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Os Metalúrgicos do ABC Tão Putaraços com a Nova Lei de PJtinhas

Lei 4330 permite que empresas demitam funcionários CLT e contratem todo mundo terceirizado. CUT prevê demissões em massa e convoca paralização.

Fotos e gifs por Guilherme Santana.

Um trator de altíssima pesagem pilotado por 324 deputados federais atropelou o movimento sindical na noite de quarta-feira passada (8/4) em Brasília. O que sobrou dos sindicalistas tomou umas bolachas da PM do lado de fora do Congresso. No fim do dia, o rastro da máquina deixava de legado a aprovação do Projeto de Lei 4330 na Câmara. Ele permite às empresas terceirizarem todo o seu pessoal. Sindicalistas temem uma onda de demissões em massa, achatamento salarial e outras mazelas da terceirização.

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"Fomos pegos de surpresa, foi tudo muito rápido. A gente achava que teria uma mesa de negociação entre governo, Congresso, centrais sindicais e entidades patronais. Achamos que demoraria alguns meses até um consenso. Mas, do nada, o presidente da Câmara acelerou o processo, pôs em votação em regime de urgência e passou um trator danado aí", disse o ainda perplexo vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Aroaldo Oliveira da Silva. O projeto ainda precisa passar pelo Senado e ser aprovado pela presidente.

Agora, o movimento tenta correr atrás do prejuízo com protestos e paralizações prometidas para quarta-feira. Resta agora a metalúrgicos, bancários e outras categorias tentar barrar o Projeto de Lei no Senado ou obrigar a presidente Dilma Rousseff (PT) a vetar o texto, caso ele chegue ao Planalto.

Especialistas ligados aos sindicatos afirmam que a lei é o maior retrocesso trabalhista desde 1964. Com ela, trabalhadores terceirizados teriam salários 24,7% menores, trabalhariam em média três horas a mais do que os empregados CLT por semana, ficariam 2,6 anos a menos no emprego e se envolveriam em 80% dos acidentes fatais de trabalho. Para os empresários, a lei dinamiza o mercado, reduz os encargos trabalhistas, aumenta a competitividade, cria novos empregos e movimenta a economia, hoje estagnada.

Para saber o que os próprios trabalhadores pensam sobre a mudança, fomos à porta das montadoras de veículos em São Bernardo do Campo, berço do sindicalismo petista, para conversar com alguns trabalhadores do chão de fábrica.

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Luiz Gustavo Bissoli, de 37 anos, trabalha na linha de montagem de caminhões na Mercedes-Benz. "Tenho um amigo que trabalha aqui mesmo na Mercedes como terceirizado. Ele foi mandado embora ontem, o Salomão. Houve queda de venda e queda de manutenção das máquinas, aí eles demitiram o Salomão. Ele tem família, é casado, tem dois filhos, é trabalhador. Sem dúvida nenhuma, isso também pode acontecer comigo e com todos os outros trabalhadores. Acho um absurdo. O país já está passando por tantas dificuldades, ainda vem um deputado querer piorar a qualidade de emprego da população? Vai ser um massacre. O cara trabalha aqui dentro, faz o mesmo trabalho que a gente, mas ganha bem menos; às vezes, nem tem convênio médico como a gente tem, não tem ônibus decente pra ser transportado como a gente tem. Essa lei vai ser a regularização da escravidão."

Marcelo Xavier Borges, de 21 anos, é metalúrgico da Ford. "No curto prazo, essa lei pode até gerar emprego, mas no longo prazo é ruim. O poder vai ficar completamente nas mãos dos empresários, vai diminuir a qualificação dos trabalhadores, que serão cada vez mais mal remunerados. A lei prevê até a terceirização de funcionários públicos, o que é um horror. Com essa lei aprovada, as empresas vão demitir os empregados pra contratar terceirizados, que é uma mão-de-obra com salário reduzido e maior risco de envolvimento em acidentes. Toda a responsabilidade passa da empresa contratante pra empresa prestadora de serviço. Tenho medo que isso aconteça comigo, com meus amigos, com meu pai, com meus familiares. É inevitável. Meu pai é metalúrgico, ele trabalha em autopeças. Meus amigos todos trabalham em montadoras."

Alessandro Guimarães, 32, trabalha há seis anos na Mercedes-Benz montando eixos de caminhões. "Meu pai é aposentado da Mercedes, minha irmã foi trabalhadora da Mercedes e tenho dois irmãos trabalhando hoje na Mercedes, além do meu cunhado. Minha família inteira é de metalúrgicos. Tenho duas filhas, uma de 9 anos e outra de 4 anos, e minha grande preocupação é com elas. Eu gostaria que elas trabalhassem como eu, como meu pai. Mas a gente investe tanto na formação dos filhos pra ver como o trabalho vai ficando precarizado, com salário achatado. Em dois anos, a empresa poderá demitir os empregados para contratar terceirizados. Ela fará isso. Uma empresa terceirizada da Mercedes demitiu essa semana 33% dos trabalhadores, e outra demitiu quase 50%. Eles dizem que diminuiu o contrato, o lucro, e por isso precisam cortar trabalhadores. Isso é um exemplo de como vai ficar. Eles não vão mais procurar meios e caminhos para manter os empregos."

Caio Viveiros, de 28 anos, é soldador da Mercedes. "É um absurdo que tenham aprovado uma lei dessas. Isso achata o salário, causa desemprego, reduz a segurança do trabalhador. Eu fico com medo do que possa acontecer comigo, de também ser terceirizado. Isso só reforça a necessidade de fazer uma reforma política, porque os deputados que votaram essa lei são os mesmos que recebem financiamento de campanha dessas empresas. Eles votaram em favor dos que financiam suas campanhas. Ainda por cima, colocaram a polícia para bater no pessoal da CUT que foi a Brasília. Isso tudo é pensado para desestabilizar os sindicatos que apoiaram o governo Dilma Rousseff. Meu pai trabalhou aqui na Mercedes, minha irmã trabalha também e, agora, eu estou aqui. Eu tenho medo de ser demitido, porque é melhor para a empresa pagar um salário menor para um terceirizado, alguém que não tenha os benefícios que eu tenho. Estou exposto a isso. Quando a empresa perceber que vale mais a pena terceirizar o meu emprego, eu vou para a rua. Só a luta dos trabalhadores unidos pode evitar que isso aconteça."