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Yunus, o Banqueiro que Quer Acabar com a Pobreza

Da coluna ‘Reduzindo Desigualdades’

Recentemente, a ONU anunciou 17 metas globais para os próximos 15 anos. A meta pro Brasil é Redução das Desigualdades. Inspirados por isso, pensamos numa série de matérias pra VICE, Noisey, Thump e Motherboard. Clique no link acima pra sacar todas.

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“Se você quer fazer dinheiro, você fará muito dinheiro.”

Curvado sobre um banco de madeira numa tarde nublada em São Paulo, o economista bengali Muhammad Yunus, prêmio Nobel da Paz de 2006, expunha sua teoria financeira ao Motherboard com jeitão de profeta. “Você quer que sua empresa seja gigante? Ela será”, continuou, com gestos mansos. “Mas se fizer isso, perderá a chance de mudar o mundo para todas as pessoas.”

Aos 75 anos, Yunus está longe de ser o tipo endeusado pelos jovens empreendedores de hoje. Ele não é rico, jamais liderou uma empresa bilionária, não faz apresentações megalomaníacas e, talvez o que mais pese contra sua popularidade entre os mais novos, nunca criou um eletrônico que promete revolucionar nossas vidas. (Ele também não curte usar moletons e chinelos como manda o protocolo do Vale do Silício, mas talvez seja só uma questão estética, vai saber.)

– Leia também: Quanto Menos Grana, Mais Suicídios

A trajetória do bengali, porém, é bastante inspiradora para quem pensa um pouco além dessa caretice de business plan, carrões e gadgets de luxo: ele é autor do microcrédito, um empréstimo de módicas quantias de dinheiro a pessoas carentes em Bangladesh que foi, segundo analistas, o principal responsável por reduzir a pobreza do país nos últimos anos – de 50% entre 1990 e 2010, segundo a ONU.

– Assista abaixo a entrevista em vídeo com Yunus

O projeto evoluiu e, não faz muito tempo, originou um sistema de financiamento para resolver problemas comunitários ao redor do mundo. Agora a missão de Yunus é expandir esse conceito e, no caminho, fazer com que as pessoas revejam suas ambições. Ele quer que, em vez de buscar criar novos Facebooks e startups mirabolantes de tecnologia, foquemos em negócios sociais: iniciativas lucrativas que têm como principal propósito melhorar a vida dos pobres. “Na caridade, o dinheiro entra e não volta. No negócio social, o dinheiro vai e volta”, contou.

As possibilidades desse tipo de negócio, diz Yunus, são infinitas. Qualquer segmento problemático em regiões pobres pode render um empreendimento lucrativo e de cunho social: moradia, saneamento, transporte, comunicação e tantos outros.

“Na caridade, o dinheiro entra e não volta. No negócio social, o dinheiro vai e volta”

Quem acha que o conceito é anacrônico ou falho deve pensar em figurões do setor da tecnologia como Bill Gates, Mark Zuckerberg e muitos outros, que, depois de conquistar bilhões de dólares com seus inventos, buscam investir em pesquisas altruístas e na infra-estrutura de países pobres. Algo nesse ato mostra que grana não é suficiente para esses caras. “Seres humanos tem sido interpretados de forma incorreta: como seres egoístas, fazedores de dinheiro, robôs”, diz Yunus. “Quer descobrir sua parte menos egoísta? Crie um negócio social para resolver um problema do planeta. E aí vamos fazer acontecer.”

– Leia entrevista completa com Yunus: “O Banqueiro dos Pobres Crê que a Ficção Científica Pode Tornar o Mundo Melhor

Yunus também comenta que aplicar os negócios sociais não significa eliminar a responsabilidade dos governos. Para o economista, a ação deve ser conjunta. “Temos nosso papel em ajudar o governo a encontrar soluções e ideias criativas. Se todos os cidadãos participassem da busca, encontraríamos soluções mais poderosas que o governo”, diz. “O governo tem limitações. O que o governo não pode fazer, cidadãos podem fazer. Governo e cidadãos tem de combinar responsabilidades.”

No fundo, diz Yunus, tudo começa com uma boa imaginação. “Vamos imaginar e criar um novo mundo pra daqui a vinte anos”, diz o economista, eufórico. “Vamos criar ficções sociais. As pessoas verão isso e pensarão ‘isso é bom!’ e repentinamente a ficção vira realidade.”