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Entretenimento

“Ele aprontou pra cacete”

O ator e produtor Toni Cardi prepara uma autobiografia e sobre as aventuras de Raffaele Rossi na Pornochanchada brasileira.

O ator Toni Cardi em cena do western Pedro Canhoto, o Vingador Erótico. Apesar do nome apelativo, o filme não tinha quase nada de erótico.

A maior proeza da carreira artística do cineasta ítalo-brasileiro Raffaele Rossi (1935-2007) foi dirigir o primeiro filme brasileiro de sexo explícito. Coisas Eróticas, produção que foi assistida por milhões de compatriotas, completa 30 anos de existência em 2012 e sua atribulada trajetória está no livro Coisas Eróticas- A História Jamais Contada da Primeira Vez do Cinema Nacional, do qual já falamos por aqui.  O papo agora foi com o ator Toni Cardi. O cara estrelou duas produções dirigidas por Rossi: o filme de terror O Homem Lobo (1971) e o faroeste Pedro Canhoto, o Vingador Erótico (1973), ambos fracassos de crítica e público. Atualmente, Cardi trabalha no segmento imobiliário e prepara uma autobiografia sobre suas aventuras no cinema brasileiro.

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Vice: Seu primeiro filme com o Raffaele foi O Homem Lobo?
Toni Cardi: Sim. Começamos essa produção juntos. O problema foi que demorou vários anos para ser terminado. Esse filme se iniciou em 67 e terminamos somente em 71. Depois, fomos fazer O Pedro Canhoto logo em seguida. Fui diretor de produção dos dois longas além de atuar.

Raffaele Rossi em primeiro plano. Toni Cardi é o terceiro da esquerda da direita. Cena de O Homem Lobo, primeiro longa-metragem que os amigos fizeram juntos.

Por que O Homem Lobo foi rodado em preto-e-branco?
A gente não tinha dinheiro nenhum. Comprava uma lata de filme e rodava. Foi um saco bicho. Foram vários anos que a gente brigou pra fazer. Passamos fome… Puta que pariu. Tem história pra caramba. O Raffaele é o culpado por eu ter entrado no cinema.

É verdade que ele chegou a ser preso?
Muitas vezes, muitas vezes. Ele ficava devendo as pessoas e elas corriam na polícia. Aí o tempo fechava. O Raffa era conhecido em vários distritos policiais. E sobrava pra quem ajudar a soltar ele? Eu mesmo. Você se lembra do Jacinto do Sapato Branco? [Toni Cardi refere-se ao apresentador de televisão Jacinto Figueira Júnior, que ficou conhecido como o Homem do Sapato Branco.]

Sim. Jacinto Figueira Júnior.
Esse caso é gozado. Logo na primeira semana que conheci o Raffaele, nós nos encontramos em um bar em frente a Folha de S. Paulo. Nessa noite, quem encontrou a gente lá? A equipe do Jacinto. Eles foram lá entrevistar o Raffaele Rossi: “Você comprou e não pagou?”. Eu defendia o Raffaele com unhas e dentes. Fui o maior irmãozão dele, defendia pra cacete. Ele ia preso, eu ia lá tirar ele. Ás vezes, perguntava: “Cadê o Raffaele?”, aí me falavam: “Veio um investigador e levou ele”. Ele teve um monte de escritórios no centro. Chegava num lugar, não pagava aluguel, depois ia pra outro. Ia mudando. É uma história bonita, hilariante. A gente chegava no escritório e perguntava: “Cadê o Raffaele”, “Ele foi preso”. “Mas como preso?”, “Veio dois investigadores e levaram ele”. Então ia no DOPS procurar ele. Era um sacrifício do cacete. Daqui a pouco, vinha o Raffaele Rossi com a maior cara de pau caminhando: “Dois filhos da puta me encheram o saco. Mas está resolvido”. Isso aconteceu várias vezes.

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Isso foi somente na produção do Homem Lobo?
Isso aconteceu durante o Homem Lobo e uma parte do Pedro Canhoto. Porque ele entrava de cabeça, não media sacrifícios. Raffaele respirava cinema. Ele era foda. Eu ia junto porque via o entusiasmo do cara. Pode colocar na sua matéria: ele entendia muito de cinema. Todo mundo ficava enfeitiçado pela paixão dele pela arte.

Só resumindo: O Homem Lobo deu grana?
Nada. Só perdemos dinheiro. Deu um baita prejuízo pra todo mundo.

Toni Cardi em cena de Pedro Canhoto, o segundo filme que ele fez com o diretor Raffaele Rossi.

E Pedro Canhoto?
O Pedro Canhoto remediou. Deu algum dinheirinho. Mas nada de impacto.

O Raffaele ele aprontou muito na vida?
Aprontou pra cacete, pra caralho. Puta que pariu. Ele tem muito o que pagar.

Como assim?
Porque a gente paga lá do outro lado, puta que pariu. Se pegar a capivara dele, como a polícia diz tem coisa viu? Ele deve estar esperneando. Uma pena porque ele era um cara bom. Tinha um coração maravilhoso.

O ator e diretor de produção Toni Cardi dando entrevista para a Rádio Apolo durante o lançamento de O Homem Lobo. O cineasta Raffaele Rossi está atrás em pé.

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