Integrante do bloco Mulheres Rodadas. Foto: reprodução/Facebook
Segura, segura, segura seu machista. Se depender das cariocas, o carnaval de rua do Rio de Janeiro vai ser todo feminista. Apesar do clima conservador na política, com o comando do prefeito Marcello Crivella (PRB), ex-bispo da Igreja Universal do Reino de Deus, e do governador Wilson Witzel (PSC), que foi de azarão a eleito ao apoiar o presidente Jair Bolsonaro (PSL), se multiplicam os blocos liderados e compostos por mulheres, que exaltam a figura feminina em seus repertórios. E em razão deste crescimento exponencial, elas agora se articulam para realizar um evento que reúna todos os grupos, o Carnaval das Mulheres, em março, depois da folia oficial. A VICE compilou vários blocos pra você conhecer as novatas e as veteranas desta folia feminista carioca.Estreante, o bloco reúne 25 componentes entre musicistas e pernaltas, e traz no repertório "Believe", da Cher, e "Kátia Flávia", de Fernanda Abreu – daí a inspiração do nome. "O bloco nasceu de um grupo de amigas para fazer um bloco de mulheres, porque isso é a coisa mais comum entre os homens. Foram amigas que se uniram para tocar músicas de divas", conta a produtora Carina Rocha, produtora, de 31 anos. Apesar de manter o clima de brincadeira, ela conta que é impossível não ter engajamento: "Eu toco timbal há 10 anos e ainda sofro por isso. Sou monitora no Multibloco e já aconteceu de homens se interessarem (na oficina) e quando viram que era uma mulher ensinando eu percebi a surpresa e a decepção e eles não voltaram".Quando: 6 de março, quarta-feira de cinzas, ainda sem local.Outra novidade, surgiu de sete amigas que se conheceram em outro bloco famoso no Rio, o Amigos da Onça. Ela foram tomar uma cerveja depois de um ensaio e tiveram a ideia de homenagear a Queen Bey. "É um bloco neném, tem quatro meses agora, e tem expectativas para o futuro de fazer oficina, porque a gente tem muita procura", conta a produtora Kaenne Faria, de 28 anos. A primeira música, "Crazy In Love", foi tirada de uma partitura na internet e, quando viram que daria certo, criaram os arranjos para o repertório que já tem 15 sucessos. "É pré-requisito pra gente que todos os aspectos (do bloco) sejam guiados por mulheres. Eu acho que é importante, principalmente no atual cenário político, manter essa pegada, engajar e meter a cara na rua", conta Kaenne. São 70 componentes entre ala de música, perna de pau e dança.Quando: data e local ainda indefinidos.A bloca, como preferem ser chamadas, surgiu da necessidade de um espaço em que as mulheres pudessem tocar sem sofrer os machismos comuns aos blocos. Elas então criaram o grupo Carnaval das Mulheres e Representatividade Feminina, em 2016, no Facebook, para reunir interessadas. "Em poucas horas, tinham trocentas mulheres. O que só comprovou a necessidade de ter um espaço para mulheres no carnaval", lembra Marina Ferreira, de 36 anos, umas das integrantes. Doze mulheres então se reuniram e deram início à construção da bloca, com práticas coletivas para ensinar a tocar os instrumentos. Com a intenção de descentralizar o carnaval, hoje as atividades se dividem entre Zona Norte e Centro. Elas funcionam de forma horizontal, se organizando em grupos de trabalho e, atualmente, são 110 integrantes entre musicistas e pernaltas.Quando: ainda não tem data e local divulgado.O bloco surgiu em 2014, a partir de uma ironia feita com um post em uma comunidade que se chamava "Jovens de Direita", que viralizou dizendo "eu não mereço mulher rodada" – cujo intuito era criticar a rotulação e as escolhas femininas. O caso aconteceu antes da Primavera das Mulheres e de hashtags como #meuprimeiroassedio, mas para a jornalista Renata Rodrigues, de 43 anos, uma das fundadoras, ecoa movimentos que já propunham novas formas de fazer política. O primeiro desfile trazia 50 componentes e atualmente são cerca de 200 integrantes, onde 90% são mulheres, e o homens não assumem posição de liderança. Sobre o crescimento de blocos de mulheres, Renata comemora. "Os grupos têm propostas diferentes: uns agregam homens, outros não; uns são compostos por mulheres lésbicas, homens trans. Ter presenciado esse crescimento, e fazer parte dele é algo sensacional", menciona.Quando: 6 de março, na quarta-feira de cinzas, no Largo do Machado.As amigas Bruna Capistrano e Michele Krimer se conheciam há 7 anos quando fundaram o Toco-Xona, em 2007, pois elas zoam dizendo que quem leva toco, se apaixona. Um dos blocos mais antigos da cena, elas contam que queriam fazer algo diferente do que existia, e apostaram em um repertório de pop e rock, com divas como Amy e Rihanna, mas também homens como Cazuza. O bloco é formado por 18 componentes, sendo 17 mulheres e um homem: "É um bloco feito por mulheres, que resolvem tudo, e há pouco tempo assumiu uma coisa lésbica. Foi uma necessidade do movimento da sociedade, necessidade da resistência", diz Bruna. A brincadeira aos poucos tomou um contorno político, e teve ponto alto em 2017, quando elas homenagearam Madonna, que havia feito um discurso épico ao receber o prêmio de Mulher do Ano da Billboard. Este ano o enredo é "Empodera": "Exaltamos o que a mulher pode conquistar e a nossa força infinita, a força da mulher sapatona", diz Michele.Quando: 16 de fevereiro no Cine Joia, em São Paulo, e dia 3 de março, domingo de carnaval, no Aterro do Flamengo.O bloco lésbico surgiu em 2017, depois de assédios vivenciados em um bloco gay. Elas postaram no Facebook uma chamada para construir um bloco "de sapatão para sapatão". "Fomos aprendendo juntas. O que uma havia aprendido numa oficina ensinava para outra, e o que não sabia buscava nos tutoriais do YouTube", diz a cineasta Dani Pinheiro, de 38 anos. No início eram cinco mulheres, hoje são 11, e elas também criam paródias. "'Maria Sapatão' a gente refez para ficar mais correta a visão de sapatão. Ao invés de 'de dia é Maria de noite é João', a gente canta 'não mexe com a maria ela não pega macho não'", conta Dani. O Rebu "quer dar protagonismo à letra L", e não foge da militância: "Fazemos falas sobre lesbocídio e citamos a Marielle no nosso show".Quando: 3 de março, domingo de Carnaval, no Catete.Siga a VICE Brasil no Facebook, Twitter, Instagram e YouTube.
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