos falar sobre as coisas mais desagradáveis de 2014 para que possamos esquecê-las para sempre.
​Essas coisas podem se juntar ao ferro velho digital. Crédito: Shutterstock.

​Oi, gente. Parece que todos sobrevivemos ao ano que se passou, então parabéns. Dado o desastre que foi 2014 em muitos aspectos (todos concordamos que foi tudo meio zoado, com esse negócio todo de Estado Islâmico e ebola e aviões sumindo e ano mais quente de todos, além do fiasco da Sony, certo?), vamos dar uma última espiadinha no retrovisor para então desviarmos nossos olhares. É bom aprender com o passado e nunca mais ter que se preocupar com essas coisas de novo.

Publicidade

Nem tudo citado aqui teve origem em 2014, mas todos parecem ter prosperado ao longo do ano, durante aqueles tantos (poucos) dias atrás.

Campanhas de merda no Kickstarter

O Kickstarter e o IndieGoGo trouxeram à tona alguns produtos incríveis. Os sites também serviram de plataforma para pessoas que, na melhor das hipóteses, são completamente loucas, e na pior, criminosos descarados que tomaram a grana de inocentes. O Kickstarter de bosta esteve em toda parte durante 2014 – fosse o "Anona​box", o "R​ing" ou qualquer um dos milhares de projeto menos conhecidos criados por gente que não tinha a menor ideia do que estava fazendo. Sim, muito desses servem como entretenimento no /r/shittykicks​tarters, mas também complicam o processo para quem quer investir no bom trabalho bom de fato que tem sido realizado nestes sites.

Videogames sendo escarra​dos por pessoas sem experiência com hardware, sequências cinematográficas de Pokémon feitas po​r gente sem qualquer atuação na indústria e sem os direitos para fazer um filme desses, e uma série de aplicativos, quadrinhos, hardware surreais com metas absurdas (todos com fundos flexíveis, ou seja, recebendo todo o valor que conseguiram levantar) e gratificações ridículas ou estúpidas (pague 50 paus por um adesivo de para-choque! Pague 100 paus por um aplicativo de segurança! Pague 50 pilas para que seu nome seja tuitado em minha conta no Twitter com 16 seguidores) são lugar-comum nesta categoria.

Publicidade

Isso nunca vai rolar, mas vamos estabelecer uma regrar esse ano para que, a fim de criar uma campanha de crowdfunding para a sua ideia de startup, você tenha que: a) ter um histórico razoável e habilidade para entregar aquilo que está prometendo; b) deixar claro quando e qual produto você entregará e c) ofereça gratificações que as pessoas queiram a preços razoáveis em vez de cobrar 62 mil contos por uma viagem para conhecer você e os cofundadores do projeto em seu dormitório da faculdade.

- Jason Koebler

O Uber de tudo

Um clichê do jornalismo de tecnologia que eu já conhecia bem antes mesmo de começar aqui no Motherboard é fazer referência a cada nova plataforma de economia compartilhada que surgisse como "Uber para X".

Temos aí o Uber para ​a pizza, o Uber pa​ra restaurantes, o Uber p​ara guinchos. Você até mesmo pode comprar um script de "Uber para​ X" para criar um aplicativo com cara de Uber para qualquer coisa que imaginar. Além de utilizado à exaustão, o termo muitas vezes é uma metáfora imperfeita para a função da nova plataforma em questão (que geralmente não tem lá muito a ver com o Uber), sem contar que o Uber está longe de ter sido a primeira empresa a embarcar nessa de economia compartilhada (o AirBnB, por exemplo, já rolava há um ano antes do Uber aparecer).

Além disso, depois do péssimo compor​ta​mento demonstrado pelos chefõe​s e funcionários do Uber no ano que passou (​e das tretas com taxistas aqui no Brasil), a última coisa da qual eles precisam é de mais publicidade. Colegas jornalistas: por favor deixem de lado o termo e sejam menos preguiçosos ao descrever novas plataformas de economia compartilhada para seus leitores. Será melhor para todos nós.

Publicidade

- Kaleigh Rogers

"Pensinfluenciar" pelo bem do ato em si

Algumas ressalvas:

1. O papel de um especialista é comentar tudo. Eu entendo isso.

2. Provavelmente já fiz isso em algum momento e talvez esteja fazendo-o agora!

3. Nunca vai acabar.

You don't *need* to weigh in on that thing you haven't read or seen or listened to. Literally nobody asked you.

— Rose Eveleth (@roseveleth) December 30, 2014

Você não precisa dar sua reflexão de peso sobre aquela coisa que você não leu, viu ou ouviu. Ninguém te perguntou, literalmente.

Ok, com isso em mente, o que eu gostaria que sumisse é a tendência que algumas pessoas tem de fazer declarações preto-no-branco genéricas sobre qualquer coisa só porque é gostoso demais de se fazer. (Estou me banhando em favoritos no Twitter, e sentindo um cheirinho de auto-afirmação). E, olha, eu gosto quando as pessoas compartilham grandes pensamentos! Mas quando algum perito em mídia, esportes, tecnologia ou sei lá o quê começa a se meter em assuntos fora da sua área e você percebe que aquilo não é lá muito sincero, consigo sentir os salões sagrados do Templo dos Pensamentos se mancharem um tiquinho.

- Derek Mead

Aplicativos de criptografia que prometem demais

Sabe o que eu queria ver mesmo em 2015? Um aplicativo de criptografia simples de usar e que seja confiável. O problema é que mesmo que eu esbarre em um, não vou botar fé. Ao longo da última década surgiram dezenas de aplicativos e serviços que afirmam se encaixar nestes critérios – tantos que fica impossível saber em quais confiar. Até mesmo o Google e o Yahoo estão ​entrando nessa.

Publicidade

A razão pela qual quero algo simples de se usar é porque não sou especialista em criptografia. Mas isso também significa que está além das minhas capacidades verificar se estes aplicativos fazem jus às suas declarações de segurança total e, até mesmo com ferramentas endossadas por Snowden pass​ando por dificuldades, é difícil botar fé em algo. Não ajuda em nada o fato de muitos atribuírem a seus produtos características exageradíssimas como "impossível de hackear" ou "à prova da NSA". Não preciso ser um hacker para perceber que se sou um tanto quanto cético em relação ao seu marketing, o mesmo deveria acontecer com seus programas.

- Victoria Turk

#Gategate

O sufixo -gate não foi exatamente novidade no ano passado, mas, rapaz, ele esteve por toda a parte. Em 2014, um escândalo não era um escândalo a não ser que contasse com uma hashtag e uma comparação atabalhoada com Watergate por meio da estrutura favorita de junção de palavras da internet.

Watergate referia-se à tentativa da administração de Nixon de encobrir suas atividades ilegais. De alguma forma isto levou à referências semânticas em tudo que é lugar, desde o #Bendgate em que as pessoas reclamavam que o iPhone 6 dobrava-se com muita facilidade (referência ao verbo bend, dobrar, em inglês), ao #Shirtgate, em que a controvérsia reinou sobre a escolha de vestuário de determinado cientista. Leitores britânicos certamente se lembrarão do furor em torno do #Bingate, quando o participante do Great British Bake Off, espécie de concurso de bolos, Iain Watters, jogou fora seu omelete norueguês em meio a acusações de sabotagem boleira. E claro, tivemos o #Gamergate. Diria que atingimos o #PicoGate, mas isso já foi dito antes e a galerinha enfezada das mídias sociais segue adiante.

Publicidade

- Victoria Turk

Nostradamus das seções de comentários

"Estes comentários ficarão uma bosta quando todos os ____ aparecerem". Preencha o espaço em branco com o que bem entender. O que me incomoda neste comentário, frequentemente visto no começo de uma seção, é que ele deixa claro o quão rápido se passa de "ler um artigo" para "defender sua identidade como um todo". Cara, estamos na internet. Os imbecis e briguentos chegarão logo, e adiantar isso não te faz melhor que ninguém. Vocês são as primeiras gotas de uma tempestade babaca e inútil.

- Benjamin Richmond

Os termos "Normcore" e "Básico"

Se alguém se aventura na moda, então tudo bem, mas se o estilo de um indivíduo é determinado por não mudar e não ser nada interessante, não sei bem do que estamos falando. Por esse motivo, estou confiante de que o normcore sumirá por conta própria. Mas modinha "básica"? Olha, eu sei que não vai ser fácil chamar a atenção da galera ao xingar alguém de "hipster" em 2015, mas está na hora de arrumar um jeito novo de afirmar sua superioridade sobre os outros. Listinhas arrogantes, talvez?

- Benjamin Richmond

E já que estamos dando fim em palavras, podemos sumir com "guerreiro da justiça social", por favor?

Talvez seja só comigo, mas as guerras culturais pareceram bem mais ferozes esse ano que passou, né? O GamerGate não inventou o termo "guerreiro da justiça social", mas seus apoiadores, com certeza, adoraram usá-lo como um insulto/defesa/subterfúgio generalizado para serem ruins com outras pessoas.

Publicidade

O que é um guerreiro da justiça social? É alguém que quer que os outros tratem as mulheres com respeito? Que acreditam que escrever sobre games é mais que falar de frames por segundo ou mecânicas de gameplay? Que acredita que talvez devamos falar sobre a ausência de mulheres na tecnologia e na ciência?

E talvez se alguém esteja lutando em prol da justiça social, bem, talvez essa pessoa tenha um ponto de vista que ao menos merece ser ouvido?

E sobre o GamerGate… É o seguinte: games são arte – a maioria das pessoas já concorda com isso. E, enquanto arte, eles estão sujeitos a críticas da mesma forma que qualquer outra obra de arte.

Alguns destes críticos talvez estejam desconfortáveis com a ideia de se fazer um jogo que glorifica atos de violência em massa contra inocentes. Este tipo de crítica acontece o tempo todo com outras obras de arte e pessoas que gostam de cinema não perdem a razão quando o New York Times não concorda com elas sobre algum filme do Johnny Depp.

Então, se estamos falando de "éticas no jornalismo de games", vamos reconhecer que é uma faca de dois gumes. Ataques pessoais (e falo de ataques pessoais mesmo – direcionados a jornalistas, a desenvolvedoras de games, a comentaristas ou usuários do Twitter específicos) não fazem nada além de cercear a liberdade de expressão e deixar as pessoas se sentindo uma merda. Sejamos mais civilizados neste ano; vamos nos tratar bem; vamos discutir nossos argumentos, sim, mas não sejamos babacas uns com os outros e não assustemos e tentemos silenciar outros com os quais não concordamos ao abusar deles.

Isso porque, com menos vozes, menos perspectivas e menos diversidade, o jornalismo – de games ou o que for – não melhorará.

Vamos nos tratar feito gente e não sacos de pancada?

- Jason Koebler

É isso aí. Foi bem catártico. Foi o equivalente digital de escrever um bilhete ao seu ex, amassar tudo e depois jogar numa fogueira. Que comecemos 2015 com uma folha em branco.

Tradução: Thiago "Índio" Silva