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Quais são as implicações políticas da operação Carne Fraca

O Ministro da Justiça foi flagrado em grampo da operação e PF indica que propinas iriam para PMDB e PP.

Nesta sexta (17), enquanto Tony Ramos dava entrevistas e memes abundam graças aos pormenores divulgados da operação Carne Fraca, o combalido mundo político brasileiro espera alguns reveses.

Segundo a PF, o esquema funcionava desde 2007, enraizado especialmente na seção paranaense do Ministério da Pesca e Agricultura, mas também nos de Minas Gerais e de Goiás. Em seu despacho, o juiz federal Marcos Josegrei da Silva diz que o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento foi "tomado de assalto — em ambos os sentidos". "A quantidade de crimes cometidos diariamente por esses investigados e as trocas de 'favores' ao longo de tantos anos é tão grande que, simplesmente, não se pode imaginar que o mero afastamento cautelar de suas funções seria suficiente para se evitar o cometimento de novos crimes. Na realidade, trata-se de crimes praticados em série e que evidenciam a contaminação não apenas da estrutura interna do órgão como o envolvimento direto de uma quantidade expressiva de empresários inescrupulosos", complementa o juiz.

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Para além das minúcias locais — irregularidades pesadas envolvem até cargas exportadas para a Europa — há a possibilidade de as investigações mirarem em políticos mais graúdos, ainda não indiciados. O delegado da PF Maurício Moscardi Grilo, responsável pela operação, apontou em entrevista coletiva que parte da propina que os fiscais recebiam para fechar o olho para detalhes nojentos como frango vendido com "acréscimo" de papelão e carne injetada com ácido ascórbico (vitamina C) para mascarar seu apodrecimento, iria para partidos políticos. "Dentro da investigação ficava bem claro que uma parte do dinheiro da propina era sim revertida para partido político. Caracteristicamente já foi falado ao longo da investigação dois partidos que ficaram claros: que é o PP e o PMDB", afirmou.

Apesar da falta de detalhes na investigação, o que se confirma é que grandes montantes de dinheiro circulavam no esquema. "Não dá para caracterizar quanto, mas dá para perceber que algumas pessoas, as mais fortes na corrupção, recebiam um valor alto", diz Grillo. Segundo a PF, apenas um dos investigados mantinha R$ 400 mil em espécie me casa, enquanto outro contava com R$ 65 mil apenas no bolso de um casaco. As propinas seriam entregues das mais diversas maneiras, incluindo o caso de um lobista que teria colocado dinheiro dentro de um peito de frango.

Apesar de não ser investigado formalmente, o atual ministro da Justiça Osmar Serraglio (PMDB-PR) foi flagrado em um grampo chamando um dos fiscais envolvidos no esquema de "grande chefe" e reclamando que um frigorífico de um amigo poderia ser fechado.

Ainda não se sabe qual a extensão do envolvimento dos partidos no esquema, que funcionaria desde 2007. É importante notar que foi em 2007, no segundo mandato de Lula, que o Ministério da Agricultura tornou-se oficialmente território do PMDB. O primeiro ministro foi Reinhold Stephanes, seguido por Wagner Rossi, Mendes Ribeiro Filho, Antonio Andrade, Neri Geller e finalmente Katia Abreu, todos, à época, filiados ao partido do presidente Michel Temer. Depois da queda de Dilma quem assumiu a pasta foi o megaempresário da soja Blairo Maggi, do PP do Mato Grosso.

"O período da investigação é o período que eu posso dizer, ao longo de dois anos de investigação isso era mais claro para a gente. Não sei se eventualmente um esquema ligado a partidos ocorria há mais tempo e também não ficava caracterizado para a gente para qual político especificamente ia todo esse dinheiro", explica o delegado.

No decorrer da investigação, se o caminho político dessas propinas for esclarecido, é possível esperar uma derrocada dos envolvidos, já que, além do dinheiro público, eles ajudaram a estragar o churrasco dos brasileiros.

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