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Música

Discos: Prince Po & Oh No

Preferência pelo passado.

Animal Serum

Green Streets Entertainment

Um disco de hip-hop pode essencialmente seguir uma das seguintes vias: ou se compromete a adivinhar o futuro, prometendo

next level shit

 e desafiando até o próprio Kanye West, ou inverte a marcha, com uma fé cega na ideia de que não existe melhor tempo do que a

golden-age

 do hip-hop (ambiguamente situada nos anos de transição entre as décadas de 80 e 90).

Animal Serum

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, o álbum que junta as rimas de Prince Po e as produções de Oh No, seria, só à custa dos envolvidos, um disco contagiado por alguma nostalgia de uma colheita de 1993. Esse não é ainda assim um factor isolado, já que as restantes evidências servem igualmente para confirmar essa preferência pelo passado: seja a convocatória de rappers convidados (Pharoahe Monch, Sadat X e O.C. viveram os seus respectivos auges há já algum tempo) ou a edição consumada numa Green Streets Entertainment que tem por hábito recuperar alguns tesouros perdidos do género.

Nada disto significa porém que

Animal Serum

 seja um objecto esteticamente encalhado em determinada parte dos anos 90. “Where U Eat”, momento especialmente inspirado de Oh No nos sintetizadores, tem qualquer coisa em comum com “Footwork”, do patrão Guilty Simpson, e esta última era sem dúvida um exemplo ambicioso e fascinante de

ghetto music

 totalmente apta a tocar em discotecas (

clubs

, se preferirem). Contudo várias das marcas desta colaboração pertencem definitivamente a uma era que ficou lá atrás: este é um hip-hop demasiado revoltado com qualquer coisa pouco exacta (e isso é típico dos anos 90) e assume-o no slogan “It’s Rage against the Machine”, que é repetido vezes sem conta em “Machine Rages”. Nesta assimilação de

Animal Serum

, o mais importante será talvez reparar em como Prince Po mantém intacto um rap enérgico, incisivo e positivamente hostil, que tanto ajudou a que os discos de Organized Konfusion sejam ainda hoje verdadeiras sovas de hip-hop sem uma ruga. É indesmentível que Oh No soa aqui um pouco desgastado, mas isso até se perdoa a um tipo que se farta de lançar música. Desta vez é o MC que leva o produtor às costas, e não vem ao mundo qualquer mal por causa disso.