VIDA DE PRODUTOR DE CONTEÚDO
Mesmo que não possamos decifrar a cor do vestido… Podemos decifrar a beleza da máquina adaptável que é a internet, gente!

FYI.

This story is over 5 years old.

Tecnologia

VIDA DE PRODUTOR DE CONTEÚDO

Memes virais como “Qual a cor deste vestido?” me lembram porque não há nada de interessante que valha a pena ser feito na internet.

Após a ascensão e ​queda da minha fazendinha de conteúdo, HIPSTER RUNOFF, estou voltando a gerar conteúdo textual para a internet, ou como as pessoas que nunca geraram conteúdo na vida chamam, "escrever". Durante meu colapso, perdi a capacidade de "consumir cultura normalmente" como um feliz observador da internet. Em determinado momento acreditei que criava conteúdo original, influenciava e mudava o mundo.

Publicidade

Agora só consigo ver o mundo através de uma lente onde analiso tópicos e os abordo de uma perspectiva adaptável. Encontro todo e qualquer pensamento, imagem, vídeo, infográfico e meme e me pergunto "Como converter isto em conteúdo? Quão adaptável este possível conteúdo se tornaria nos meios de aceitação viral?"

Não vejo a internet como uma comunidade orgânica de ideias compartilháveis embalada na forma de conteúdo. Trata-se de um arranjo elaborado de códigos levado adiante estrategicamente em meios populares para distorcer sua realidade, deixando você mais dependente desse tal arranjo elaborado.

VIDA DE PRODUTOR DE CONTEÚDO documentará minhas percepções do mundo da perspectiva de um criador de conteúdo de ponta preso no contexto da criação do mesmo. Palavras organizadas só são adaptáveis porque a maioria das pessoas é, basicamente, analfabeta e preferiria ver um vídeo ou slides de qualquer forma.

Memes virais como "Qual a cor deste vestido?" me lembram porque não há nada de interessante que valha a pena ser feito na internet. Mesmo que você pudesse escrever um post intitulado "O Segredo Para a Felicidade Universal" que contivesse de fato o segredo para a felicidade universal, seria impossível alcançar um público que buscasse mesmo isso.

Pelo contrário, seu conteúdo ficaria perdido em um mar de páginas criado por empresas de mídia e varejo. Você se perderia em seus sites, lhe desencaminhando da busca por felicidade universal.

Publicidade

Você nunca encontrará a felicidade. Provavelmente só uma palestra enrolona no TED que te faz sentir "mais esperto" por conta da apresentação visual do conteúdo consumido por você.

O vestido colorido é o tipo de conteúdo mais bem sucedido, independente de como o criador daquele conteúdo dá sua "opinião" ou quão eloquentemente o meme é contextualizado instantanea/historicamente. "Todo mundo" tem que saber do meme para "se encaixar" em conversas imbecis no escritório ou tópicos na internet. É só uma imagem no topo de uma página, e o que vem escrito depois dela pouco importa enquanto a galere cria seu próprio conteúdo/comentários [por meio de discussões]. A imagem é fácil de ser exibida ao esticar seu celular para alguém A miniatura que 'representa' o post fica na barra lateral da página da empresa de mídia como uma imagem universalmente identificável que todo mundo pode clicar após ler a manchete otimizada.

O vestido azul reduz a internet à sua finalidade ideal, espalhar informação que carrega da forma mais rápida possível (no seu cérebro e em seus dispositivos). A internet é só um lugar razoável em que questionários fazem mais sentido que "textos longos". Vídeos fazem mais sentido do que dois parágrafos de bobajada esquecível. Ler um caractere faz mais sentido do que ler 10.

O vestido representava o conteúdo de internet perfeito.

Ele era apropriadamente imersivo, organicamente compartilhável em qualquer canal possível, e permitia que as pessoas percebessem a internet como alteradora do mundo real, criando um espaço onde a internet em si poderia ser discutida por gente obcecada com a internet.

Publicidade

O vestido em si era o ponto focal do conteúdo. Criar um texto qualquer ou explicar a "a história por trás do meme" não importa. Tudo que importa é dar choques no cérebro com aquele VeStIdO LoKo! Não importa o quão "sofisticada" ou "autêntica" seja sua mensagem, no final das contas você está criando uma landing page que será interpretada pelo público como "tendência".

A viralidade é mais um processo orquestrado de passos tecnológicos do que algo "criado organicamente" por "usuários de mídias sociais".

O conteúdo perfeito gera engajamento "natural" que apoia as mídias sociais como um mecanismo de engajamento natural.

O "mundo real" é tão segmentado que seu vizinho tem um conjunto de interesses completamente diferentes do seu. Porém, a internet nos deu a oportunidade de criar modelos analíticos para monetizar tendências em engajamento. Pageviews, visitantes únicos, comentários, compartilhamentos, reblogadas, retuítes e likes são todos dados analíticos arbitrários que aceitamos como validadores na internet. Há um segmento significativo do mundo ocidental na internet ligado ao meme do dress. Estes "foram às mídias sociais" consultar sobre o tópico. O legado do meme foi promovido, e em questão de meses, ele poderá ser recirculado como parte de uma onda nostálgica.

Engajamento no Facebook

Para "viralizar" o conteúdo não pode depender só do Twitter – a viralidade mainstream de fato exige validação no algoritmo social do Facebook. O paradigma viral atual deixa o conteúdo online dependente do Facebook para chegar aos confins do mundo. Apesar do Facebook criar barreiras para produtores de conteúdo, dificultando que o que é produzido chegue aos seus fãs, ainda fornece uma oportunidade de se chegar aos atrasados tecnológicos da sociedade, que são o maior segmento. Muitas destas fazendas de conteúdo desenvolveram sua estratégia digital em torno do Facebook. Basicamente, o canal digital é recompensado por subir conteúdo no Facebook ao invés de simplesmente fornecer um link para fora dele. Quanto mais comentários na postagem do Facebook, mais feeds serão invadidos.

Publicidade

Aprovação de "Canais Respeitados"

Uma das minhas fases preferidas dos virais é quando eles recebem "cobertura" pela mídia "respeitada" que não é marcada como uma geradora de conteúdo que é puro lixo. Porém, estas marcas são igualmente dependentes dos memes de massa. Muitos dos artigos publicados fazem um "panorama" para explicar o meme, utilizando sua "autoridade" para dar uma "perspectiva mais profunda" do que só perguntar às pessoas qual a cor do vestido. Eles se valem do "jornalismo" e da "arte de escrever" para trazer o processo de "viralizar" à vida. Eles "explicam" o meme para pessoas que não usam tanto a internet assim enquanto tentam se relacionar com "pessoas dependentes da internet".

Aprovação de celebridades nas redes sociais

A fim de parecerem "identificáveis" aos humanos comuns, as celebridades tem que monitorar as redes sociais e dar suas opiniões sobre qualquer bosta. Isto é o que os faz "normais". Eles reforçam os mecanismos que os transformam em tendências para continuarem dignos de tendências, reforçando a mídia social como um contexto que formata uma versão da realidade que lhes confere alcance. Taylor Swift "recorreu ao Twitter" para colher "opiniões" sobre "a controvérsia" que é "o vestido que está quebrando a internet!". Isto significa que é algo importante. Estamos todos juntos nessa, criando a viralidade de forma orgânica.

Explicando o vestido de uma perspectiva científica

Publicidade

Já que boa parte do conteúdo compartilhável é porcaria sem procedência, "conversar com um especialista" que supostamente "se especializa" em um campo aplicável faz parecer que você "se importa mesmo" Mesmo que não entendamos as especialidades de nicho na ciência, é sempre legal quando um "criador de conteúdo autêntico" manda um email para um respeitado professor de uma universidade qualquer pra pegar uma declaração. Você provavelmente poderia perguntar a qualquer um trabalhando na Chilli Beans do shopping (ou ao Neil deGrasse Tyson). Este tipo de conteúdo com base científica é excelente para compartilhadores de Facebook que querem posicionar sua marca online como "acima de qualquer tendência". Algumas explicações científicas nos ajudam a "compreender o mundo" [através da ciência].

Utilizar uma voz ambígua que representa a "voz de um público em geral".

Minha tendência favorita na criação de conteúdo é a voz do conteudista generalista. Este cria um tom pansexual inofensivo que é excelente de se compartilhar. Por exemplo, "Esperamos conseguir descobrir que cor achamos que é o vestido antes que a chapa esquente! Vamos só concordar que discordamos!" Este tom permite que se escreva sobre qualquer assunto "controverso" ou superficial, permitindo que os leitores entrem no assunto sem se sentirem presos a uma opinião muito forte.

"Poderia o vestido nos ajudar a perceber que questões raciais não importam porque nossos cérebros simplesmente veem as cores de um jeito diferente?" – algum escritor de artigo opinativo.

Publicidade

Cada criador de conteúdo depende de uma "tendência", reforçando os construtos da internet como um lugar em que as coisas se espalham "organicamente". Aqui estou, levando a vida na fazendinha de conteúdo, preso, escrevendo sobre algo como se estivesse "acima" dele, mas a oportunidade deste post atingir um grande público já passou. De fato, o tempo do post o c afasta da oportunidade máxima de capitalização na janela de compartilhamento ideal.

Quem liga pro vestido?

Como eu poderia chamar a atenção de gente que acha que está "por dentro" das tendências antes de elas popularizarem?

Por que a internet tem que ser "compreendida" por aqueles que usam ou não usam a internet?

Por que minha identidade social tem que ser construída em uma conexão relativa a um segmento de cultura estrategicamente adaptável [via conteúdo de internet]?

Por que estou escrevendo sobre conteúdo quando a maior parte do público nem quer saber de romper a quarta barreira de conteúdo internético?

Se eu descobrisse a cor exata do vestida, minha vida/a internet/humanidade/cérebro humano faria mais sentido?

carles.buzz derrubou sua própria fazenda de conteúdo adaptável, HipsterRunoff e criou o INADAPTÁVEL projeto midiático carles.buzz.

Tradução: Thiago "Índio" Silva