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Notas de um Cara na Líbia VII - Picardias em Benghazi

Benghazi, Líbia—Rumores que os rebeldes foram além de Brega até Ra’s Lanuf agora parecem ser sem fundamento. A retirada rebelde parece ter parada o oeste de Ajdabiya.

31 de março de 2011

Benghazi, Líbia—Rumores que os rebeldes foram além de Brega até Ra’s Lanuf agora parecem ser sem fundamento. A retirada rebelde parece ter parada o oeste de Ajdabiya.

Acabei dormindo e quando finalmente sai da cama, alguns novos contatos que tinha acabado de fazer me encontraram para cortar o cabelo. Depois demos uma volta por Benghazi em um Audi 4 e comemos peixe no almoço – pratos de peixe fresco escolhidos em uma sala ao lado e pescados naquela mesma manhã. Também comemos lula, caranguejo, tubarão e outras delícias do mar. Estava no paraíso. Os funcionários do restaurante estavam ansiosos em nos servir bem. Me perguntei se eles preferiam estar lutando nas frentes de batalha em vez de ficarem servindo frutos do mar a jornalistas.

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No final da nossa refeição eles perguntaram sobre meus interesses e hobbies. Isso levou a uma conversa sobre carros. “Nós fazemos corridas, claro, você quer correr?”, um dos funcionários me perguntou. Aparentemente crianças ainda fazem corridas de rua em Benghazi. Eles falaram que foi por isso que existem lombadas em todos os lugares.

E então eles me levaram para o centro num lugar onde se procura drogas. Três carros estavam na fila. Chegamos nos traficantes – duas crianças, uma sentada em uma cadeira de jardim usando moletom vermelho com a toca por cima da cabeça, e a outra, maior, que estava conversando com as pessoas nos carros. Eles compraram um pouco de haxixe, apesar de termos falado que não queríamos fumar nada.

Isso faz parte de sua contribuição para a jihad – ajudar os jornalistas, ou pelo menos nos entreter para que sejamos menos negativos quando escrevemos sobre eles. Um de nossos companheiros líbios nos disse que ele voltou de Paris para seu país natal para participar da revolução. O outro morava fora também. Eles amam o seu país, mas não estão entrando com o corpo na luta. E por que eles deveriam fazê-lo? Os rebeldes não precisam de mais pessoas; eles precisam de estratégias militares.

Conheci tantos jovens líbios que haviam retornado a terra natal depois de morarem anos fora do país. No elevador do hotel eu conversei com um cara grande com um pesado sotaque britânico que me disse que ele iria morrer ¬¬– que todos iam morrer – antes de Gaddafi tomar Benghazi. Outro moleque líbio com um sotaque de Liverpool nos deu uma carona de volta de Ajdabiya ontem, e falou sobre os mesmos sentimentos. Esse tipo de jihad nunca havia acontecido em nenhum lugar.

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Paramos em um protesto no caminho de casa. Protestos são entediantes. Pulei do carro para tirar umas fotos e o amigo do motorista veio comigo. Depois de tirar algumas fotos, já estava pronto para ir embora.

“Isso me faz sentir tão bem”, o amigo do motorista disse. “Nunca pudemos fazer isso”. Sua humildade instantaneamente esmagou minha atitude escrota.

Jantamos na casa de um amigo. Uma AK-47 estava em um sofá ao lado, e o cara do lado da arma estava usando uma camiseta do Megadeath, enquanto fumava narguile. Claro, a TV estava ligada na Al Jazeera. Mais pessoas se juntaram a nós, incluindo três moleques que saíram da escola no Canadá e voltaram para pular. Dois deles tiveram o luxo de serem treinados por um dia, e parecia que a ideia de uma missão suicida para Misrata havia sido sabiamente abandonada. Eles estavam frustrados e prontos para ação.

O cara com a camiseta do Megadeath preparou umas varetinhas de haxa para um baseado enquanto duas crianças brincavam num canto. Eles terminaram de rezar e fumaram o beque enquanto ouviam minhas histórias estúpidas de guerra. Eles achavam que eu era louco. Ouvindo a mim mesmo, queria fechar a matraca e ir para a frente de batalha imediatamente. Então, por alguma razão, ficamos vendo uma metralhadora multi-uso francesa. Outro cara ficou brincando com sua faca, abrindo-a e fechando repetidamente. Pequenos gestos como esses pareciam ser muito importantes, mas eu não sei por que.