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Entretenimento

​A Alma Flutua em “Medo do Escuro”

Com trilha sonora executada ao vivo, o novo filme (mudo) do cearense Ivo Lopes Araújo é uma piração oitentista.

Crédito: divulgação

Fortaleza, no Ceará, é uma cidade pós-apocalíptica em Medo do Escuro, longa-metragem independente do diretor cearense Ivo Lopes Araújo. Nela, um sujeito com roupas oitentistas, um punhado de glitter e uma inquietação contínua se depara com o bem e o mal. A loucura vai além, já que os atores sequer sibilam: o filme é mudo. Durante as cinco vezes que foi exibido, Medo do Escuro contou com o apoio de um quarteto fazendo a trilha sonora ao vivo.

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"Esse lance cria outra relação com o cinema, com a presença, com o filme. Cria uma tensão a mais. É energizante. Saímos das sessões enlouquecidos", explica Ivo, que fez direção de fotografia de filmes premiados como Tatuagem (2013) e O Homem das Multidões (2013). Ele compõe o quarteto que assina e executa a trilha.

Crédito: divulgação

Filmado "sem grana" durante 15 dias pelas ruas do centro de Fortaleza, o longa traz personagens interpretados por músicos e dançarinos. Caso de Jonnata Doll, o protagonista – uma espécie de "anti-herói", segundo o diretor, que sai para explorar uma cidade que parece ser só dele.

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Longe da vibe cafona estilo Footloose, a dança é o fio condutor da comunicação entre os personagens sem nome. Medo do Escuro é um filme para ser assistido sem expectativa. A história não importa, mas sim o mergulho num universo audiovisual que joga com passado e futuro. Meio anos 80, meio psicodélico, galáctico e filmado em 16 mm. Não dá pra negar que trata-se de videoarte. Ou seja, quem não tem saco pra poesia e utopias disformes deve passar longe.

Crédito: divulgação

Ivo é um dos fundadores da Alumbramento, produtora coletiva que completa 10 anos em 2016. Ele conta que o filme surgiu de diversas vontades. Uma delas era colocar Jonnata na frente da câmera. "Ele é cantor, compositor, intérprete. Figuraça. Eu já tinha visto shows e sempre quis fazer alguma coisa com ele", conta. Com isso em mente, foi juntar a equipe, criar um esqueleto estruturando o filme e gravar. Sem roteiro. "Não tínhamos grana, mas tínhamos um tempo livre pra fazer um filme. O que fizemos foi juntar toda as potencialidades que estavam próximas."

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Crédito: divulgação

As gravações terminaram um dia antes das Jornadas de Junho acometerem o Brasil. Filmes como Mad Max, Permanent Vacation e O Inferno de Henri-Georges Clouzot serviram de inspiração para a equipe. E não só. "Os anos 80 são muito presentes aqui em Fortaleza. Se você ligar o rádio, sempre tá tocando uma música romântica oitentista."

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Exibido oficialmente pela primeira vez na Mostra de Cinema Tiradentes, em 2014, o filme tem outras duas apresentações marcadas. "Agora em agosto estaremos no Fronteira Festival, em Goiânia. E em setembro iremos pra Belo Horizonte, pra apresentar no Sesc", conta Ivo, empolgado.

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Fazer um filme independente é legal, mas também custa caro. "Estamos dando um passo pra trás no capitalismo industrial. Nossa ideia é de, por enquanto, não mostrar o filme sem ser com a trilha ao vivo." O currículo com mais de 50 filmes ajuda o cineasta, que continua acreditando na força do cinema autoral e segue inspirado. "Ao mesmo tempo, somos tudo e nada. E estamos brigando pra ser alguma coisa."