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Música

O Ill Blu Está Ressuscitando o UK Funky

O duo chegou chegando e mostra não só que o gênero não morreu, mas que também pode render novos sons bem mais maneiros.

Nos verões de 2008 e 2009, o UK Funky era O som. Nas festas da Numbers em Glasgow, eu mal conseguia terminar um drinque sem ouvir o Jackmaster soltar nas caixas a bobalegrice escancarada de Piddy Py - "Giggle Riddim", o balanço infeccioso de Apple – "De Siegalizer", ou o delicado hino do dia Kyla - "Do You Mind" (Crazy Cousins Remix) – e a pista não parecia se cansar desse som.

No tempo em que o dubstep já estava se tornando aquele irmão caçula aborrescente – seus graves esmagadores extirpando a descontração das baladas, e crescendo rápido demais – o Reino Unido se agarrou a esse som funkeado como uma forma de alívio. Ocasionalmente bobo, mas sempre sincero em sua execução, esse som parecia possuir diversidade o bastante para manter o gingado dos nossos ombros, e o interesse vivo. "Narst", de Cooly G, foi daquelas que te pegam com o tempo, as buzinas de Lil SilvaFuzzy Logik e Roska infiltraram os ouvidos, e faixas como "Yellowtail" de Geeeus criavam um clima sensual e crescidinho.

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Uma gama de ritmos africanos e caribenhos, envolventes vocais de R&B, melodias mutantes de house sustentadas por uma ampla camada de 2-step; o gênero misturava elementos aparentemente discrepantes de tal forma que parecia estar prestes a se tornar uma sonoridade pop viável no Reino Unido. Só que não… Os hits das casas noturnas foram lançados meses depois da gente parar de dar ouvidos a eles (ou então nunca foram lançados), temas característicos foram parodiados, e produtores cavaram suas próprias covas ao usarem o UK Funky como trampolim para outros sons, maiores e mais comercialmente viáveis, como o crossover de grime-pop em franca expansão.

Um projeto que viu isso tudo se desenrolar de camarote é o Ill Blu. Apesar de já terem lançado três EPs desde 2010, foram seus improvisos lado b, como "Frontline" com Princess Nyah, e seus insistentes trabalhos remixando artistas como Shytie, que os transformaram em heróis. Assim como o próprio som, o espaço do Ill Blu e de tantos outros artistas em torno deles nos holofotes da cena UK Funky foi breve. Nos anos que se seguiram, seus lançamentos para a Hyperdub e Numbers pareciam mais releituras estudadas do que repetições submissas ao gênero, e o próximo EP, Blu Magic Project, a ser lançado pela Island, revela um momento em que eles estão mais polidos e prontos pra pista do que nunca.

Aproveitando sua reaparição, nós fomos atrás do duo para saber mais sobre seu novo trabalho, o que o UK Funky fez por eles – o por que eles acham que esse som nunca chegou a bombar. Abaixo, você também pode ouvir "419 feat. Seye", faixa que faz parte do EP.

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THUMP: Então, Ill Blu, vocês eram um dos artistas mais conhecido da cena UK Funky, mas vocês se afastaram um pouco disso nos últimos anos. O que vocês tem feito desde 2008/2009?

Ill Blu: Bom, nós temos produzido outros artistas de outros gêneros por trás dos panos – como Jacob Banks, que gravou no último disco do Chase and Status – mas nós suspendemos isso um pouco para concentrar no nosso próprio material durante mais ou menos um ano. Nós temos experimentado, tentando evoluir como músicos. Nós realmente nos sentimos prontos para retrabalhar o material do Ill Blu na forma de canção, em vez de instrumentais.

E o que mudou no som do Ill Blu agora?

Ill Blu: Definitivamente, há muito mais atenção à estrutura de canção. Quando compusemos "Frontline", era mais uma vibe. Não pretendíamos compor uma canção. Agora, nós temos mais noção para compreender e estruturar melhor uma música. Os discos de Funky House daquela época eram produzidos estritamente para serem tocadas nas casa noturnas. Agora nós montamos as músicas pensando diretamente no rádio, e na lógica do rádio – mas com suas raízes fincadas nas pistas. "Frontline" foi editada para tocar na pista. Ela todas foram editadas para a pista de dança.

Bom, o funky era tão underground e hermético que realmente não deveria ter dando muita atenção ao rádio. O som nunca amadureceu além de sua infância. Como você sente ao trabalhar pensando nas rádios agora?

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Ill Blu: Honestamente, é uma fórmula razoavelmente simples: introduções menores, menos viradas, com duração de aproximadamente dois a três minutos – o lance é diminuir a estrutura sem tirar a energia da pista de dança.

Tenho a impressão que o lançamento mais próximo ao UK Funky que estorou seria alguém como a Katy B. O que você acha disso tudo? O que funcionou e o que não funcionou no funky ao analisar seu apelo pop na época?

Ill Blu: Honestamente? As músicas simplesmente não eram boas o bastante. Havia algumas boas canções que a pessoas realmente se lembram, mas como um todo, o som não era forte. A maioria das pessoas que começaram a trabalhar com o som do funky chegaram junto com o hype, os artistas mais conhecidos da cena queriam pegar uma carona rápida para outro gênero onde poderiam crescer, ou ganhar mais dinheiro.

Os produtores não carregavam a cena nas costas. Eles a usaram e logo jogaram fora, depois de criar um pequeno nome na cena. Não havia bons produtores o bastante dispostos a realmente tomar alguma liderança e cultivar o som. Muitos dos MCs das faixas do funky vieram do grime, mas, ou eles não eram bons o bastante, ou não estavam tão envolvidos no grime a ponto de se destacarem, então por isso vieram para o funky.

O som também era muito novo, e cresceu tão rapidamente que acredito que ele nunca teve a chance de ter uma verdadeira base de fãs. As pessoas eram fãs das músicas, e elas funcionavam na pista, mas as pessoas não estavam lançando aqueles discos, e agora elas lançam. Eles não tinham estrutura de lançamento. Até com a gente em "Frontline", a coisa só ficou pronta depois de passados vários meses. Não havia uma atitude ou uma compreensão de como promover aqueles discos, filmar os clipes – era tudo na hora, pela diversão do som e como ele estava sendo recebido nas baladas.

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Eu quase vejo o UK Funky com uma ferramenta de balada, ou uma série de temas, em vez de um gênero ou um estilo definido. Algo como o que o Night Slugs faz agora com o Club Constructions – é por isso que o Lil Silva conseguiu se expandir.

Ill Blu:É, mas também ficou muito brega muito rapidamente. Haviam algumas que estavam realmente na pegada do som, começando a ficar pop, com MC's chegando. Esses foram os discos fajutos que fizeram barulho e ofuscaram o material verdadeiramente bom que estava saindo. O UK Funky virou uma jogada de mídia. Na real, essa foi a derrocada desse som.

Fazendo uma retrospectiva, quem você realmente acredita ser um bom representante desse som?

Ill Blu: Eu continuo classificando gente como Roska, Hard Houde Banton, Fuzzy Logik…

E MA1, Champion, Geeneus…

Ill Blu: Isso mesmo, todos eles. Eles eram todos fodas.

Eu sempre achei que MA1 – "Give It Up To Me" poderia ter sido um hit pop se estivesse no ambiente certo.

Ill Blu: Certamente! Geeneus tinha alguns bons discos lançados na época. Quando ouço de novo, sinto que o som aponta mais pro house. Aquilo não era estritamente UK Funky.

Funky agora parece mais uma vertente de percussão dentro do house. É estranho pensar hoje que o funky já foi considerado um gênero morto. Na verdade, foi mais um momento. O que aconteceu com o funky ao longo desses anos todos?

Ill Blu: Eu acredito que os DJs e produtores seguiram para sons mais focados nos graves; muito agressivos, com percussões duras. Porém, os artistas, nem tanto. Alguns se jogaram no house, mantendo tudo bem no 4x4.

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Eu achei que o funky poderia ter sido um som pop negro, novo e fresco para o Reino Unido.

Ill Blu: É, eu consigo enxergar isso. Nunca pensei nisso dessa forma. O funky poderia ter sido uma alternativa na maioria das baladas comerciais. No entanto, você pode ver isso na Katy B. "Lights On" é puro UK Funky com vocais de R&B, como várias que estamos fazendo, mas ela tem uma estrutura de canção adequada, foi lançada e divulgada adequadamente, e voltada para o público certo. Isso só mostra que de fato existe público para esse som além do underground, e que ele poderia se tornar global – mas essa oportunidade chegou um pouco tarde demais na hora de tentar vender o funky com algo dentro do house naquele momento de ebulição em 2008-2009. Honestamente, o funky estava sendo feito apenas por um punhado de artistas, então, era de fato um som protagonizado por DJs.

Então, por que o Ill Blu deu pra trás?

Ill Blu: A gente já havia remixado várias coisas na época, e tivemos conversas com pessoas que só nos taxavam de "remixers", o que não nos desceu muito bem. Nós tínhamos mais o que oferecer, então começamos a focar em expandir a nossa produção. Nós ainda estávamos produzindo faixas naquela época, mas elas não estavam sendo lançadas. Se a gente tocasse em um show, nós soltávamos elas na pista, mas além disso, preferimos manter a discrição.

Vocês sentiram que não havia uma base solida para se manter no funky?

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Ill Blu: Sim, definitivamente.

Então qual é a vibe do próximo projeto?

Ill Blu:  É mais uma mistura de funky, house e pop. Nós sempre tivemos os baixões sujos e aquele tipo de som cru, mas agora o objetivo é conseguir fundir isso com alguns elementos mais "musicais". Nossa pegada agora também é completamente diferente. Nós temos experimentado com diferentes tons vocais e tentamos coisas que ainda não ouvimos na house music orientada por graves. Basicamente, tudo se resume a uma grande elevação musical, e um enorme e gratificante drop de baixo.

O que você acha da recente invasão do house nas paradas de sucesso do Reino Unido por pessoas com Duke Dumont, Katy B e etc?  

Ill Blu: Acho genial. Foi feito para o rádio, então as pessoas podem ouvir um desafio ao que é considerado pop. É fresco, e também acho que não chega a comprometer o house underground. É apenas um sabor agradável para o pop.

E agora, o que você acha que faz do presente o momento certo para esse som?

Ill Blu: Bom, tem coisas como a expansão da rádio Rinse para a FM, e também as rádios estão bem mais focadas na música negra enquanto música pop agora. A BBC Radio One e 1Xtra, Capital Xtra, Represent, Bang Radio – todas essas emissoras estão se organizando nessa direção, e levando discos com uma sonoridade underground para o mainstream. Isso certamente afetou o pop. O que toca nas rádios é captado pelo sangue novo que entra no sistema, a molecada que cresce ouvindo garage, house e drum 'n' bass. A gente precisava de um som novo, e a hora é agora.

Você acha que o novo Ill Blu vai se encaixar nesse mundo?

Ill Blu: Definitivamente.

Tradução: Filipe Vianna