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12 argumentos que todo negacionista do clima usa – e como refutá-los

“Mas e a China, hein?”
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Foto: David Cliff/SOPA Images/LightRocket via Getty Images.

É hora de acordar. No Global Climate Day of Action, o VICE Media Group vai contar apenas histórias sobre nossa crise climática atual. Clique aqui para conhecer líderes do clima de todo o globo e saber como você pode agir.

Na Europa, você não tem muitas chances de conviver com alguém que não acredita nas mudanças climáticas. Enquanto o negacionismo da crise climática está bem vivo nos EUA – até mesmo na Casa Branca – as pessoas na maior parte aceitaram que as mudanças climática, em algum grau, estão realmente acontecendo.

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Mas isso não significa que o negacionismo acabou. Em vez disso, segundo uma nova pesquisa da Universidade de Cardiff, ele simplesmente mudou de forma, para algo chamado “discursos do atraso”. Esses 12 argumentos, apoiados por políticos e figurões das indústrias, são um jeito mais sutil de minimizar a necessidade de ações para o clima do que o negacionismo total, mas continuam corroendo os esforços para mitigar os efeitos prejudiciais no clima. E eles estão se infiltrando na consciência pública rapidamente. Em vez de argumentar que as mudanças climáticas não estão acontecendo, agora você vê as pessoas dizendo que é tarde demais, muito difícil, muito controverso, muito injusto, muito apressado, tomar ações sérias sobre as mudanças climáticas.

Como você pode refutar esses argumentos quando os ouvir? Lidar com esse tipo de desinformação não é bolinho; e muitas vezes, esses argumentos são apresentados de boa fé. Mas explicar para alguém as falácias por trás desses discursos comuns de atraso pode funcionar como o que o Dr. William Lamb, um dos autores do artigo da Cardiff, chama de uma “estratégia de inoculação” contra desinformações futuras sobre as mudanças climáticas.

Aqui vão os 12 discursos do atraso, e o que você pode dizer para desafiá-los.

1. “No fim das contas, os indivíduos e consumidores devem ser os responsáveis por tomar uma ação”

Essa narrativa veio da própria indústria de combustíveis fósseis. “Eles financiam calculadoras de pegadas de carbono”, disse Dr. John Cook, professor do Centre for Climate Change Communication, “e tiro o chapéu para eles por pensar numa estratégia de relações-públicas incrivelmente eficiente para distrair o público do que é realmente necessário: transformar o modo como criamos energia”.

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Não é inútil tentar evitar o uso de plásticos, ou limitar seu consumo de carne, mas nunca vamos convencer todo mundo a fazer isso, e além do mais, há razões socioeconômicas para isso não ser possível para todo mundo. E mesmo se você fizer mudanças individuais, seria como tentar drenar um oceano com um conta-gotas comparado com uma mudança sistêmica nas indústrias poluidoras. Cem companhias são responsáveis por 71% das emissões de gases-estufa.

2. “A pegada de carbono do Reino Unido é minúscula comparada com a da China, então não faz sentido para nós agir, pelo menos até que eles ajam”

O relatório chama isso de “e-se-ismo”. A indústria agrícola aponta o dedo para a indústria automotiva, e vice-versa. Políticos apontam que as pegada de dióxido de carbono de suas nações são pequenas (no Reino Unido, a pegada é entre 1 e 2% do total mundial) e assim justificam a inação.

Primeiro, todo país pode fazer uma versão desse argumento, e assim não haveria esperança de limitar as mudanças climáticas. Segundo, esses números de 1 a 2% são enganosos, porque emissões per capita no Reino Unido são relativamente altas – cerca de cinco vezes mais altas que as da Índia, por exemplo. Terceiro, como uma nação avançada tecnológica e economicamente, temos mais habilidade para agir do que muitos outros países, e temos uma responsabilidade histórica adicional de fazer isso como um país que poluiu muito no passado.

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3. “Mas se começarmos a reduzir emissões, outros países vão tirar vantagem disso para aumentar suas emissões”

Você pode desafiar a narrativa de que necessariamente estamos abrindo mão de alguma coisa ao diminuir nossas emissões de carbono. “Há muito benefícios para nossa vida cotidiana em mitigar as mudanças climáticas, em termos de reduzir a poluição do ar local, viagens mais ativas, economizar em contas de combustível e assim por diante”, disse Lamb.

4. “Tem gente desenvolvendo novas tecnologias verdes agora, só precisamos esperar”

Quem dera. A indústria de aviação é particularmente boa em manipular esse argumento, tão boa na verdade que Matt Hancock recentemente disse que “aviões elétricos estão no horizonte”.

Mas não estão. Ou talvez estejam, daqui muitas décadas, mas o IPCC descobriu que precisamos cortar nossas emissões pela metade nos próximos dez anos. “Você precisa demonstrar que essas tecnologias não estarão disponíveis no prazo que importa”, diz Lamb, e no momento, aviões ecológicos são apenas um conceito.

5. “Já declaramos uma emergência climática e estabelecemos alvos ambiciosos”

Alvos não são políticas. Como comunidade global, estamos fazendo um péssimo trabalho para atingir esses alvos ambientais. No começo do mês, foi anunciado que a humanidade perdeu cada uma das metas do Aichi 2010 para proteger a vida selvagem e os ecossistemas.

6. “Precisamos trabalhar com a indústria de combustíveis fósseis, o combustível deles está se tornando mais eficiente e precisamos disso como paliativo antes de estabelecer o uso de energia renovável no futuro”

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Esse tipo de greenwashing é “o cerne do movimento da indústria contra regulação”, diz o relatório da Cardiff. É uma conclusão já derrubada dizer que precisamos de combustíveis fósseis por enquanto para passar para energia renovável no futuro: “Podemos pular diretamente para energia renovável”, diz Cook.

E não temos tempo para parar aos poucos o uso de combustíveis fósseis: só temos dez anos.

7. “As pessoas respondem melhor a políticas voluntárias, e não devemos tentar obrigar as pessoas a fazer alguma coisa”

Em outras palavras, o que precisamos é de cenouras, não chicotes. Coisas como financiamento de ferrovias de alta velocidade, não taxas para passageiros frequentes de voos.

Mas medidas restritivas já são uma parte normal e aceita da vida. Cinto de segurança, por exemplo, é uma medida restritiva aplicada pela lei para segurança de motoristas e passageiros, e a indústria automotiva foi duramente contra a lei do cinto no começo. Medidas restritivas podem e devem ser usadas junto com incentivos, não é uma questão de “ou isso ou aquilo”.

8. “Agir sobre as mudanças climáticas terá altos custos sociais. Os mais vulneráveis da nossa sociedade vão sofrer mais com aumento de impostos”

Essas são preocupações legítimas colocadas de boa fé. Mas, como diz Cook, geralmente esse é “um argumento de espantalho atacando basicamente uma versão inexistente das políticas climáticas”, que muitas vezes são pensadas com justiça social em mente para garantir que isso não aconteça.

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Em qualquer caso, você não tem que aumentar os impostos dos mais pobres para a sociedade mitigar as mudanças climáticas. Reduzir o custo de passagens de trem é um bom exemplo disso. E taxas para passageiros frequentes de voos saem do bolso das pessoas mais ricas da nossa sociedade, que por definição podem pagá-las.

Os mais vulneráveis na sociedade são os mais afetados em termos de saúde pela queima continuada de combustíveis fósseis – usinas de carvão, por exemplo, ficam perto das áreas mais pobres do Reino Unido – e portanto os pobres são os que mais se beneficiam de políticas verdes.

9. “Abandonar os combustíveis fósseis vai desacelerar o crescimento econômico que tirou bilhões de pessoas da miséria”

Infelizmente, esse argumento geralmente é uma alavancagem do sofrimento humano para proteger gigantes do combustível fóssil. Se realmente nos importamos com a luta dessas pessoas, devemos fornecer tecnologias de energia renovável livre de patente. E combustíveis fósseis já estão causando danos drásticos para vidas no sul global.

10. “Não devemos agir até ter certeza de que temos políticas perfeitas para abordar as mudanças climáticas”

Temos mais certeza sobre os impactos e riscos futuros das mudanças climáticas do que temos sobre cigarros serem prejudiciais para a saúde humana, e ainda assim fizemos políticas para limitar o consumo de cigarros. Não precisamos ter certeza total sobre os resultados de criar políticas climáticas, e não exigimos esse tipo de certeza em qualquer outro campo de grandes decisões do governo, como entrar em guerra, por exemplo, ou, ouso dizer, sair da União Europeia. Tomar ações decisivas sobre as mudanças climáticas vai causar muito menos sofrimento que qualquer um desses exemplos.

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11. “Qualquer medida efetiva para reduzir emissões vai contra a natureza humana e o jeito como vivemos agora, então seria impossível implementá-la numa sociedade democrática”

Essa é difícil, honestamente. Fracassamos, até agora, em mudar como vivemos o suficiente para evitar um desastre climático. Mas encontrar uma maneira de desafiar isso não é tão impossível quanto o argumento faz parecer. Para contrariar esse discurso, segundo Lamb, temos que apontar analogias históricas, de justiça social e de movimentos de direitos civis, por exemplo, que conseguiram realmente “mudar opiniões e políticas no passado”.

12. “É tarde demais para evitar mudanças climáticas catastróficas, e devemos estar prontos para nos adaptar ou morrer”

Mudanças climáticas não são um binário de ter as mudanças climáticas ou não. “Já nos comprometemos com alguns dos impactos climáticos”, diz Cook, “mas não sabemos quão ruim as coisas se tornarão”.

Também podemos argumentar que ter essa visão é uma falha moral. A Europa Ocidental e a América do Norte não serão os primeiros lugares ou os mais afetados pelas mudanças climáticas, e desistir de mudar isso é desistir das pessoas que por acaso não vivem onde vivemos.

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