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Música

Discos: Earthgrazer

Uma das cenas fixes que ouvi ultimamente no novo rock.

Skyward EP

Jurassic Pop

Terá sido há sensivelmente cinco anos que perdi toda a pachorra para bandas que soassem a parasitas das enormes carcaças deixadas pelos Talking Heads e Joy Division. Nem no que tenho de mais santo encontrava paciência para qualquer novidade rock descaradamente colada ao legado deixado por essas duas bandas históricas. Só mesmo estando totalmente embriagado alguém me apanhava a dançar Franz Ferdinand ou merda assim (em Aljezur, mãos no tecto, com uma fita das obras à volta da cintura, não perguntem porquê). Fechada a porta a esse rol infinito de cordeirinhos, defendi-me de levar com muitos barretes, mas admito que também me possam ter escapado algumas coisas boas. Passei também ao lado de muitas conversas em que as pessoas falavam com grande entusiasmo sobre Beach Fossils ou Titus Andronicus, sem eu entender muito bem o que ali se passava. Os cinco anos dentro desta redoma criaram naturalmente os seus anti-corpos. Hoje venho cá para fora habitualmente rezingão e preparado para desancar qualquer novo disco de guitarrinhas shoegaze, com África à espreita e muito céu azul e sonhos para dar aos jovens que frequentam festivais.

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Skyward

, o mais recente EP dos Earthgrazer, tinha tudo para se meter a jeito de comer o prato do dia: o nome da banda é sobejamente irritante, a capa está longe de ser bonita e as guitarras por aqui tocam-me na fobia que descrevi em cima. Mas há qualquer coisa nesta mão cheia de canções que me amansou o bicho e, em pouco tempo, apetecia-me muito mais gabar estes miúdos de Chicago e West Lafayette do que dar-lhes sopa. Não posso sequer dizer que a inversão da intenção tenha acontecido à luz da extrema originalidade dos Earthgrazer, porque, entre os muitos fantasmas de outras bandas, encontramos vestígios de Modest Mouse, Fugazi, The Evens e The Presidents of the United States of America (admiráveis pela sua falta de pretensão). Mais: “Moon Shot” é um belíssimo tema guiada pelo piano, embora seja difícil acreditar que fosse igual sem os reflexos de Radiohead. Ainda assim há neste EP uma constatável vontade de servir primeiro a canção e só depois assaltar os cofres dos outros.

Apesar de ter merecido honras de single, num split com os Broken Light,"Violet and Hum" acaba por ser a mais fraquinha do EP, mas por esta altura os Earthgaze já tinham feito mais do que o suficiente para merecerem esse falhanço. Convenhamos que um refrão, em que se repete sofridamente “I Want to Free You, I Want to Free You”, não é a melhor ideia para qualquer disco lançado após 1996. Skyward felizmente termina antes de perder o pé num mar de lamechices típicas do pior dos anos 90. Quebra-se então o feitiço e os Earthgraze passam a ser uma das mais positivas opções que ouvi ultimamente no novo rock de guitarras com sonho, fofice e juventude a querer sair da casca.

Com um “best new music” estampado na testa, estariam bem encaminhados para tocar em todos os festivais do mundo diante de miúdas felizes.