Este artigo foi originalmente publicado na nossa plataforma Motherboard.No dealbar do novo milénio, dos detritos culturais da época, emergiu uma página tão bonita quanto bizarra, que obteve, contra todas as expectativas, um enorme sucesso na então burguesa internet: "O Guia da Britney Spears para a Física de Semicondutores", uma espécie de manual de física para não-iniciados, que, caso tenhas dúvidas, continua a existir através do humilde URL britneyspears.ac.
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O site apresenta resmas de informações sobre tudo, desde o funcionamento básico dos semicondutores – como materiais tipo silício podem ser "reforçados" com impurezas para conduzirem corrente eléctrica, e formam a base da electrónica moderna – até entradas sobre a "barreira finita do poço quântico" e a "fotolitografia". É mais ou menos como o "InfoSec Taylor Swift", mas focado na física em vez da cibersegurança e, claro, permeado pela estética de uma época em que achávamos boa ideia usar gravatas como se fossem cintos.
E tudo isto teria sido escrito por Britney, exibida no site como pop star e génio da física. A verdade, porém (pasme-se), é que o site não foi criado pela cantora (desculpem fãs, é duro mas é a verdade), e sim pelo então jovem Carl Hepburn, um pós-graduado em Física Teórica da Universidade de Essex, Inglaterra.Hepburn diz que o site foi criado em 1999, apesar de o cache mais antigo do Archive.org datar de 2000. Certo é que, em 2001, o site tornou-se viral e causousensação na comunicação social. Até a editora de Britney aprovou a página. Quinze anos mais tarde, o Guia continua activo, com fotos vintage da cantora carregadas de glamour e uma data de outras coisas.Fiquei curioso por perceber o que Hepburn fez nestes anos todos depois de a sua invenção da Internet 1.0 se ter tornado viral. Mandei um e-mail para o endereço referido no site (do hotmail, óbvio) e, para minha surpresa, Hepburn respondeu.
E tudo isto teria sido escrito por Britney, exibida no site como pop star e génio da física. A verdade, porém (pasme-se), é que o site não foi criado pela cantora (desculpem fãs, é duro mas é a verdade), e sim pelo então jovem Carl Hepburn, um pós-graduado em Física Teórica da Universidade de Essex, Inglaterra.Hepburn diz que o site foi criado em 1999, apesar de o cache mais antigo do Archive.org datar de 2000. Certo é que, em 2001, o site tornou-se viral e causousensação na comunicação social. Até a editora de Britney aprovou a página. Quinze anos mais tarde, o Guia continua activo, com fotos vintage da cantora carregadas de glamour e uma data de outras coisas.Fiquei curioso por perceber o que Hepburn fez nestes anos todos depois de a sua invenção da Internet 1.0 se ter tornado viral. Mandei um e-mail para o endereço referido no site (do hotmail, óbvio) e, para minha surpresa, Hepburn respondeu.
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Hepburn já não é um físico no activo – afirma que "ficou sem tempo nem dinheiro" – e que nem faz ideia de quem são os famosos de hoje. Agora, faz páginas web e tem um filho de três anos que segue os passos do pai. Hepburn conta-me que o seu rebento já conhece a tabela periódica dos elementos."Não me arrependo de ter criado o site", escreve Hepburn no e-mail. "A não ser que eu tenha alguma ideia brilhante na física, ou faça outra coisa qualquer que se torne conhecida, o Guia será a única coisa pela qual as pessoas se lembrarão de mim".Hepburn revela que pagou para ter o site disponível durante estes anos todos, na esperança de que as pessoas ainda aprendam algo com ele. Com frequência, diz, a página é mencionada em entrevistas de emprego, o que não é de surpreender e, provavelmente, explica porque é que o site tem um link para o seu próprio currículo.Porém, parece mesmo que o criador se preocupa mais com a educação do que com as suas perspectivas de trabalho. Mantém outro site, o "Splung", onde há diversas explicações esotéricas de tópicos de física, escritas por Hepburn, mas sem as fotos da Britney."A não ser que eu tenha alguma ideia brilhante na física, ou faça outra coisa qualquer que se torne conhecida, o Guia será a única coisa pela qual as pessoas se lembrarão de mim".
Hoje, o "Guia da Britney" existe como uma relíquia de um tempo longínquo e Hepburn afirma que é assim que deve permanecer. Garante também que tão cedo não tentará repetir o seu primeiro sucesso."Sou um velho tão rezingão que nem sei quem é famoso hoje em dia e, em 2015, há tantos sites e tanto conteúdo publicado no Facebook que ficaria perdido", salienta Hepburn, acrescentando que, se alguém quiser fazer conteúdo educacional nos dias que correm "o YouTube é, provavelmente, a melhor aposta". "A verdade é que há muito mais sorte que juízo quando uma coisa se torna viral", conclui.