Queres arruinar um agradável jantar de família? Começa a falar de alimentos geneticamente modificados. Eles estão ao nível da política e da religião na lista de destruidores de conversas.
De um lado tens os 'nem penses', 'nem que me pagues', 'não-quero-esse-veneno-no-meu-corpo', convencidos de que a ingestão de alimentos geneticamente modificados é como mergulhar no esgoto. Do outro lado os que seguem as pesquisas e sabem que ainda não existem estudos que provem definitivamente que os OGM causem problemas de saúde. E, algures no meio, está o observador cauteloso, (à la Europa), que diz que, mesmo se os alimentos geneticamente modificados pareçam não ter problemas agora, vamos precisar de muitos anos até poder avaliar os seus impactos a longo prazo.
Seja qual for a posição que defendas, o episódio de hoje da série VICE na HBO (23:00) vai ser muito revelador. A primeira metade do episódio é dedicado a um olhar mais atento sobre as culturas GM, e vai levar o espectador num passeio global. Ao longo do caminho, vais poder visitar o maior armazém de sementes do mundo em Svalbard, Noruega, ver a luta dos agricultores de soja transgénica no Paraguai, e até vais entrar nas entranhas da besta: o quartel general da Monsanto em St.Louis.
Publicidade
Com uma equipa muito talentosa constituída por produtores, investigadores e câmeras, o editor da VICE, Joe Langford, trabalhou neste segmento (entre outros projectos) quase um ano. Ao ser neto de agricultores do Midwestern e um entusiasta da agricultura sustentável (Spoiler: ele tem abelhas), Langford sentiu-se muito identificado com este tipo de assuntos. Na véspera da estreia deste episódio, estivemos com ele para saber como tudo aconteceu.
MUNCHIES: Olá Joe. Quando começaste a trabalhar nesta investigação, que ideia tinhas dos OGM?
Joe Langford: Já leste o artigo de Vandana Shiva no New Yorker? Eu sei que os seus pontos de vista podem ser exagerados, mas valem a pena ouvir. Sim, aquela história em que ela respondeu de forma agressiva, depois o New Yorker reagiu da mesma maneira à sua resposta. Foi uma grande confusão.
É isso que acontece com os OGM. As pessoas ficam nervosas e afectadas muito rápido. Toda a gente tem opiniões. Existe demasiada informação sobre este tema. Foi complicado decidir que material manter na edição final?
Sim, sim. Eu é que fiquei na sala de edição às duas da manhã com problemas para escolher o que devia ficar e o que devia sair. Por vezes, foi um processo muito emocional. Fiquei muito afeiçoado. É impressionante que tenhas conseguido a cooperação da Monsanto. Como conseguiste?
Sim, isso foi uma grande façanha. O nosso produtor executivo BJ Levin e o produtor de desenvolvimento Mark Allen foram fundamentais para garantir o acesso. Eu não tenho certeza do quão difícil foi convencê-los, mas o processo levou bastante tempo.No passado ele ficaram bem conhecidos por negar o acesso a jornalistas. Sabes porque é que mudaram de ideia desta vez?
A Monsanto, nos últimos anos, tem recebido comentários muito desfavoráveis na imprensa internacional; parece-me que agora estão a tentar mudar um pouco a narrativa. E ao fazerem um segmento na VICE significa que querem conectar com uma audiência mais jovem. Mas, no entanto, não ficam muito bem vistos. Existem muitas coisas prejudiciais sobre como a Monsanto criou esta perigosa dependência às suas sementes e aos seus pesticidas GM. E a jornalista (Isobel Yeung) fez com que os cientistas da Monsanto engolissem em seco.
[Risos] Sim, essa parte foi óptima. Quero dizer, a Monsanto definitivamente queria mudar o nosso foco de atenção para os seus programas de reprodução de sementes não-OGM. O homem que nos mostrou as instalações foi a personagem mais folclórica que vi na minha vida. Num determinado momento ele olhou para a câmera e disse: "Este é o CSI da Monsanto!" Foi tão divertido. Quem me dera que tivesse ficado na edição final. Quinze minutos parece ser muito pouco tempo para contar uma história tão complicada. Gostavas de ter tido mais tempo?
Sim, definitivamente. O melhor é que vamos poder expandi-lo quando o publicarmos na VICE.com. Há esta cena espectacular quando um empregada da Monsanto está a falar sobre como o glifosato [um ingrediente chave no pesticida mais conhecido da Monsanto, Roundup] é muito seguro. Aí a Isobel pergunta-lhe se estaria disposta a tomar um banho imersa neste herbicida. E ela, sem hesitação, diz que sim. É a loucura total! Incluíste uma parte sobre o novo estudo da Organização Mundial de Saúde sobre a forma como o glifosato está fortemente ligado ao cancro.
Esse estudo saiu quando já estávamos na produção final, mas sabíamos que o tínhamos de incluir. Era muito relevante para esta peça. Foi um bocado em cima da hora, tivemos de fazer uma entrevista de última hora com o cientista da OMS. No geral, achas que este segmento irá surpreender os telespectadores?
Não tenho a certeza. Ou seja, as pessoas realmente interessadas neste tipo de coisas que lêem Michael Pollan e Mark Bittman provavelmente sabem o básico. O que é que tu achas? Definitivamente existe alguma informação nova para mim, especialmente sobre o cultivo de soja no Paraguai. Também ajuda a ter uma imagem visual sobre este tipo de coisas. Eu já tinha ouvido falar sobre as "super ervas" resistentes ao Roundup", mas foi surpreendente ver o tamanho delas.
Sim, definitivamente. A primeira vez que tentámos propor este projecto, algumas pessoas não estavam seguras da existência de um ângulo visual bastante forte com OGM. Eu acho que nós provámos que ele existe. Achas que no futuro vais investigar outros aspectos dos transgénicos?
Quem me dera, honestamente. Existem uma série de aspectos não relacionados com a Monsanto, sobre cientistas que estão a tentar produzir frutas e vegetais geneticamente modificados mas com benefícios reais para os consumidores. A nossa série acabou de ser renovada por mais três temporadas, talvez um dia faremos mais histórias sobre os OGM! Obrigado Joe.Este artigo foi inicialmente publicado em MUNCHIES.
Joe Langford: Já leste o artigo de Vandana Shiva no New Yorker? Eu sei que os seus pontos de vista podem ser exagerados, mas valem a pena ouvir. Sim, aquela história em que ela respondeu de forma agressiva, depois o New Yorker reagiu da mesma maneira à sua resposta. Foi uma grande confusão.
É isso que acontece com os OGM. As pessoas ficam nervosas e afectadas muito rápido. Toda a gente tem opiniões. Existe demasiada informação sobre este tema. Foi complicado decidir que material manter na edição final?
Sim, sim. Eu é que fiquei na sala de edição às duas da manhã com problemas para escolher o que devia ficar e o que devia sair. Por vezes, foi um processo muito emocional. Fiquei muito afeiçoado. É impressionante que tenhas conseguido a cooperação da Monsanto. Como conseguiste?
Sim, isso foi uma grande façanha. O nosso produtor executivo BJ Levin e o produtor de desenvolvimento Mark Allen foram fundamentais para garantir o acesso. Eu não tenho certeza do quão difícil foi convencê-los, mas o processo levou bastante tempo.No passado ele ficaram bem conhecidos por negar o acesso a jornalistas. Sabes porque é que mudaram de ideia desta vez?
A Monsanto, nos últimos anos, tem recebido comentários muito desfavoráveis na imprensa internacional; parece-me que agora estão a tentar mudar um pouco a narrativa. E ao fazerem um segmento na VICE significa que querem conectar com uma audiência mais jovem. Mas, no entanto, não ficam muito bem vistos. Existem muitas coisas prejudiciais sobre como a Monsanto criou esta perigosa dependência às suas sementes e aos seus pesticidas GM. E a jornalista (Isobel Yeung) fez com que os cientistas da Monsanto engolissem em seco.
[Risos] Sim, essa parte foi óptima. Quero dizer, a Monsanto definitivamente queria mudar o nosso foco de atenção para os seus programas de reprodução de sementes não-OGM. O homem que nos mostrou as instalações foi a personagem mais folclórica que vi na minha vida. Num determinado momento ele olhou para a câmera e disse: "Este é o CSI da Monsanto!" Foi tão divertido. Quem me dera que tivesse ficado na edição final. Quinze minutos parece ser muito pouco tempo para contar uma história tão complicada. Gostavas de ter tido mais tempo?
Sim, definitivamente. O melhor é que vamos poder expandi-lo quando o publicarmos na VICE.com. Há esta cena espectacular quando um empregada da Monsanto está a falar sobre como o glifosato [um ingrediente chave no pesticida mais conhecido da Monsanto, Roundup] é muito seguro. Aí a Isobel pergunta-lhe se estaria disposta a tomar um banho imersa neste herbicida. E ela, sem hesitação, diz que sim. É a loucura total! Incluíste uma parte sobre o novo estudo da Organização Mundial de Saúde sobre a forma como o glifosato está fortemente ligado ao cancro.
Esse estudo saiu quando já estávamos na produção final, mas sabíamos que o tínhamos de incluir. Era muito relevante para esta peça. Foi um bocado em cima da hora, tivemos de fazer uma entrevista de última hora com o cientista da OMS. No geral, achas que este segmento irá surpreender os telespectadores?
Não tenho a certeza. Ou seja, as pessoas realmente interessadas neste tipo de coisas que lêem Michael Pollan e Mark Bittman provavelmente sabem o básico. O que é que tu achas? Definitivamente existe alguma informação nova para mim, especialmente sobre o cultivo de soja no Paraguai. Também ajuda a ter uma imagem visual sobre este tipo de coisas. Eu já tinha ouvido falar sobre as "super ervas" resistentes ao Roundup", mas foi surpreendente ver o tamanho delas.
Sim, definitivamente. A primeira vez que tentámos propor este projecto, algumas pessoas não estavam seguras da existência de um ângulo visual bastante forte com OGM. Eu acho que nós provámos que ele existe. Achas que no futuro vais investigar outros aspectos dos transgénicos?
Quem me dera, honestamente. Existem uma série de aspectos não relacionados com a Monsanto, sobre cientistas que estão a tentar produzir frutas e vegetais geneticamente modificados mas com benefícios reais para os consumidores. A nossa série acabou de ser renovada por mais três temporadas, talvez um dia faremos mais histórias sobre os OGM! Obrigado Joe.Este artigo foi inicialmente publicado em MUNCHIES.