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Um Papo com a Inimitável Yoko Ono

Maravilhosa, como sempre.

Yoko Ono e 'Standing Woman' (1932), de Gaston Lachaise, Museu de Arte Moderna de Nova York, 1960-61. Foto por Minoru Niizuma © Minoru Niizuma. Todas as fotos cortesia do MoMA.

Em 1971, Yoko Ono realizou uma exposição de guerrilha solo no Museu de Arte Moderna de Nova York maliciosamente intitulada Museum of Modern (F)art. Para realizar sua performance, a artista nascida em Tóquio abriu uma jarra cheia de moscas perfumadas no jardim de esculturas do museu; depois, pediu que os frequentadores do museu seguissem o enxame enquanto ele voava pelo jardim, pelas galerias e até pela cidade. Pelo menos, foi isso que ela disse que faria no catálogo autopuplicado da exposição e nas propagandas no New York Times e Village Voice. Quando os visitantes chegaram, a única evidência da performance não autorizada era um homem parado na porta do museu com uma placa-sanduíche explicando a ideia. Mesmo assim, o ato conceitual a colocou além da porta, por assim dizer – Ono e suas moscas teóricas tinham acessado as paredes das galerias e a imaginação do público, tudo sem mostrar qualquer obra física.

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Agora, mais de 40 anos depois, quando a inimitável Ono já se destacou como cantora, compositora, cineasta e artista performática, o MoMA recebe oficialmente a artista de 82 anos para explorar seus primeiros anos em Yoko Ono: One Woman Show, 1960-1971. Mostrando a década anterior à sua primeira aparição sem ser convidada no museu, a exposição exibe trabalhos, objetos, músicas e filmes conceituais da artista.

Uma obra bem conhecida é Film No. 4, apresentando uma dublagem sobre uma sequência de bundas peladas, que Ono fez no final dos anos 60 como membro do movimento de arte Fluxus, que contava com lendas como Marcel Duchamp e John Cage.

Cut Piece (1964), por Yoko Ono.

A década mostrada na exposição representa de modo similar um tempo em que Ono desafiava o pensamento convencional sobre as mulheres. Em sua performance mais icônica, a seminal Cut Piece (1964), ela examinava gênero, privilégio e status cultural, pedindo aos participantes para cortarem pedaços de suas roupas enquanto ela ficava sentava impassível no chão.

Grapefruit, o livro de 1964 com 150 instruções breves e bem-humoradas, também faz parte da exposição. Domingo passado, às 4 e meia da madrugada, Yoko Ono, realizando no museu a performance Morning Peace 2015, seguiu a instrução de Grapefruit: "Quebre um museu contemporâneo com os meios que escolher. Colete os pedaços e monte de novo com cola". Foi uma revisão da obra de mesmo nome de 1965. Agindo como o martelo e também a cola, os músicos Blood Orange e DJ Virgil Abloh tocaram até o amanhecer, enquanto Ono e quase mil participantes dançavam no lobby do jardim e em cima dos sofás e alto-falantes do MoMA sob o sol da manhã.

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Encontrei-me com Ono na semana passada para fazer algumas perguntas sobre os desafios de ser uma artista mulher no mundo das artes dominado por homens, sua carreira e a diferença entre o MoMA daquela época e o de agora.

VICE: Em 1971, você teve sua primeira exposição não autorizada no MoMA chamada Museum of Modern (F)art, um tipo de piada conceitual. Por que era importante na época realizar essa performance?
Yoko Ono: Uma piada elaborada? Meu senso de humor, você provavelmente o viu em muitas das minhas instruções de arte. Quando uma mulher artista faz um trabalho com senso de humor, o mundo pergunta exatamente o que você está perguntando agora. "Por que é importante realizar esse tipo de performance?" Sério, dê uma chance a nós, artistas mulheres!

Sua exposição no MoMA concentra-se na década anterior à sua primeira aparição no museu. Como era esse período para você criativamente?
Eu era totalmente criativa e me divertia sendo uma artista mulher e fazendo arte, expondo e fazendo performances em Nova York, Japão e Londres. Os estraga-prazeres dos homens artistas ficaram tão putos que decidiram me enterrar, dizendo que não achavam que eu era uma artista de verdade.

Yoko Ono, Museum of Modern (F)art (1971). Biblioteca do Museu de Arte Moderna, Nova York. © Yoko Ono 2014.

Você já era uma artista conceitual muito antes de esse tipo de arte ser amplamente apreciado. O que te levou a se afastar dos objetos e ir em direção às ideias que você explora no livro Grapefruit?
Eu gostava de fazer arte que existia apenas conceitualmente. Mas havia outra razão: quando os trabalhos não eram conceituais, todos eles me abandonavam.

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Yoko Ono, Grapefruit (1964), Museu de Arte Moderna de Nova York. Doação de Gilbert e Lila Silverman, Coleção Fluxus, 2008. © Yoko Ono 2014.

Cut Piece, em que você instruía o público a cortar suas roupas, levantou temas como o status da mulher e poder, além de questões sobre a fragilidade de um corpo desprotegido, que é um diálogo que estamos tendo sobre mulheres transgênero hoje. Você acha que muita coisa mudou desde que você realizou essa performance em Tóquio?
Quando fiz Cut Piece, as pessoas ficaram tão chocadas que não quiseram falar sobre isso. Hoje, é uma época diferente. Isso vai ser falado, mas talvez seja uma performance mais perigosa de se realizar.

Você apresentou essa performance recentemente, mas com a diferença crucial de que era você fazendo os cortes. Como você se sentiu do outro lado da ação?
Tive medo de, por acidente, cortar a pele dela ou algo assim. Agora sei que o trabalho não é apenas assustador para a pessoa que está tendo as roupas cortadas.

Cut Piece (1964), por Yoko Ono, em New Works of Yoko Ono, no Carnegie Recital Hall, Nova York, 21 de março de 1965. Foto por Minoru Niizuma.

Seu ativismo pela paz e sua colaboração com seu falecido marido, John Lennon, brilham em obras como Bed-In e War Is Over! (if You Want It). Você acha que as mensagens dessas obras são tão poderosas, em parte, por causa da maneira como você e John estavam dispostos a viver seu amor tão abertamente?
Acho que tem mais a ver com a popularidade e a fama do meu marido, que era diferente da minha impopularidade e fama na época. Mas as ideias são tudo que as pessoas querem. Às vezes, elas têm muito medo de mudar suas vidas para viver em paz e harmonia, em vez de em violência e conflito.

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Yoko Ono e John Lennon, War Is Over! (if You Want It) (1969), Museu de Arte Moderna de Nova York. Doação de Gilbert e Lila Silverman, Coleção Fluxus, 2008. © Yoko Ono 2014.

A performance de 24 horas de Morning Piece foi realizada em todo o mundo, onde as pessoas se reuniram ao nascer do sol para celebrar um novo dia. O que há nas manhãs que te inspira?
A hora que o sol se levanta. Isso é simbólico da renovação de todos os dias. O dia 21 de junho também é o solstício de verão ao redor do mundo.

Cinquenta anos depois, qual a grande diferença entre sua primeira exposição no MoMA e a de agora?
Agora, isso é mais legal e barulhento.

Yoko Ono: One Woman Show, 1960-1971 fica em exposição no MoMA de NY até 7 de setembro de 2015.

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Tradução: Marina Schnoor