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Bob Nickas

O Bob é hoje a voz mais genuinamente independente no mundo da arte.

Revelação: Bob Nickas foi meu chefe na revista index de 1999 a 2001. Continuamos bem amigos desde então. Cogitei não escrever uma introdução aqui porque isso é basicamente uma longa entrevista com um amigo. Mas, por outro lado, o Bob é hoje a voz mais genuinamente independente no mundo da arte. Ele é crítico e curador desde 1984 e já realizou mais de 70 exposições. Na artelândia, onde quem você conhece parece importar tanto quanto na indústria do cinema, e onde o comércio está, para dramatizar, com 100 por cento de metástase em 99 por cento do corpo, e onde as exposições e os artistas são cada vez mais promovidos em razão de interesses pessoais dos curadores do que por mérito artístico, Bob é uma das poucas vozes dissidentes. Na realidade, após ter sido uma parte integral da arte nova-iorquina por mais de duas décadas, ele está prestes a se aposentar da cidade. Após inaugurar a White Columns Annual no Chelsea esse mês, Bob jura que nunca mais fará a curadoria de uma exposição em Nova York. Velocidade de escape: alcançada.  Agora, conhecendo o Bob, fico um pouco ressabiado com grandes pronunciamentos, que ele adora fazer. Mas esse parece verídico. O mundo da arte de Nova York está perdendo uma de suas figuras mais vitais, e não posso dizer que não seja merecido. Bob transitou livremente por várias cargos e instituições, foi editor-fundador da index em 1996 (as edições que supervisionou ainda são consideradas, à boca pequena, uma das mídias alternativas mais brilhantes de todos os tempos); conselheiro curatorial do PS 1 Contemporary Art Center de 2004 a 2007; colaborador da Cady Noland, a Greta Garbo da arte, em sua instalação para a Documenta IX em 1992; e prestou serviços para a equipe de curadoria da Biennale de Lyon de 2003 e da Greater New York 2005 no PS 1/ MoMA.  Como não será fácil acompanhar os projetos que Bob estará fazendo daqui por diante, recomendo seus livros. Live Free or Die: Collected Writings 1985-1999Collection Diary e Theft is Vision beneficiariam qualquer um que se importa com arte, de verdade. Seu livro mais recente, Painting Abstraction, foi publicado pela Phaidon em 2009. É uma pesquisa monstruosa sobre pintura abstrata recente. É caro, Vale a pena. Visitei Bob recentemente em seu apartamento no SoHo. Quando começamos a conversar, ele estava me mostrando o boneco de seu próximo livro, Catalogue of the Exhibition, que será publicado pela 2nd Cannons Publications no final deste ano. Trata-se de uma retrospectiva de todas as exposições para as quais ele fez curadoria—algo muito apropriado de lançar por ocasião de seu divórcio de Nova York e a inauguração de uma nova era.  Bob Nickas: Escolhi um trabalho de cada exposição que fiz, de 1984 até agora. Todos juntos formam uma espécie de coleção ideal. A primeira obra no livro é de Vito Acconci. É uma cadeira de balanço, o encosto é um A, depois, tem um assento em que é possível ver um grande buraco circular, e as bases—que balançam—são feitas em S. Então ela basicamente diz “Asshole”. Ela fez parte de uma exposição chamada “Hunger for Words”, que também trazia um trabalho de Jenny Holzer e Barbara Kruger. A ideia era fazer uma espécie de livro de artista em que, para cada exposição, reproduzimos o convite da exposição e um trabalho.  Vice: E tem um texto novo seu para cada? 
Eu queria escrever algo para cada exposição, e você sabe, escrevo rápido, fiz isso em tempo recorde. Escrevi 77 textos em mais ou menos um mês. Eles simplesmente começaram a surgir. Alguns são curtos, outros são longos.  Como foi revisitar o seu passado dessa maneira? 
Foi como escrever minhas memórias. Muita gente, quando escreve suas memórias, faz muitas revelações ou acerta as contas antigas. Mas eu não precisava acertar contas com ninguém. Pensei: “Estou falando da minha história, e ela não vai ser reduzida a pequenezas”. E o que quer que tenha me incomodado 5, 10, 15, 20 anos atrás—já não me incomada mais. Nossa, em quantas rixas e ressentimentos você já se envolveu?
Quem passa 30 anos fazendo qualquer coisa sem elas?

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"The Art of Real", 1987.

Levando isso tudo em conta, por que você escolheu entrar no mundo da arte e fazer dele a sua carreira?
Eu queria ter uma vida de luxo e conforto. E de certa forma—sou um garoto completamente mimado—você pode dizer que foi exatamente o que eu tive. Não precisei ter um emprego convencional. Me diverti muito, tive a oportunidade de viajar e conheci as pessoas mais incríveis. Eu não teria aceitado outra coisa. Tem sido ótimo. Tive muitas oportunidades—de publicar livros, fazer exposições. Mas algumas coisas que são oferecidas a você são só problemas prestes a estourar.  Por exemplo? 
Vai ter um leilão na Phillips, organizado pelo marchand Philippe Segalot, em seus novos espaços para leilões. Ele obviamente está ganhando muito dinheiro, e reuniu coisas muito caras, espera-se um bom resultado. Isso é algo novo—o leilão como uma espécie de venda com curadoria. Alguém da Phillips me procurou um tempo atrás para organizar uma venda para eles em Londres, e eu disse não imediatamente. Por quê? 
O que significa “fazer a curadoria de um leilão”? Eles querem que você vá e encontre trabalhos à venda. E em alguns casos eles provavelmente querem que você vá diretamente até os artistas e veja se eles vão dar alguma coisa para colocar diretamente à venda. Então, em outras palavras—se uma obra nova do ateliê vai para o mercado principal, o mundo dos leilões é um mercado secundário. Mas agora eles acabaram com isso. E se um trabalho vai direto de um ateliê para um leilão, que mercado é esse? O mercado secundário se tornou o mercado principal? Seja como for, se você é curador, você é curador. Se você trabalha para uma casa de leilão, você trabalha para uma casa de leilão. Eu nem perguntei a eles quanto iam pagar. Eu não quis saber. Só disse: “Não, obrigado”. Porque senão eu ficaria pensando em todo aquele dinheiro e o que eu poderia ter feito com ele.  Sim, é melhor não saber. 
Pouco tempo depois disso, uma mulher de uma galeria em Moscou me procurou para fazer alguma coisa para eles. Eu vi fotos do espaço, é como um hangar de aviões, só que quatro vezes maior.  Onde os oligarcas vão comprar arte. 
Certo. E ela ficou me perguntando que tipo de cachê eu queria. Mas eu não gosto de falar de dinheiro. Primeiro pensei: “Talvez eu deva fazer. Vou ganhar muito dinheiro e vou para Moscou”. Mas, na verdade, eu não quero colocar os pés na Rússia. Por quê?
Por quê!!!  Sim, por quê?
Porque a Rússia foi jogada meio século para trás. É kafkiano. Ah, aqui está o homem que costumava trabalhar na KGB. Ele está em Londres agora. Vamos dar um pouco de plutônio a ele e matá-lo. Ou aquela jornalista que escreve todas aquelas coisas horríveis sobre o governo. Alguém vai tocar a campainha dela e, quando ela abrir a porta, vamos atirar três vezes, com uma última bala na cabeça. E a polícia não tem suspeitos… Mas ninguém vai envenenar você.
Por mim, ninguém deveria ir para a Rússia. Pelo menos não por causa da arte.  A arte parece circular muito atualmente, entre os colecionadores e as casas de leilões.
Antigamente, uma obra ia a leilão por uma de três razões: alguém morreu, alguém se divorciou ou os negócios de alguém sofreu uma grande queda. Hoje a pessoa está viva, ainda está casada e os negócios não vão tão bem, mas ninguém está perdendo as roupas. E mesmo assim eles saem comprando arte, parece que é uma espécie de jogo.  Isso porque estão entediados?
Não sei se é porque estão entediados ou por que razão deveriam estar mais entediados do que eu ou você. Acho que sempre foi mais fácil ganhar dinheiro com arte do que com praticamente qualquer outra coisa, e mais rápido. Agora, é possível dizer que existem muitos motivos para comprar arte. Você pode comprar obras porque é apaixonado por arte, e algumas pessoas realmente são. Mas muita gente compra arte como um capricho…  Gente rica compra arte por capricho.
Se você olhar os catálogos de leilão dos anos 50, 60 e 70—até dos anos 80—, os trabalhos são mais antigos. Não são só de alguns anos anteriores aos leilões. Hoje em dia, os catálogos de leilões estão cheios de obras que são do mesmo ano do leilão, ou de um ano e meio antes. Então, se você vai a uma prévia do leilão na Phillips em outubro, você passa pelas galerias e pensa: “Não estou apenas tendo uma prévia do leilão de novembro da Phillips, estou tendo uma prévia da temporada de arte de Nova York. Estou vendo o que todas as galerias vão mostrar no outono, inverno e na próxima primavera.

Eu não quero polêmica pela polêmica, mas o que você está dizendo é importante. E eu não me importo que esteja na mesma edição que a Marina. Não queremos uma edição monolítica com uma única opinião. 
Olha, o que eu disse foi que se ela queria recriar uma performance, ela deveria ter recriado o último trabalho de Bas Jan Ader, In Search of the Miraculous, em que ele pegou seu veleiro e tentou velejar pelo Atlântico para a Inglaterra. Ele nunca mais foi visto. Se ela realmente quer ser pioneira da re-performance, então é o que deveria ter tentado refazer.  OK, isso vai entrar. 
Pequenos pedaços do veleiro foram encontrados esmagados na costa oeste da Irlanda, e ele nunca mais visto.  Você não acha que está sendo purista demais? 
Acho que neste mundo não é possível ser purista demais. É um mundo muito impuro.  Uma coisa que foi dita é que existia uma exclusividade no trabalho dele antes, porque um estudante de arte de 21 anos não poderia ter estado em uma performance em 1974 na Europa. Mas hoje ele pode ver uma recriação. Você vê algum valor nisso? 
Eu não vejo campeões de peso-pesado recriando a luta do século. “Você pode ser Muhammad Ali, eu vou ser Joe Frazier.” Existe algum artista que tenha utilizado táticas de marketing em seu trabalho de alguma maneira que pareça interessante para você? 
Veja a figura dos anos 80 que é um exemplo de comercialização—Andy Warhol. Acho que Andy Warhol, hoje, teria inveja dos artista que criam embalagens para si e se vendem—Murakami e assim por diante. A Factory de Warhol não era nada comparada com os tipos de mega ateliês que se vê hoje. A Factory, em comparação, era um estabelecimento familiar. Fale mais sobre os motivos de você não querer mais saber do mundo da arte de Nova York. Você me disse isso algumas vezes nos últimos seis meses, e eu gostaria de ouvir em termos digeríveis. 
Quando você vê a biografia dos artistas, elas sempre dizem: “Vivo e trabalho em Nova York”. Preciso romper com isso. Eu gostaria de apenas viver aqui. Gostaria de trabalhar em outro lugar. Obviamente, eu posso escrever aqui. Escrever é uma atividade silenciosa, particular, não existe uma faceta pública em escrever, na atividade de escrever. Então parece que a coisa a fazer é morar aqui e trabalhar em outro lugar. Tudo isso está cozinhando há seis anos, desde a exposição Greater New York. Eu sinto como se aquela exposição tivesse arruinado a minha vida.  Só para esclarecer, estamos falando da Greater New York no PS 1 em que você estava envolvido…
Em 2005. Para quem não sabe, é a grande exposição que eles fazem a cada cinco anos para tentar atrair muita atenção porque o Whitney atrai atenção a cada dois anos por conta da Bienal deles. E isso foi quando você trabalhava no PS 1?
Certo. E em retrospecto, vejo como aquela exposição me tornou uma pessoa mais pública do que antes, e eu não quero mais ser uma pessoa pública em Nova York. Não fazer exposições vai ser um grande passo nessa direção. Não vou mais a eventos de arte. Não vou a aberturas de exposições, jantares ou festas. Vai ser interessante descobrir quão produtivo eu posso ser se estiver ausente de todas essas coisas que são basicamente distrações, e inúteis. Então, na verdade acho que apesar de ser visto pela maioria das pessoas como negativo, para mim, é muito positivo. Alguma coisa boa vai surgir disso.  Com certeza é uma coisa corajosa de se fazer hoje em dia.
Muitos anos atrás fui criticado por uma pessoa que era uma amiga muito próxima na época, a artista Cady Noland. Ela disse: “O que você faz é se ausentar”.  Isso é engraçado vindo dela.
Isso foi há muito tempo, na época ela ainda expunha. Aquilo me fez perceber quantas vezes você está falando de si mesmo quando fala sobre outra pessoa. Mas há uma diferença entre o estranho caso de Cady Noland e o meu. Para mim, acho que vai ser positivo. Vou estar em casa e vou estar trabalhando, lendo e escrevendo. Acho que é uma coisa boa. Você vai fazer exposiç&a