FYI.

This story is over 5 years old.

Música

Discos: Lily Allen

Sentimentos mistos.

Sheezus

Parlophone

Quando algures em Novembro do ano passado se soube que ia haver novo disco da Lily Allen este ano, isso trouxe-me um sentimento ambíguo. Por um lado, é inegável que a londrina sabe escrever canções pop para ouvir uma e outra vez — e se têm dúvidas, vão já meter aí a bombar a "Smile" ou  a "Not Fair" e digam-me que estou errado (dica: não estou). Por outro, a acompanhar esse anúncio veio "Hard Out Here", single de avanço do disco que era, e é, bastante fraco. Seguiu-se mais tarde "Sheezus", canção que dava o nome ao disco (um toque no disco do Kanye West que, sejamos sinceros, só deve arrancar um sorriso esforçado uma ou duas vezes) e que também ela parecia uma paródia digna do Weird Al Yankovic ou assim: essencialmente, um

Publicidade

name-dropping

 excessivo das divas pop do momento sobre uma batida eletrónica bastante vulgar. Parecia pretender ser um comentário social e uma declaração de guerra, mais do que uma canção. A aparente fuga ao universo da pop fofinha e colorida dos dois discos anteriores para dar lugar a uma abordagem mais acéfala na eletrónica e esta insistência num

statement

 contra a alta sociedade da cena musical não augurava nada de bom. Afinal de contas, quem não vê o canal E! que atire a primeira pedra.

Em parte, esse presságio concretiza-se: para além dos dois singles que provavelmente constituem duas das piores canções aqui presentes, encontramos algumas canções com menos ideias boas que as dos discos precedentes. Não desapareceu a

coolness

 sarcástica da Lily Allen (muito pelo contrário) mas muitas vezes aqui torna-se demasiado gratuita, sem que haja uma melodia assim tão interessante a sustentá-la. No entanto, Sheezus acaba por não ser um disco assim tão trágico, já que a compensar tudo isto existem canções dignas de ficarem na memória, que demonstram a pop fofinha e adorável em todo o seu esplendor: "As Long As I Got You", quiçá a melhor disco, em nada fica a dever às melhores malhas dos anteriores discos.

Alright, Still

e

It's Not Me, It's You

foram álbuns bastante bons, sem espinhas. Já

Sheezus

evoca sentimentos mistos e é difícil de entender totalmente: ora oferece belos momentos em bonitas canções, ora quase chega a ser embaraçoso nos ataques cerrados aqui cantados. Numa escala binomial entre o bom e o mau, encontrar-se-á praticamente a meio caminho. Para desempatar, uma versão da "Somewhere Only We Knew" bastante menos detestável que a original. Valha-nos isso.