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Tecnologia

​O Exército de Botnets da Realeza Espanhola

O spam político é um problema real na Espanha.
Rei do Twitter: Sua Majestade Felipe VI da Espanha. Crédito: Casa de Su Majestad el Rey

Aquele botnet – espécie de rede para tarefas automatizadas – era administrado por profissionais. Tratava-se de uma conta verdadeira, mantida por dois assistentes e controlada por mais de cem perfis falsos no Twitter. Em menos de dois meses, a rede postou mais de 41.000 tuítes. O objetivo era simples: promover um partido político, um jornal e uma casa real.

O Twitter, você deve saber, está repleto de propagandas governamentais. A rede social virou um dos fóruns políticos mais importantes do planeta. Mas, apesar da plataforma dar voz a todos, ela também oferece, para aqueles com as ferramentas certas, a possibilidade de criar um exército de bots capaz de calar os usuários reais.

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Um grupo de pesquisadores espanhóis se cansou dessa história e, de uns tempos para cá, aprendeu a programar em Python e a usar o API do Twitter para lutar contra essa injustiça.

"Essa conduta é moralmente inaceitável", dizem eles em seu blog. "Esses perfis enganam as pessoas e nós não podemos permitir que isso aconteça."

Com vocês, os perfis falsos. Crédito: Bots de Twitter

Em sua última investida, de acordo com este post, os pesquisadores rastrearam uma rede de propaganda desde sua criação em julho deste ano até sua exposição no final de agosto.

O perfil por trás desse esquema, @pplatteau_, escondia a propaganda política espanhola em meio a tuítes sobre tecnologia em inglês, que, de acordo com os pesquisadores, representaram mais de 60% dos tuítes do perfil nos dois meses em questão.

Visualização de dados em Gephi das contas falsas. Percebam como todas as contas falsas se seguiam. Créditos: Bots de Twitter

Os dois perfis assistentes, @_madeinspain_ e @__eminence__, retuitavam mensagens que promoviam o jornal espanhol La Razón, o partido político Partido Popular e a nobreza espanhola. O resto dos perfis falsos fazia o mesmo, retuitando e favoritando propaganda política dia e noite.

Pouco após a criação do botnet, que veio ao mundo lançando 200 retuítes de contas falsas em sua timeline, o usuário @_MadeInSpain_ tuitou: "esto es poder ! ^oO.Oo^" ["Isto é poder!"]

Depois dos pesquisadores publicarem suas descobertas no dia 26 de agosto, as três contas verdadeiras reagiram com desdém. Uma delas chegou a dizer: "Vocês nunca aprendem. Mais de 35 mil contas…isso é muita coisa. +/- 100 não faz diferença. Amanhã a gente consegue mais 300 :))."

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A reação das três contas verdadeira após serem expostas. Créditos: Bots de Twitter

Os pesquisadores publicaram o estudo de modo anônimo e não quiseram revelar suas identidades para o Motherboard. "Em virtude do nosso tipo de trabalho, preferimos manter nossas identidades em segredo", escreveu o grupo em um email não-criptografado. "Mas não fazermos parte do mundo das mídias sociais, tampouco estamos envolvidos com o mundo da política."

O grupo também expressou sua insatisfação com a relutância do Twitter em lidar com a questão do spam político.

"O Twitter não parece ter nenhum interesse em conter o spam político", acrescentaram. "Ele só suspende os perfis falsos… E isso quando eles não tem escolha, por causa da cobertura da mídia."

A equipe do Twitter se recusou a fazer comentários. Em nota, a empresa afirmou que "não tem nenhum comentário em relação à essa história".

Tradução: Ananda Pieratti