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Educação Ocupada

Armada e sem mandado judicial, PM desocupa escola estadual em Piracicaba

Alunos da E.E Pedro Moraes Cavalcanti relatam que policiais pularam o muro portando fuzis e metralhadoras para intimidar a ocupação.

Foto: Lucas Jacinto/VICE Brasil.

* Colaborou também com a reportagem Lucas Jacinto.

Essa reportagem foi atualizada às 18:04 do dia 26 de outubro.

A primeira e única escola estadual ocupada por estudantes contra a PEC 241 na cidade de Piracicaba foi desocupada pela Polícia Militar no mesmo dia de sua ocupação, na última quarta (25), às 18 horas. Segundo relato dos estudantes, os PMs pularam o muro da escola, armados, e intimidaram os alunos a saírem do recinto.

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Junto com as mais de mil escolas ocupadas como forma de protesto contra a PEC 241, aprovada ontem pela Câmara dos Deputados, que visa colocar um limite no teto de gastos do país e que pode reduzir os investimentos na saúde e educação nos próximos 20 anos, a E.E. Pedro Moraes Cavalcante foi ocupada às 6h10 da manhã pelos estudantes antes mesmo da chegada dos professores e a diretoria.

"Resolvemos ocupar na parte da manhã por conta da segurança, " conta a secundarista S.M de 16 anos que junto com cerca de 30 alunos articularam a ocupação. "Se ocupássemos [a escola] na parte da tarde, teríamos problemas com as crianças menores que vêm para escola". Segundo o depoimento da estudante, a maioria dos professores da escola foram contra a ocupação e alguns chegaram até proferir ameaças aos pais e outros alunos que organizaram a ocupação.

"Teve pais que apoiaram e alguns que disseram que não concordavam com a nossa atitude, mas que entendiam nossa motivação. Teve também o caso de uma mãe que fez barraco, fez discurso fascista, chamou a gente de vagabundo e até citou Bolsonaro durante sua fala", relata outro estudante, L.M também de 16 anos.

A ocupação seguiu sem maiores problemas com a Polícia Militar, mas a coordenação da escola deixou os alunos trancados no local sem fornecer as chaves. O jeito foi forçar a abertura de um dos portões para permitir a entrada dos pais e outros alunos para participarem das assembleias.

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Foto: Lucas Jacinto/VICE Brasil.

Já no final da tarde, a advogada Marcela Bragaia, do grupo Advocacia Popular que prestava apoio jurídico à ocupação e Carlos Canedo, estudante de Direito e membro do Serviço de Utilidade Pública, receberam uma ligação dos alunos informando que a Polícia Militar teria pulado o muro da escola e invadido o local para cessar a ocupação.

"Entramos pelas frestas do portão que foi forçado e já tinha uns cinco policias dentro da escola. Todos estavam armados com fuzil e metralhadoras, " conta Canedo. "Não falaram que tinha mandato judicial, mas sim que tinham uma ordem verbal do secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo."

A aluna S.M. informou que os PMs entraram quando a maioria dos presentes saiu para tomar banho. "Perguntamos se tinham uma ordem judicial e eles disseram que não, mas que iriam nos tirar de qualquer jeito. Deram duas opções: ou saímos por 'bem' ou na 'porrada'", conta a secundarista.


Veja nosso documentário sobre as ocupações contra o plano de reorganização da rede estadual de ensino em São Paulo:


Os alunos, de acordo o estudante de Direito, ficaram aflitos com a presença de armamentos pesado na escola e saíram do local sem resistência. Quase um ano atrás, quando os secundaristas de São Paulo ocuparam mais de duzentas escolas contra a reforma da educação paulista as reintegrações de posse eram feitas com medida judicial por se tratar de uma reivindicação política de um grupo. Fato que não ocorreu na desocupação da E.E. Pedro Moraes Cavalcante. "A gente até pode desocupar, mas vamos infernizar aqui dentro. Vai ter luta de qualquer jeito", avisa L.R.

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No mesmo dia (25), a 157 km de Piracicaba, na cidade de Itaquaquecetuba a E.E Edina Alvares Barbosa também foi desocupada pela Polícia Militar. A estudante A.C.M.I de 15 anos informou a VICE que tudo ocorreu sem maiores problemas. "Nove viaturas foram chamadas para frente da escola após a denúncia da própria diretora da escola", conta. "Nós negociamos e saímos pacificamente".

Até o momento, são mais de 1000 escolas no país ocupadas contra a PEC 241, a maioria está concentrada no Paraná. Como medida de controlar as ações, o Ministério da Educação pediu a identificação dos jovens envolvidos nos protestos e ameaçou o cancelamento do ENEM nas escolas ocupadas.

Entramos em contato com a Secretaria de Segurança Pública em busca de um pronunciamento sobre a desocupação em Piracicaba, mas não recebemos uma resposta até a publicação desta reportagem.

Atualização às 18:04 no dia 26 de outubro: O major Willians de Cerqueira Leite Martins do 10º Batalhão da PM respondeu ao pedido da VICE por meio da SSP sobre a desocupação da escola em Piracicaba. Segundo o major, "os PMs adentraram ao local e os alunos solicitaram 10 minutos para uma reunião juntamente com sua advogada. Após, deixaram o prédio escolar, por volta das 18:55 horas".

"Feito contato com a diretora Silmara Gil Regis do Amaral, juntamente com a coordenadora e vice-diretora, acompanharam uma vistoria interna e constatou-se que nada havia sido danificado aparentemente. A diretora trancou as dependência da escola e retirou-se. A equipe permaneceu no local com os luminosos acessos até que todos fossem embora, por mais uma hora."

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