Olle Cornéer, do Dada Life, Fala como o Câncer Inspirou o seu Projeto Anti-EDM

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Saúde

Olle Cornéer, do Dada Life, Fala como o Câncer Inspirou o seu Projeto Anti-EDM

Com Night Gestalt, Cornéer fez música para ouvir nos fones de ouvido.

Incluindo champanhe, bananas e um mantra, "born to rage" [algo como "nascidos para destruir"], que define o espírito dos seus sets, a atitude do Dada Life sintetiza a energia hiperestimulante que dominou os palcos principais dos festivais nos últimos cinco anos. De residências em Las Vegas a guerras de travesseiros que quebram recordes mundiais, passando por um mini festival próprio, Dada Land: The Voyage — no qual chegou a bordo de um balão de ar quente na estreia, no Inland Empire of Southern California, no verão passado — não há nada de sombrio ou melancólico na dupla. Com lançamentos que incluem um disco que alcançou o primeiro lugar no iTunes, The Rules of Dada, e remixes para Lady Gaga, Madonna e Justin Bieber, o Dada Life se tornou sinônimo de diversão sem medo do surreal ou do absurdo.

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No outono de 2014, Olle Cornéer e Stefan Engblom frearam o que parecia ser uma festa interminável quando Cornéer foi diagnosticado com câncer. "Foi um choque", ele diz. "Veio do nada. Só fui ao médico para uma consulta de rotina."

Afastado da estrada e do estúdio, Cornéer anunciou seu diagnóstico aos fãs em novembro daquele ano e foi hospitalizado durante duas semanas enquanto estava em tratamento. Confrontado com sua própria mortalidade, ele se pegou refletindo sobre a vida. Algo ficou claro imediatamente.

"Percebi o quanto a música é importante para mim", ele diz. "Eu sabia disso, mas uma coisa dessas te dá um choque de realidade. Mostra o que é importante e o que não é. De um dia para o outro, tudo se tornou muito óbvio, no que vale a pena se concentrar e o que você pode simplesmente descartar."

O clipe de "The Death of SHE", que estreou no THUMP.

Cornéer decidiu retomar um projeto que havia guardado — mais sombrio e pessoal, que definitivamente não tinha nada a ver com o Dada — chamado Night Gestalt (o nome faz referência à prática psicoterápica alemã). "Vinha trabalhando nessas músicas há alguns anos", diz Cornéer sobre o projeto. "Mas não as tinha terminado até o último outono, depois de ser diagnosticado [com câncer]."

One é o disco de oito faixas de Cornéer como Night Gestalt, com lançamento previsto para essa semana. As inspirações musicais para o projeto solo são vastas (ele cita Aphex Twin e o compositor clássico Arvo Pärt como influências) e, como qualquer um que ouvi-lo vai saber imediatamente: o disco não lembra em nada o trabalho que ele faz com Engblom. "O álbum é tudo que o Dada Life não é", diz Cornéer. "Quando o ouço agora, percebo que é como pegar o Dada Life e fazer tudo ao contrário. No disco inteiro, não tem bateria, não tem baixo. É só um blip, um blip arpejado, e depois vocais usados de formas diferentes. Só queria me limitar e ver o que podia fazer com isso."

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A capa de One.

Cornéer não se acanha em falar sobre o conceito temático de One, uma narrativa meio triste de niilismo intergaláctico. "É uma história pós-apocalíptica sobre uma nave espacial que está indo colonizar um planeta. A humanidade está meio perdida, destruímos o planeta, é hora de ir, mas algo dá errado logo no começo e a nave perde o rumo e vai parar no meio do nada."

"Todo o disco é sobre o que acontece naquela nave, quando você sabe que está indo para o meio do nada e não tem nada que possa salvá-lo."

Apesar das suposições óbvias de que esta narrativa foi escrita em resposta ou reação ao seu diagnóstico, Cornéer diz que tanto o conceito quanto a música foram criados muito antes que a doença pudesse obscurecer o seu otimismo. Na verdade, de certa forma, Cornéer vê Night Gestalt como uma resposta ao mundo de fantasia criado pelo Dada, mas mais como um experimento ou desafio a si mesmo do que qualquer outra coisa.

Night Night Gestalt tem uma temática muito diferente da mentalidade "nascidos para destruir" do Dada Life.

"Não me sinto limitado no que diz respeito à dance music e ao Dada Life", ele diz. "Mas queria criar algo que não fosse dance music, como resposta ao 'EDM'. Experimentei acrescentar beats. Soou bem, talvez até melhor. Depois os excluí, de qualquer forma. Ouço ritmos e bateria na minha cabeça. Provavelmente outras pessoas conseguem ouvi-los também, então não preciso acrescentá-los! A música sempre é criada na sua cabeça."

Ainda assim, os fãs do Dada Life esperam uma festa eterna de Cornéer. Se criar Night Gestalt foi um desafio para o produtor, aceitá-lo é um desafio para os seus fãs.

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"Só de ver as primeiras reações, algumas pessoas estão entendendo, e outras estão tipo, 'O que é isto? Pare!'", ele ri. "Mas é assim mesmo. Essa música não é para todo mundo. Depois [do meu diagnóstico] no último outono, acho que ele me exigiu… Eu só não ligava mais para o que as pessoas iriam pensar. Foi natural. É o único jeito que posso descrevê-lo. No fim, espero que ele vá transcender e atingir pessoas completamente diferentes daquelas que o Dada atinge."

"The Flesh is Still in Control", o segundo clipe de

One

, uma exclusividade do THUMP.

Embora Cornéer e Engblom parecessem inseparáveis nos últimos anos, Night Gestalt definitivamente é um projeto solo. "Não falamos muito sobre ele", admite Cornéer. "Fiquei na minha, para ser sincero. Acho que nem ao menos mostrei as faixas para ele — talvez uma ou duas. Sou parte do Dada Life, mas isso não tem absolutamente nada a ver com o Dada Life."

Cornéer se recusou a discutir publicamente os detalhes da sua doença e do tratamento, mas diz que está bem, tanto física quanto emocionalmente. "É claro, tem um tempo em que você afunda até as profundezas do oceano. Mas já passei pelo tratamento e agora só faço exames de rotina de vez em quando para ter certeza de que está tudo bem."

Como Cornéer, o Dada Life é forte. A dupla volta à estrada neste verão, retomando de onde parou. "Do ponto de vista criativo, criar algo como [Night Gestalt], na verdade, me dá mais ideias para faixas do Dada Life do que o contrário", ele explica. "Preciso da dinâmica. As músicas são bem sombrias, em termos de letras e talvez de feeling, mas tem um lugar para esse tipo de música: é música para fones de ouvido, domingos e segundas! Não é fim de semana todos os dias da semana."

Night Gestalt está no Facebook // SoundCloud // Twitter

Jemayel Khawaja é editor assistente do THUMP.

Tradução: Fernanda Botta