O erotismo caseiro de Haruo Kaneko
Conrada. Foto por: Haruo Kaneko/BRWax

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Sexo

O erotismo caseiro de Haruo Kaneko

Conversamos com o fotógrafo especializado em nu feminino e idealizador do projeto BRWax. Ele promove o documentário ‘Snap’, ao lado do diretor Jun Sakuma, no Pixel Show deste ano.

Formado em design gráfico na Belas Artes, o Haruo Kaneko começou atuando no desenho e, ocasionalmente, migrou para a fotografia erótica. Ele é o idealizador do projeto BRWax, que trabalha com nus femininos. Começou a fotografar numa casa que dividia com amigas. No início, há sete anos, na falta de uma locação mais pomposa, ele passou a usar o próprio quarto para os registros. Assim, os ambientes caseiros, envolvidos numa lascívia própria da intimidade cotidiana, tornou-se uma característica.

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Recentemente, Haruo Kaneko e suas fotografias viraram tema do documentário Snap, dirigido pelo Jun Sakuma. Nós até já noticiamos isso aqui, logo no início da produção. O primeiro corte do filme acaba de ficar pronto. Tem pouco mais de uma hora e logo estará nas redes.

Aproveitei a deixa da conclusão do documentário para conversar com o Haruo sobre a atual fase de sua carreira. Na entrevista a seguir, entre outras coisas, falamos sobre o começo do BRWax, acerca de seu entendimento a respeito do papel do observador na estetização do nu, e de sua próxima investida: eliminar totalmente o fotógrafo da cena. Leia e saque alguns cliques que o cara selecionou especialmente pra VICE.

Natalia Scabora. Foto: Haruo Kaneko/BRWax

VICE: Comecemos falando sobre o que você vai apresentar no Pixel Show, pode ser?
Haruo Kaneko: A palestra vai seguir uma sequência. Antes de mim, vai falar o Jun Sakuma, que fez o documentário sobre o meu trabalho. Ele vai falar sobre produção de documentários, e o último filme que ele vai abordar, antes da minha entrada, é este que ele fez comigo. Na sequência pego o gancho e entro falando sobre como foi ser documentado por alguém e depois vou entrar um pouco na fotografia, no mercado atual, contar como eu me viro, como as coisas mudaram. Daí vou falar do projeto BRWax também, explicar o que é, contar as experiências.

Que formato ou linguagem o Jun Sakuma imprimiu a esse documentário?
Ele começou a filmar meus ensaios como making of, e quando eu vi, ele já tinha ido atrás de um monte de gente que está ao meu redor. Falou com todo mundo, pessoas que trabalham comigo na parte comercial, maquiadora. Acabou pegando depoimentos de fotógrafo que eu pago mó pau. Tem o making of do que eu faço, e outros pontos de vista sobre o meu trabalho. É um retrato, não sei bem se pode ser chamado de documentário.

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Quando você lançou o BRWax, o projeto era para ser duradouro ou apenas uma série?
Este é um projeto que comecei despretensiosamente, quando nem imaginava ser o fotógrafo que sou hoje. Mas quando vi a oportunidade, abracei com tudo e me dediquei, porque gostei muito daquilo.

O início de tudo foram as postagens no Tumblr? Como rolou exatamente?
Na época, como estudei design gráfico, o BRWax era um lugar onde eu guardava referências para desenhar. Cansado daquelas referências, quando vi o resultado das fotografias, perdi a necessidade desenhar. Eu meio que me encontrei ali.

Natalia Scabora. Foto: Haruo Kaneko/BRWax

Saquei. Então você migrou do desenho para a foto…
Mas não foi só por isso. Na época eu tinha amigos fotógrafos. Cheguei a fazer alguns trabalhos publicitários como modelo, ficava de olho na galera trabalhando e achava ducaralho.

BRWax acabou virando mais do que um projeto, mas a sua assinatura mesmo, né?
Total, é o meu trabalho autoral mesmo, porque quando comecei a juntar as referências, criei um nome praquilo, "Brazilian Wax". Aí resolvi fazer um logo, foi evoluindo, e, quando vi, já tinha gente me procurando pra fotografar. Rolou sem eu saber fazer. Então corri atrás pra aprender.

Mas o seu objetivo é trabalhar sempre com foto de mina pelada?
Eu não sei aonde vai dar. É engraçado, quando uma coisa começa de forma despretensiosa, fica difícil imaginar um fim. Mas isso pode acontecer, claro. Eu tento até fugir da fotografia, colocar o conceito que criei em outras coisas também. Tomara que dure toda a minha vida!

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Conrada. Foto: Haruo Kaneko. BRWax

Você tem uma preocupação de tentar fugir a clichês?
A espontaneidade sempre vem à tona, gosto muito do espontâneo. Sobre a perspectiva, nós estamos em constante mudança, então conforme vai mudando a maneira de pensar, a perspectiva também muda. Se você não tiver uma sensibilidade para sentir o que acontece no mundo, enquanto se está criando coisas que são até polêmicas, você pode se embananar aí, saca? Tem muita gente que começa um projeto e se perde no meio por não ter essa sensibilidade.

E o lance do sexismo?
Na época em que comecei a fotografar, já existia a discussão sobre o feminismo, claro, mas não era como é hoje. Se você for ver, teve muita gente que foi apedrejada pelos movimentos. Muitos fotógrafos que faziam coisas parecidas com as minhas tiveram suas páginas arrancadas do Instagram. Isso aconteceu comigo também, bem no comecinho. No começo, acho que eu não soube lidar. Trata-se muito mais de retratar, documentar as coisas: quem eu sou, onde estou. Melhor isso do que impor situações, criar algo que não existe. Tudo muda. Quando comecei não era assim. Era tipo criar situações que exalavam tesão, e a pessoa ia ver aquilo e a imagem ia mexer com ela. Hoje em dia você tem que ir com mais calma nisso. Hoje, sete anos depois de eu ter começado a fotografar, é muito mais a coisa da mulher como alguém de poder, com a imponência delas, com liberdade de expressão, de exposição.

Quais serão as novas estéticas do nu, depois de tantas abordagens que já foram experimentadas e midiatizadas?
Hoje nós vivemos essa auto exposição do Instagram, Snapchat etc., tudo se expõe muito. Então é difícil falar sobre a nova perspectiva do nu, porque eu não sei o que virá daqui pra frente. Talvez o nu comece a ficar uma coisa mais séria. Porque ele se perdeu muito e se tornou muito banal. É daí que vem também a criatividade, né. Não é mais só revelar a nudez. Tem que ter algo a mais, algo criativo, ou uma coisa dramática.

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Conrada. Foto: Haruo Kaneko/BRWax

Você acha que uma simples composição dada a um retrato é capaz de passar um conceito?
Acredito. Mas isso é muito individual também. Vai muito da bagagem que a pessoa tem, o que ela viveu, pra interpretar aquilo. Depende de como você coloca e de como a pessoa que está vendo enxerga. A partir do momento em que você se vê como um artista, a arte tem essa coisa de liberdade de expressão, de levantar discussões. Não é só pra ficar agradando ou emocionando de forma prazerosa. A arte dá esse poder. E que as pessoas interpretem da maneira que quiserem.

Você costuma dirigir as meninas ou as deixa livres?
Vou te falar que acontecem as duas coisas. Algumas meninas já se dão muito bem com a câmera, já sabem o que vão fazer, interpretar ali. Então deixar solto é legal. E tem mina que já trava um pouco, aí eu dou uns toques. Tem que sentir no momento. Mas se precisar dirigir, eu dirijo, claro, vou no lugar delas e faço as poses. É até engraçado: tem um amigo que filma os ensaios pra mim, e ele tem um material só comigo posando de exemplo. Se a gente chega numa casa, por exemplo, eu tento aproveitar as coisas do jeito que estão. Existe uma direção, mas também a coisa de deixar a pessoa ser o que é.

Qual exposição sua foi a mais legal?
Teve uma na Trackers que foi legal. Eles liberaram um banheiro lá, e enchi o banheiro de monóculos. E as fotos que se viam nos monóculos eram das próprias meninas, naquela banheira. Foi legal essa interação com as pessoas. Gosto muito quando o espectador tem uma participação na obra. Teve uma individual na Sinlogo onde eu coloquei uma cabine automática de 3x4, então as próprias pessoas se clicavam.

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Daora. E tem alguma coisa nova nesse sentido que você esteja planejando botar em prática?
A próxima agora vai ser com essa ideia da cabine. Eu consegui uma. Vou espalhar por São Paulo e avisar a galera. Naquela exposição, as meninas entravam na galeria, faziam fotos, algumas deixavam as tiras com as fotos posadas caídas no chão. Elas faziam isso. E os caras também, entravam lá e acabavam sensualizando. Era instintivo. E tirou o fotógrafo da história, não existia uma direção ali. Só havia uma ideia em volta, uma atmosfera sexual, sensual, e quando a pessoa entrava na cabine, ela fazia isso por si mesma. Então muitas vezes o papel do fotógrafo é mais criar essa situação do que impor algo, sabe? E saíram fotos que eu faria. É isso que eu quero tentar fazer agora de novo. Espalhar a cabine pela cidade.

Bruna Franquez. Foto: Haruo Kaneko/BRWax

Acho que essa sua ideia vai possibilitar uma observação muito curiosa do comportamento humano…
Hoje qualquer um compra uma câmera, sai fazendo foto, cria um Instagram, diz que é fotógrafo e consegue dez mil seguidores rapidinho postando um monte de bunda. O lance é mostrar que esse conceito de criar um ambiente estimulante ao exibicionismo natural das pessoas importa muito mais do que o cara que está ali clicando. Isso aí qualquer um faz, até uma máquina automática.

E pra quando você está planejando esse lance?
A máquina chega hoje aqui na minha casa. Pretendo fazer isso agora, no final do ano.

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As imagens ficarão registradas? Você vai postar ou expor depois?
Sim, isso vai gravando. A pessoa recebe duas tiras com as fotos e o arquivo fica. No final, acredito que teremos coisas bacanas. É uma máquina só, e vai ser itinerante. Eu vou deixar ela toda pixada. Os caras do SHN vão me dar uns pôsteres pra eu colar, ela vai ficar bem rua mesmo.

Só por curiosidade, pra terminar: quantos ensaios diferentes você já bateu?
Não sei dizer, mas acredito que muito mais de 300 ensaios… Acho.

Bruna Franquez. Foto: Haruo Kaneko/BRWax

Babi Trettel. Foto: Haruo Kaneko/BRWax

Babi Trettel. Foto: Haruo Kaneko

O Pixel Show, evento de arte e criatividade, rola neste fim de semana, dias 22 e 23, no Clube Hebraica, em São Paulo. Para promover o documentário, Jun e Haruo darão palestra no evento. Clique aqui para conhecer os outros palestrantes. Além de palestras, as atrações contam com uma série de workshops, exposições, sessões de live painting, música, intervenções e festival de tatuagem.

O BRWax está no Tumblr e no Instagram.

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