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Só quem é de lá sabe o que acontece: Jucá e Machado mostram que o impeachment foi criado para barrar a Lava Jato

Áudios obtidos pela Folha de conversas entre ministro do Planejamento e ex-presidente da Transpetro mostram o desespero com a operação.

Foto: Antonio Cruz/ Agência Brasil

Então quer dizer que, vejam só, o ministro do Planejamento e senador Romero Jucá (PMDB-RR) foi flagrado em escutas tramando com o ex-presidente da Transpetro, Sergio Machado, para de alguma maneira barrar a Lava Jato. Os áudios das conversas, entregues à Procuradoria Geral da República, foram vazados pela Folha de S. Paulo na manhã desta segunda-feira (23).

Nelas, Machado e Jucá chegam à conclusão lógica de que, para extinguir a força da Lava Jato, é preciso que Michel Temer assuma a presidência no lugar de Dilma. Onde você já ouviu isso? Sim, aqui mesmo, já falamos sobre as mumunhas que Temer pode usar para enfraquecer a operação e estranhamos a ausência de qualquer citação ao combate à corrupção em seu discurso de posse pré-vazado.

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Feitas provavelmente no período em que o cerco a Lula se fechava e Dilma nomeou o ex-presidente ministro da Casa Civil, as gravações mostram a urgência de Machado em paralisar a operação e se livrar do xilindró. O pacto costurado nos bastidores do poder é revelado por Jucá – tirando o presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL), todo mundo achava que o impeachment era a melhor saída para esvaziar a Lava Jato. O presidente em exercício Michel Temer (PMDB-SP) e o presidente afastado da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) estavam no barco, assim como os caciques do PSDB: o ministro das Relações Exteriores José Serra e os senadores Aloysio Nunes, Tasso Jereissati e Aécio Neves.

Aécio Neves, por sinal, é alvo de ilações especiais nas gravações. "O Aécio vai ser o primeiro a ser comido", diz Machado em um momento. "Aécio não tem condição, a gente sabe disso. Quem que não sabe? Quem não conhece o esquema do Aécio? Eu, que participei de campanha do PSDB", volta a levantar Machado, para receber uma resposta lacônica de Jucá: "É, a gente viveu tudo".

Talvez o único diálogo tão grave quanto os que revelam o plano por trás do impeachment é o momento em que Jucá diz ter conversado com ministros do Supremo Tribunal Federal – sem citar nomes – que disseram que não havia como diminuir a força da Lava Jato com Dilma na presidência. Se a gente achava que o planilhão da Odebrecht era pra derrubar a República, imagina agora com a confirmação de que, se pá, até o STF acha que chegou a hora da Lava Jato abotoar o paletó de madeira?

A divulgação do áudio não poderia vir em pior hora para o governo interino. Quando assumiu, querendo fazer a fita com os movimentos pró-Estado mínimo que o ajudaram a ascender à presidência, cortou alguns ministérios, sem garantir uma economia real para a União com esses cortes. A grita que se sucedeu ao corte do Ministério da Cultura fez Temer recuar no fim de semana, mas mostrou a falta de traquejo prévio no jogo político para além do Congresso: quem pediu a volta do MinC segue querendo a saída de Temer, e quem aplaudiu, agora está desolado e encampa o movimento filisteu de chamar artista de "vagabundo".

A demonstração de pulso frouxo, a falta de legitimidade e agora a gravação bomba – e deve vir mais por aí, já que se especula que Sérgio Machado deve delatar de vez par a PGR, e que mais gente que conversou com ele tem medo de ter sido gravada – se acumulam na véspera do anúncio do pacote econômico provavelmente azedo do ministro da Fazenda Henrique Meirelles. Temer deve degolar Jucá – afinal, O Globo mandou, inclusive – mas dificilmente este será o último capítulo na nova temporada da crise política brasileira. Estariam certos os gritos das manifestações contra o presidente interino, "se empurrar o Temer cai"? Parece que vamos descobrir em breve.

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