Não vi mais nenhum fotógrafo, nenhum jornal, nada. Pelo jeito o que tinha pra ser falado sobre o acontecido já tinha sido escrito na notícia que li antes de sair de casa: incêndio em favela na Zona Norte de São Paulo deixa dois mortos e barracos queimados.
Na última segunda, dia 18, quando cheguei à Ocupação Douglas Rodrigues, no bairro da Vila Maria, vi uma fila bem grande de pessoas que estavam fazendo o cadastro pra receber o kit da defesa civil: um colchão, uma manta e uma cesta básica. Olhei para o chão e vi várias mangueiras dos bombeiros, que fui seguindo pelas apertadas vielas da favela até me deparar com o galpão queimado.
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Os moradores me contaram que cerca de mil pessoas moravam lá dentro — um galpão que pertencia a uma empresa que funcionava no local e foi abandonado. Segundo a ONG Gaspar Garcia, a reintegração de posse do local já foi adiada pelo menos quatro vezes. E depois do incêndio da última segunda (18), no terreno só se via os fogões e geladeiras retorcidos. O resto virou cinzas.
Havia um corpo carbonizado bem no centro do galpão, o pessoal achava que era o Breno. Achavam que era ele porque faltava um pé no esqueleto e Breno, de acordo com o que me contaram, era cadeirante. Mas tudo isso se ouvia em diversas versões. A polícia informou apenas que duas pessoas morreram, sem identificá-las — o Breno e um senhor que, segundo os relatos, não queria abandonar o barraco em que vivia.
Cheguei a comentar com um morador todo anonimato em torno do incêndio e ouvi de resposta dele: "Se fosse em um condomínio de playboy já tinha dado notícia na Europa". Infelizmente nenhuma novidade, nem pra mim, nem pro morador que procurava cobre no meio das cinzas pra vender no ferro-velho.
Agora com um colchão, uma manta e uma cesta básica pra recomeçar, dá pra lembrar que essas família não tem onde colocar seu colchão, nem tem um fogão e um botijão de gás para cozinhar sua cesta básica.