“Volta”, gritavam os amigos de Maria Eduarda durante o enterro no RJ

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“Volta”, gritavam os amigos de Maria Eduarda durante o enterro no RJ

Vítima de bala perdida provocada por um confronto entre PMs e traficantes no RJ, a adolescente de 13 anos foi sepultada no último sábado (1º).

Os amigos durante o enterro de Maria Eduarda. Foto: Fábio Teixeira/ VICE

"Duda, volta", gritava, emocionada, uma adolescente durante o enterro de Maria Eduarda Alves da Conceição, 13, morta na última quinta (30) e sepultada no sábado (1º). A garota, que sonhava em ser jogadora profissional de basquete, participava da aula de educação física na Escola Municipal Daniel Piza, em Acari, zona norte do Rio de Janeiro, quando foi vítima de bala perdida. Um vídeo de celular comprova que PMs e traficantes estavam em confronto na área externa da escola. Ainda não se sabe de qual lado partiram os quatro tiros que atingiram a jovem. O laudo sairá entre 10 e 15 dias.

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Filha de um pedreiro e de uma acompanhante de idosos, Maria Eduarda se dedicou ao basquete nos últimos três anos e tinha uma coleção de nove medalhas. Quando a ambulância chegou ao local para socorrê-la, já era tarde. Morreu vestindo o uniforme da escola e uma blusa de frio com listras rosas e brancas.

A irmã mais velha de Maria Eduarda sendo contida. Foto: Fábio Teixeira/ VICE

A avó e a irmã mais velha de Duda, como era chamada, desmaiaram durante o enterro no Cemitério Jardim da Saudade, em Mesquita, região metropolitana do Rio. A mãe estava tão debilitada emocionalmente que sequer pôde acompanhar totalmente o momento em que a filha foi sepultada. Em um vídeo publicado nas redes sociais por Antônio Carlos da Costa, presidente da ONG Rio de Paz, é possível ver e ouvir o desespero dos parentes amigos da menina. "Maria, volta, amiga. Vem correndo me dar aquele abraço", ouve-se. Ao tentar se contida, uma das garotas replica: "Ela está sendo enterrada, cara. Eu não vou ficar tranquila". Comovido, Antônio Carlos olha para a câmera e diz: "O que eu vi nesse cemitério jamais vai sair da minha memória".

Foto: Fábio Teixeira/ VICE

Com a blusa que Maria Eduarda vestia no momento em que foi morta, os pais estiveram no IML na sexta (31). "Meu coração está partido no meio", disse ao jornal O Dia Antônio Alfredo da Conceição, 63, pai da garota. "Eu sou pedreiro, honesto. E, de repente, um indivíduo vem e tira o bem mais precioso que você tem. Qual é o pai que não vai sentir um pedaço sumir dentro dele? Eu criei, trabalhei, mão calejada, trabalhei duro para dar o que podia para minha filha. Aí, meia dúzia de PMs, sem preparo nenhum, saem dando tiro para cima e para baixo como se estivessem matando um monte de passarinho. E tiram a vida de uma criança de 13 anos", falou.

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Durante o sepultamento, não eram apenas os gritos de saudade que podiam ser ouvidos, mas também os pedidos de justiça. O prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (PRB), chegou já no final do enterro e, em entrevista, criticou a ação da Polícia Militar.

Foto: Fábio Teixeira/ VICE

Nesta segunda (3), a família de Maria Eduarda está sendo recebida por Marcelo Freixo (PSOL), deputado estadual e presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa. Quem investiga o caso é a 2ª Delegacia de Polícia Militar Judiciária (DPJM) investiga o caso.

POLICIAIS ENVOLVIDOS

De acordo com o jornal Extra, os dois PMs envolvidos no caso são o sargento David Gomes Centeno e o cabo Fábio de Barros Dias. Eles já teriam se envolvido em 37 autos de resistência — mortes de suspeitos durante operações policiais — desde 2011.

Policiais Militares executam dois homens próximo ao local onde a jovem foi baleada. Vídeo: Reprodução Youtube

REPERCUSSÃO

Até outubro de 2016, Maria Eduarda participou de um projeto da ONU sobre empoderamento de meninas pelo esporte. Nadine Gasman, presidente da ONU Mulheres Brasil, se manifestou em nota oficial. "Reiteramos o apelo público em defesa do direito das mulheres e meninas, notadamente as afro-brasileiras, a terem uma vida sem violências, incluindo o respeito à memória das vítimas."

Ela também citou o Mapa da Violência 2015 sobre o assassinato de mulheres, que apontou um aumento de 191% de vitimização de negras no país entre 2003 e 2013.

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