João Amoêdo: o liberal que quer privatizar o Brasil

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Quem quer ser presidente

João Amoêdo: o liberal que quer privatizar o Brasil

Na série de apresentação dos presidenciáveis para 2018, a VICE conta a trajetória de João Amoêdo, candidato do Novo.

O Estado brasileiro é inchado, ineficiente e só desperdiça o dinheiro público, por isso deve ser enxugado o máximo possível, com a privatização de empresas estatais e a entrega de uma série de serviços à iniciativa privada, entre eles a saúde e a educação. Essa ideia, que arrepia a esquerda e agrada ao eleitorado mais à direita, é basicamente a proposta central de João Amoêdo, o candidato do Novo à presidência da República.

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O jovem João foi um garoto prodígio. Nascido em família de classe média alta, filho de um médico paraense com uma administradora potiguar, cursou ao mesmo tempo duas faculdades e, logo depois de se formar, entrou num programa de trainees no Citibank. Aprovado, foi escolhido para um projeto de formação em Porto Rico e, dois anos depois, foi convidado para ajudar a abrir a filial brasileira de um banco de investimentos, o BBA, onde subiu de forma meteórica. Em 1999, assumiu a gestão da financeira ligada ao banco, a Fináustria, recebendo 23% das ações da empresa como parte do acordo. Em 2004, a financeira foi vendida ao Itaú e João entrou de vez para o clube dos milionários.

Depois foi vice-presidente do Unibanco, que também seria vendido ao Itaú anos mais tarde. Por essa ligação com o mercado financeiro, Amoêdo acabou sendo chamado de “banqueiro”, alcunha que recusa em seu site oficial. “João nunca foi banqueiro, mas sim bancário. Começou como estagiário e, com muito trabalho e dedicação, foi crescendo nas empresas por onde passou”, diz o texto com o tom obviamente exaltador de um release.

A ligação com a política começou em 2010, quando participou do processo de criação do Novo, o partido que reuniu um grupo de pessoas com ideias liberais como as do primeiro parágrafo do texto, e que se diziam “cansadas da velha política”. O partido faz questão de jurar que não usa dinheiro do fundo partidário, exige um processo seletivo de seus filiados, que devem ser ficha limpa, e obriga os candidatos a se afastarem dos cargos de gestão partidária — o próprio Amoêdo, que ocupava a presidência desde a fundação da legenda, afastou-se no ano passado, ao anunciar a pré-candidatura à Presidência da República. Hoje o presidente do Novo é Moisés Jardim, também ele executivo do setor bancário.

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A lista de exigências feitas ao Novo para os filiados não impediu algumas polêmicas, como a do candidato paulista a deputado federal Ricardo Salles, ex-secretário de Meio Ambiente do Estado. Ele publicou nas redes sociais um panfleto em que defende “segurança no campo”, dando destaque a uma caixa de munição e se dizendo “contra a esquerda e o MST”. O Novo deu uma bronca pública no candidato no Twitter, alegando que a mensagem “diverge do pensamento do partido”, que “não compactua com qualquer insinuação ou apologia à violência”. Salles baixou o tom, mas não perde uma oportunidade de atacar “os socialistas” em suas redes sociais.

A posição do Novo, de fato, diverge em quase tudo da postura dos partidos de esquerda, e não só na economia. Vários dos candidatos do partido se encaixam na descrição “liberal na economia e conservador nos costumes”, o que significa defender pautas de enxugamento do Estado, como a privatização da Petrobrás, do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal, e pregar de forma conservadora no campo comportamental, reclamando do “excesso de direitos” para pautas identitárias.

Para se desvincular da pecha de “privatista” que ajudou a derrubar o tucano Geraldo Alckmin no segundo turno das eleições de 2006, Amoêdo diz que está indo contra os bancos, ao defender “o aumento da concorrência bancária” — de fato, o mercado nacional hoje está concentrado em cinco bancos comerciais: os dois estatais citados acima, mais os privados Itaú, Santander e Bradesco, todos eles acumulando lucros bilionários nos últimos anos.

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Na área social, Amoêdo tem amenizado parte do discurso ultraliberal. Chegou a falar, por exemplo, no sistema de vouchers para a educação, o que significa, grosso modo, acabar com o ensino público gratuito e oferecer uma espécie de “vale estudo” que as pessoas receberiam do governo e repassariam à escola. No programa de governo, porém, o discurso é um pouco diferente e a promessa é priorizar o investimento federal no ensino básico e assegurar “gestão profissional nas escolas”. Já na saúde, promete expandir o modelo de administração terceirizada de hospitais e unidades de saúde, por meio das chamadas Organizações Sociais, processo que divide especialistas.

Mas Amoêdo foge do discurso “coxinha padrão” na hora de falar sobre o Bolsa Família, por exemplo. O programa costuma ser muito criticado por simpatizantes de direita, mas o candidato do Novo promete “manter e melhorar o programa”, além de criar “portas de saída”. Ele também se coloca a favor da união civil estável de homossexuais, alegando que não cabe ao Estado interferir em escolhas pessoais do indivíduo, mas se posiciona contra a liberação das drogas “no atual momento” e promete mais rigor na segurança pública, inclusive com proposta de mudança para deixar o Código Penal mais rigoroso.

Para compensar a falta de espaço na propaganda eleitoral, o partido tem investido pesado nas redes sociais, especialmente no Facebook, que aceita publicidade paga dentro das permissões do TSE — todo anúncio deve ser sinalizado com o CNPJ da legenda ou do candidato. A fanpage de Amoêdo tem mais de 2 milhões de seguidores, e muitos deles replicam com devoção quase religiosa as ideias do candidato — você já deve ter ouvido alguém nos últimos dias que quis “falar sobre o Partido Novo”, certamente.

Alguns analistas acreditam que Amoêdo poderia buscar votos entre parte dos eleitores de Jair Bolsonaro que se mostram cansados da política tradicional, mas assustados com o radicalismo de algumas ideias do candidato do PSL. Até agora, porém, não é o que se vê nas pesquisas. No último Datafolha, publicado na segunda-feira, o candidato do Novo aparece com 3% das intenções de voto.

João Dionísio Filgueira Barreto Amoêdo
Formação: Bacharel em Engenharia Civil pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e em Administração de Empresas pela PUC-Rio
Idade: 55
Patrimônio: R$ 425.066.485,46
Trajetória (partidos): Novo
Vice: Christian Lohbauer (Novo)

Acompanhe as trajetórias de todos os presidenciáveis na série Quem quer ser presidente. Novos perfis toda segunda, quarta e sexta.

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