Um Fotógrafo Está Documentando os Santuários Para as Vítimas de Assassinato de Oakland

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Um Fotógrafo Está Documentando os Santuários Para as Vítimas de Assassinato de Oakland

A série White Wax, de Brandon Tauszik, um fotógrafo de Oakland, Califórnia, documenta os “santuários de assassinatos” — memoriais temporários em homenagem às vítimas da violência nas ruas da cidade.

A série White Wax, de Brandon Tauszik, um fotógrafo de Oakland, Califórnia, documenta os “santuários de assassinatos” — memoriais temporários em homenagem às vítimas da violência nas ruas da cidade. Por meio desse projeto, ele criou uma maneira de dar voz a um segmento da população cujos mortos são frequentemente ignorados.

VICE: Os santuários ficam nos locais exatos dos assassinatos?
Brandon Tauszik: Sim.

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Como você os encontra?
Procuro pelo Twitter todo dia. Há algumas hashtags, como #oakland187. Ou busco por “homicídio Oakland”, “tiroteio Oakland”, “assassinato Oakland”. Às vezes, a mídia tuíta algo sobre isso. Mais raramente, esse não é o caso. Costumo andar muito à noite. Moro em West Oakland e às vezes passo por um santuário e vou para casa procurar pelo endereço. Eles são muito comuns. Os assassinatos acontecem praticamente dia sim, dia não. E Oakland não é tão grande assim. São só 400 mil habitantes, Nova York tem oito milhões. A ocorrência é bem concentrada.

Você já teve que lidar com a família e amigos de um dos falecidos enquanto fotografava um santuário?
Sim, eles são montados pelos amigos e familiares. Tento registrar o processo, mas leva muito tempo para rastreá-los, e só fotografo à noite, para que todos tenham a mesma estética. Eu diria que interajo com a família em um de cada vinte casos, quando eles ainda estão montando o santuário. Mas, na maioria das vezes, está tudo pronto quando chego lá.

E as pessoas concordam que você faça as fotos ou isso as incomoda?
Sim, quer dizer, às vezes fico um pouco preocupado. Muitos desses assassinatos acontecem em bairros onde você não gostaria de ir por nada, e eu vou para esses lugares à noite e com uma câmera. Mas tive só experiências positivas interagindo com amigos e familiares. Eles pedem honestamente: “Por favor, tire fotos, ele era um bom garoto, isso foi por causa de uma briga sem importância, é muito triste que ele tenha partido para sempre”. Os amigos e familiares geralmente são bem acessíveis.

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Que legal da parte deles.
Alguns deles aparecem nas fotos. Eu quis deixar assim porque sinto que é uma parte importante do processo. É parte do processo de luto das pessoas de Oakland. Eu queria mostrar o produto dos santuários de assassinatos, o que eles realmente representam, mas também queria mostrar as pessoas que os fazem.

Qual é o tipo de trabalho envolvido em fazer um santuário?
Eles geralmente são montados uma ou duas noites depois do crime. As pessoas costumam se organizar: “Ei, vamos para lá hoje à noite”. Então, pode ser qualquer coisa entre cinco pessoas ou quase uma festa, com dezenas de pessoas. Você pode ver que em algumas [das fotos] há um monte de balões, velas, mensagens, notas escritas à mão, garrafas de bebida. Velas são obviamente uma parte importante dos santuários. Há um termo aqui em Oakland que se encaixa muito bem, eles dizem “Shine in Peace” em vez de “Rest in Peace”. É só uma maneira de reformular. Em vez de descansar ou dormir, a pessoa estará brilhando para sempre. O que definitivamente se liga ao uso de velas. E isso também é um evento social. Você ficaria surpreso em ver como o humor é estranhamente jovial nesse tipo de coisa. É só ver quantas garrafas de bebida aparecem. É como a última festa. É parte do processo de luto. Há muita música, gente contando histórias e lembranças da pessoa. É um grande evento social.

Então é por isso que as pessoas fazem os santuários? Para dar um último adeus?
Sim, quer dizer, é estranho. A pessoa assassinada vai ter um túmulo, um funeral, um memorial permanente num cemitério como todo mundo, mas os santuários têm um propósito diferente. Eles são efêmeros por natureza. Eles estão aqui e depois se vão. Eles são pessoais, são muito únicos. Eles ficam bem onde tudo aconteceu. Em várias fotos ainda dá para ver o sangue na calçada. É um último viva. Funerais são muito impessoais — todo mundo usa a mesma cor, todos cantam as músicas e o reverendo fala alguma mensagem, mas isso pode ser muito mais pessoal.

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Você já pensou que pode estar explorando a dor de estranhos por meio de sua arte?
Isso é algo que está na minha mente. Eu não vendo essas fotos, mas mesmo que eu fizesse isso, não sinto que estaria explorando as pessoas. Esse tipo de coisa acontece em todas as cidades e essas mortes são muito fáceis de ignorar. Elas estão escondidas em becos e bairros aonde você não vai. Se as pessoas acham que isso é exploração, tudo bem. Só quero mostrar isso na internet para as pessoas que não vivem aqui, ou que não andam por essas ruas, para que elas pensem sobre isso. Crio minha arte para explorar o mundo que conheço e propôr um questionamento para mim e para os outros. Se muitas pessoas virem meu trabalho e eu acabar tendo alguma compensação por tê-lo criado, não vejo isso como algo ruim.

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