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Desporto

A verdadeira origem do futebol: acabar com a masturbação

O futebol não foi criado como entretenimento de massas, mas sim para salvar os homens do vício.
A equipa Queens College da Universidade de Cambridge. Imagem via Wikimedia Commons.

Este artigo foi originalmente publicado na nossa plataforma VICE Sports.

Nem uma manobra de diversão e muito menos um mero entretenimento. O futebol, esse desporto que gera milhões, não nasceu como um espectáculo de massas. Foi, sim, criado para salvar os homens do vício.

Na segunda metade do século XIX, a (agora) prestigiada (e mista) Uppingham School tinha determinadas normas: se algum aluno (apenas homens, claro) fosse apanhado num momento de auto-exploração corporal era automaticamente expulso. Andar com a mão enfiada dentro das calças arruinava o ambiente de pureza que a escola pretendia manter.

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Mas, claro, a carne é fraca e a tentação está ao virar da esquina – especialmente, em certas idades em que as hormonas brotam por todos os poros do teu corpo. Por isso, a direcção da escola propôs a prática de desporto como arma crucial para lutar contra esse vício chamado onanismo.

Uppingham School. Imagem via

É fácil imaginar as razões desta repressão sexual imposta. Nada de novo, para dizer a verdade. A sociedade victoriana tinha uma preocupação especial por essa coisa que é a masturbação, por motivos tão disparatados como as suas consequências (a clássica obsessão que assustou gerações e gerações) e, sobretudo, pelo perigo da sobrevivência do Império Britânico: existia o medo de que bater uma fosse o primeiro passo para o descontrolo pecaminoso e intolerável que poderia surgir: bater muitas mais. A linha que separa a autocomplacência da homossexualidade é demasiado fina. Pois, claro que sim.

Um dos homens por detrás destas teorias retrógradas foi o respeitado Edward Thring, director da Uppingham School durante mais de 30 anos. Considerado um dos pais dos métodos de ensino na educação pública inglesa e digno de um artigo na Enciclopédia Britânica, Thring estava obcecado com a luta contra esse pecado horrível que os jovens ingleses cometiam quando se aliviavam a si mesmos.

Edward Thring. Imagem via

Nesta luta particular contou com a inspiração e ajuda imprescindível do seu irmão. Não é que John Charles Thring fosse um santinho. Ou às tantas era, mas isso agora não interessa. A influência do irmão do director foi algo surpreendente. J.C. Thring foi uma peça fundamental no desenvolvimento e evolução das normas do futebol.

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Em conjunto com Henry de Winton, Thring publicou em 1848 (poucos anos antes de o seu irmão chegar à direcção da Uppingham School) a primeira colectânea de regras do futebol, adaptadas, maioritariamente, das universidades inglesas, as famosas Regras de Cambridge. Tal como explica David Winner no seu livro Those Feet: A Sensual History of English Football, o respeitado director tinha colaborado, a partir da direcção da escola, com a expansão do futebol como desporto.

E não só. Edward, com o seu papel super influente na educação, foi um dos que adaptaram este conceito à rigidez victoriana. Nascia com ele um movimento em que o desporto e o músculo formavam um dos pilares do imperialismo.

"Os alunos de Uppingham School tiveram de jogar futebol e dessa forma evitar cair nas garras da masturbação".

No meio de tantas palavras elegantes e pomposas existiam dois elementos-chave que mantinham a rigidez e a sobriedade da época: a prática do desporto e a repressão sexual que, além do mais, se complementavam. O desporto liberta tensão suficiente para fazer esquecer o que as hormonas podem provocar - o acto pecaminoso que todo o homo adolescentus tem. E, obviamente, há que praticar algum desporto que estimule a masculinidade dos teus alunos.

Se o teu irmão é um aficionado do futebol, o mais certo é que aconteça o que realmente sucedeu: os alunos de Uppingham School tiveram de jogar futebol e, dessa forma, evitar cair nas garras da masturbação. E, com eles, todas as escolas inglesas que, posteriormente, seguiram a metodologia aplicada por Thring.

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Portanto, a expansão do futebol acelerou-se graças à repressão sexual. No último Mundial o governo Brasileiro distribuiu milhares de preservativos, embora o futebol tenha florescido, entre outras coisas, com o intuito de que os gajos da época não se deixassem levar pela auto-complacência, vezes e vezes sem conta.

Até porque, como toda a gente sabe, jogar futebol tira a vontade de usar a mão direita. Além disso, futebol não é para mariquinhas, pois não Capello? Pode não parecer, mas entre uma coisa e a outra, passaram mais de 150 anos.


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