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O que aprendemos no primeiro debate com os candidatos a prefeito de SP

Sem Erundina, o debate teve Russomanno apagado, ataques à gestão Haddad, Marta e Dória trocando farpas e Olímpio gritando muito.

Todas as imagens do post são prints do debate da Band, o primeiro encontro entre os candidatos à Prefeitura de São Paulo em 2016.

Em 17 de julho de 1989 a Rede Bandeirantes promovia o primeiro debate entre candidatos à presidência da história da TV brasileira — era a primeira vez que se votava para presidente no país desde 1960. Foram convidados 11 candidatos, de um total de 22 postulantes, e nove deles participaram. Com as regras frouxas, a presença massiva de fãs e cupinchas, muitos candidatos e também muita vontade de falar, o debate de mais de três horas contou com momentos memoráveis, como a treta entre Brizola (PDT) e Maluf (PP), com gritos trocados de "desequilibrado" e "filhotes da ditadura".

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Quase três décadas depois, é sintomático ver como evoluiu o debate político no país. Sob as apertadas regras da minirreforma eleitoral de 2015, o debate de abertura da disputa pela prefeitura de São Paulo realizado na noite desta segunda-feira (22) parecia burocrático e engessado. Realizado na reta final da ruptura institucional causada pelo processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), chamou a atenção, inicialmente, a ausência da candidata Luiza Erundina (PSOL). A ex-prefeita, terceira colocada nas pesquisas de opinião, foi impedida de participar do debate pelas novas regras eleitorais. Para ter sua presença garantida, seu partido precisaria contar com ao menos nove deputados federais na Câmara (o PSOL tem seis), ou então precisaria contar com o convite de dois terços dos candidatos que contam com tal qualificação.

Como Marta Suplicy (PMDB), João Dória (PSDB) e Major Olímpio (SD) barraram a participação de Erundina — Fernando Haddad (PT) e Celso Russomanno (PRB) concordaram com a presença dela — a candidata ficou de fora. Colocou um carro de som e a militância na porta dos estúdios para protestar, mas a Band fingiu que nada estava acontecendo, e não houve nenhuma citação ao nome de Erundina durante o debate. Na internet, a candidata do PSOL e seu vice Ivan Valente, que estavam num estúdio improvisado, entravam ao vivo pelo Facebook nos intervalos do debate para comentar para pouquíssima audiência, e em um curto espaço de tempo, suas opiniões sobre o que passava na Band.

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Do lado de dentro dos estúdios, o papo na noite fria paulistana era quase soporífero. Haddad, atual prefeito em busca da reeleição, foi, como esperado, o principal alvo da contenda. Dória, tentando parecer informal num casaco Ralph Lauren adequado para um brunch num iate, fez repetidas críticas ao PT, que teria sido um "desastre" ao longo dos 13 anos de governo federal, atacando simultaneamente Haddad e Marta, que se desligou do partido em 2015 para entrar para o PMDB de Temer — tão entusiasmado que estava, Dória chegou a afirmar que o marqueteiro João Santana, que coordenou a campanha de Haddad em 2012, ainda estaria preso (Santana, porém, deixou a cadeia no início de agosto). Major Olímpio também reiterou a associação entre PT e corrupção numa "não-pergunta", só para tomar uma resposta de Haddad, dizendo que "nem ia comentar" sobre Paulinho da Força, presidente do Solidariedade.

Para além das frases de efeito — acusado de fazer "turismo de luxo" na periferia, Dória afirmou que quem faz turismo é o PT, "na Suíça e em Curitiba" — Haddad sofreu mesmo foi na sua indefensável atuação na gestão de saúde, motivo de perguntas de diferentes candidatos e também dos eleitores. Não conseguiu convencer que o tempo de espera para os mais diferentes atendimentos médicos nos serviços municipais diminuiu, quando na verdade aumentou, e vai ter que criar um bom plano durante a campanha para superar essa ampla percepção.

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Por outro lado, os outros candidatos também não se saíram muito bem. Dória e Marta, por exemplo, afirmaram que querem voltar com a inspeção veicular, realizada na época do prefeito Gilberto Kassab (PSD, partido do vice de Marta Andrea Matarazzo), mas dizem que agora o procedimento seria gratuito. Olímpio, quase sempre gritando com o microfone a partir de alguma pretensa autoridade militar, parecia perdido — prometeu intensificar o "rapa" contra o comércio ambulante, acusou o programa "DeBraços Abertos" da prefeitura de servir para aumentar o consumo de crack e terminou o debate invocando "força e honra" para governar a cidade, numa clara referência _ao filme Gladiador _de__Ridley Scott.

No setor "deslizes" ainda vale destacar Marta, de língua presa, afirmando que o combate ao consumo de crack tem a ver com "a espiritualidade do drogado", Dória se defendendo das próprias declarações de que extinguiria secretarias ligadas aos negros, mulheres e deficientes, que chamou de "penduricalhos" falando que conviveu com seu pai como cadeirante por oito anos, e Russomanno botando a culpa nos professores pelos problemas na educação municipal. Russomanno, líder das pesquisas, permaneceu por todo o debate quase na encolha, falando moderadamente e evitando qualquer tipo de embate, parecia que tinha tomado um caminhão de calmantes.

No fim das contas, o paulistano assistiu a um debate com poucas propostas concretas e também de um diálogo mouco — não faltaram momentos em que os candidatos fizeram o Maluf e responderam uma pergunta falando de outro assunto completamente diferente. Foi tão desinteressante que um dos momentos de destaque foi a dificuldade de Boris Casoy na hora de chamar os eleitores para suas perguntas específicas — o mediador não sabia se lidava com um eleitor ou eleitora. Com a campanha eleitoral mais curta e com menos tempo de TV, pareceu uma chance desperdiçada para se tentar entender o que pode mudar efetivamente na cidade na próxima gestão.

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