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Enfrentando os Caminhões de Fraturação Sísmica Da Chevron a Cavalo

Os manifestantes contra a operação de fraturação sísmica para a exploração de gás de xisto da Chevron tiveram suas barracas pisoteadas, foram espancados e dispersados pela tropa de choque no meio da noite.

Zîna Domnitea.

Pungești é um pequeno vilarejo romeno fincado, atualmente, no meio de uma operação de fraturação sísmica para a exploração de gás de xisto da Chevron. O que não agrada nem um pouco os moradores locais, que protestaram contra a exploração e conseguiram de fato parar a operação de mineração em outubro.

No entanto, às quatro horas da manhã de segunda-feira, os tratores da Chevron retornaram à cena, juntamente com mais de 250 policiais da tropa de choque. Surpreendendo os manifestantes no meio da noite, eles invadiram o acampamento e cercaram basicamente o vilarejo inteiro. As barracas foram pisoteadas pelos policiais e os moradores foram proibidos de sair de suas casas, mesmo para buscar água nos poços ou alimentar seus animais. De acordo com as autoridades, os moradores precisam ficar em suas casas para a própria segurança. Enquanto isso, a Chevron instala equipes de segurança para vigiar todas as fazendas e cria um perímetro cercado ao redor do campo de exploração.

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Também por razões de segurança, é claro, 20 pessoas – tanto ativistas como moradores locais –  foram espancados, enquanto outros 80 eram dispersados pela tropa de choque no meio da noite. As autoridades, incluindo o primeiro-ministro Victor Ponta, negam qualquer violência, mas os manifestantes têm atestados médicos provando costelas quebradas. Zîna Domnitean foi uma entre os ativistas atacados e, subsequentemente, acusados de vandalizar uma viatura da polícia. Liguei para ela para saber o que realmente aconteceu em Pungești na madrugada de segunda.

VICE: Oi, Zîna. O que diabos aconteceu?
Zîna Domnitean: Na noite de domingo, recebemos algumas ligações avisando que a tropa de choque ia tentar invadir nosso acampamento de manhã, então, estávamos alertas. Às quatro da manhã, recebemos uma ligação de um caras em Lipovăț – um vilarejo vizinho, onde a Chevron mantém suas instalações. Bebemos nossos cafés e carregamos nossos celulares. Sabíamos que – pela lei – a polícia não podia intervir antes das seis da manhã, mas às cinco eles já estavam aqui. Soamos o alarme e os moradores começaram a correr até o acampamento, mas a tropa de choque estava em maior número. Eles bateram nas pessoas e bloquearam as portas para que os outros não saíssem de casa, “para sua própria segurança”.

Vocês conseguiram registrar isso em vídeo?
Não, eles tiraram vantagem da escuridão e da falta de iluminação elétrica. Além disso, eles sabotaram nossas câmeras. Eles enfiavam lanternas nas lentes, de qualquer maneira, não conseguimos filmar nada porque não temos câmeras infravermelhas, já eles têm.

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Como você acabaram de cara com a tropa de choque?
Um dos moradores sentou na frente da primeira van, que estava guardando os caminhões da Chevron. Eu e outra mulher ajoelhamos também. Eu conseguia ver os policiais da tropa de choque chegando pelo reflexo do farol do carro. Eu estava segurando no para-choque do carro, mas um policial puxou minhas mãos e me jogou no chão.

Foi quando eles bateram em você?
Sim, eu e outro cara fomos chutados e espancados com os escudos e os cassetetes. Depois disso, eles me jogaram por cima do ombro e me carregaram até a viatura deles. Desmaiei, porque não estava conseguindo respirar. Eles puxaram minhas roupas por cima do meu rosto e me sufocaram com uma bandeira da Romênia que estava amarrada no meu pescoço. Assim que acordei, tive um ataque de pânico. Comecei a chutar e a gritar, e eles disseram que quebrei o vidro traseiro da viatura.

Então eles basicamente estrangularam você com uma bandeira da Romênia no Dia da Unificação?
Eles seguraram a bandeira para me imobilizar. Fiquei lá por uma hora e meia. Depois, eles me levaram para Vaslui, uma cidade vizinha, onde registraram as acusações e onde prestei meu depoimento. A polícia normal assumiu e fotografou as escoriações na minha perna. As da minha barriga não estavam visíveis. Quero reunir as 21 pessoas que eles espancaram para juntar provas médicas do espancamento e prestar queixa.

Do que eles acusaram você?
De danificar propriedade pública e bloquear estrada pública. Eles dizem que têm tudo filmado. Não estávamos bloqueando a estrada, só os carros da polícia – qualquer outro carro poderia ter passado ao lado. Acho que eram cerca de 800 policiais contra 30 ativistas e uns 100 moradores. Os outros não conseguiram passar pelo bloqueio da polícia.

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Algum policial chegou a falar com você?
Perguntei por que eles estavam me prendendo. Eu disse que eles eram obrigados a me mostrar suas identidades. Quando eles recusaram, chamei a polícia, mas eles riram de mim. No calor do momento, também chamei eles de traidores.

Como as coisas estão agora?
Parece uma ditadura orwelliana. Os moradores não podem levar seus animais até o açude. Eles dizem que é porque tratores grandes estão trabalhando nos campos e não podemos passar para nossa própria segurança. Enquanto isso, as forças de segurança privadas da Chevron estão vigiando todas as fazendas em suas vans.

O campo ainda está intacto?
A coisa toda é uma violação de propriedade, mas ninguém intervém. As barracas das pessoas, que estavam na propriedade de um dos manifestantes, foram destruídas. Um bar local, onde os manifestantes carregavam seus celulares e recebiam bebidas quentes, também foi fechado pela polícia.

Vinte pessoas ainda estão no acampamento. Até às dez da noite de terça-feira, as pessoas não podiam entrar – nem mesmo a imprensa. Não tínhamos permissão para levar comida para eles e eles não podiam sair. Algumas dessas pessoas são idosas. Agora, a polícia nos deixa passar, mas confere nossas identidades todas às vezes, mesmo sabendo quem somos. Eles também verificam nossos carros para ver o que estamos levando.

O que os empregados da Chevron estão fazendo agora?
Eles terminaram de montar as cercas e uma ponte de acesso. Um caminhão grande chegou hoje, mas não sabemos o que é. Duzentos policiais da tropa de choque continuam na área. Recebemos informações de que outros 300 estão ocupando um quartel dos bombeiros em Ivanesti, uma vila vizinha a 10 quilômetros de Pungești.

O que vocês vão fazer agora?
Estamos pedindo para que as pessoas do país todo venham para cá lutar conosco. Mas essa não é só uma luta física, porque sabemos que estamos em menor número. A terra foi cedida à Chevron pelo prefeito, que nem tinha a posse disso em primeiro lugar. No começo do mandato, ele simplesmente colocou a terra da vila em seu nome. Mas ele não tem nenhum documento para provar isso. Prestamos queixa sobre isso e sobre as permissões de construção. Estamos esperando pelo julgamento, mas as autoridades continuam adiando isso.

Obrigado, Zîna.