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Tecnologia

​‘Mr. Robot’ quer mudar o debate em torno da criptografia

Conversamos com a mente por trás da série para sacar o que será abordado na segunda temporada. (Terá brigas criptográficas com o FBI, sim.)
Crédito: USA

Este texto contem alguns spoilers da primeira temporada de Mr. Robot.

Elliot Alderson, o brilhante protagonista de Mr. Robot, criptografa tudo que faz. É óbvio. Tive que confirmar o fato com o roteirista e diretor Sam Esmail, a mente por trás do thriller hacker revelação de 2015.

"Sim, absolutamente", me disse Esmail enquanto sentávamos embaixo de uma roda gigante temática de Mr. Robot no festival de música, cinema e tecnologia SXSW Interactive em Austin, no Texas, nos Estados Unidos. "Creio que ele criptografaria tudo, com certeza."

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Os dez estonteantes episódios movidos a drogas da 1ª temporada da série retrataram os hackers de forma mais realista do que qualquer outra obra pop de ficção anterior. Elliot, membro da F Society, coletivo hacker baseado no Anonymous, entra nas vidas de suas vítimas ao fingir ser o que quiser — parte do departamento de fraudes de bancos, por exemplo.

No final da 1ª temporada, ele é o responsável por uma enorme invasão que chamará a atenção do FBI na 2ª. "O FBI não estava na primeira temporada porque ainda não havíamos cometido nenhum crime grande", disse Esmail. "Agora que o crime foi cometido, quero trazer este aspecto para o mundo. É algo que as pessoas não entendem as nuances ainda. A segunda temporada é uma oportunidade para isso."

A série chega em momento quentíssimo. O debate em torno de se o FBI pode ou não exigir que a Apple o ajude a recuperar arquivos de iPhones criptografados segue forte nos círculos tecnológicos, tribunais e no Capitólio. Trata-se de um tema esotérico que, nas mãos erradas, pode se tornar brutalmente enfadonho ou sensacionalizado demais. Esmail, talvez encorajado pelo sucesso da primeira temporada, acredita que conseguirá capturar os pormenores sem perder a atenção de seus espectadores. Um dos atrativos é a presença da atriz veterana de Newsroom e American Horror Story, Grace Gummer. Ela embarcou na série para interpretar uma agente do FBI que investigará o ato criminoso.

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"Sempre me frustrei com programas e filmes sobre 'hackers' e digo isso entre aspas porque essencialmente tratam como se fossem gráficos bregas voando em direção à tela", disse Esmail. "Queria fazer algo para mostrar que hackear não é só ter um cara colado no teclado; tem a ver com engenharia social e sutilezas de tentar encontrar a vulnerabilidade de alguém e explorá-la. Fico feliz em mostrar este outro aspecto, pois é desta forma que as pessoas serão hackeadas."

Ver Alderson descobrir as senhas ou a pergunta de segurança de alguém não é tão sensual quanto, digamos, um hacker bombadão atirando com lança-foguetes em pessoas por duas horas, mas é mais convincente e mais importante do ponto de vista social. O público recebeu bem.

O piloto da série estreou no SXSW há um ano, em um pequeno cinema. Neste ano, a instalação da mesma no festival – que conta com uma roda gigante e o fliperama da F Society – conta com filas que dão volta no quarteirão.

"Não sei se a série tem ganho fôlego ou se é um processo lento", disse Esmail. "É uma série estranha sobre hackers, um assunto meio obscuro pro público. Meu sonho era que virasse um hit cult – o fato de que estourou é meio louco pra mim."

É inegável que Mr. Robot teve impacto real no discurso público. Mudou a forma como as pessoas levam em conta sua segurança pessoal. Christian Slater, que interpreta Mr. Robot no programa, brincou em um debate que trabalhar na série não o fez querer ser um hacker, e sim melhorar sua segurança. "Meu nível de noção de todo esse lance tecnológico aumentou, com a atualização de senhas e todas essas coisas", disse.

Com maior segurança agora, Esmail diz que é hora de entrar no debate da criptografia.

"Não sei se é nosso papel comentar o tema, mas sim trazê-lo à tona e conversar sobre – criptografia – Apple versus FBI", disse em palestra. "Falamos com nossos consultores do FBI sobre isso e me oponho totalmente [aos seus pontos de vista] e estou do lado de Tim Cook. Devemos ter algo sobre criptografia, que fazia parte do enredo antes de tudo isso acontecer. Privacidade será uma das grandes questões da próxima década. Se nossa série ao menos contribuir com essa conversa, mais pessoas tomarão parte nela."

Tradução: Thiago "Índio" Silva