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Foto originalmente publicada na matéria "A apocalíptica vida sem água nas periferias de Governador Valadares (MG)". Foto: Felipe Larozza/VICE

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Os impactos sofridos por Mariana que podem se repetir em Brumadinho

De estresse pós-traumático em crianças e jovens até a total falta de água. Já vimos esse filme. Não queríamos ver de novo. Nunca mais.

Os danos do rompimento da barragem em Mariana, Minas Gerais, no ano de 2015, deixou um rastro nefasto. Ao longo dos anos, a VICE noticiou vários impactos absurdos deixados na conta de quem nada tinha a ver com a ganância e os dividendos da gigantesca Vale, dona da mineradora Samarco, responsável pelo crime ambiental na época. Para além dos danos físicos, morais e emocionais que as famílias atingidas em Brumadinho estão sujeitas, há também a possibilidade de que outros problemas se espalhem geograficamente. Listamos aqui alguns pontos que afetaram os arredores de Mariana e que, infelizmente, podem se repetir em Brumadinho e região.

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A falta de água se transformando num cenário apocalíptico

Com a contaminação do Rio Doce, principal fonte de abastecimento da região, diversas cidades foram impactadas pela falta de água para cozinhar, beber e até mesmo tomar banho. Em novembro de 2015, quando a barragem do Fundão rompeu, a VICE esteve em algumas cidades mineiras e viu de perto o desespero das pessoas em busca de água. Em Governador Valadares, presenciamos um grupo de voluntários de mãos dadas, à noite, num bairro periférico, rezando: "Que Deus ajude nossa cidade a voltar a ser o que era antes". Se não fosse o trabalho voluntário de muita gente, a água com metais tóxicos seria a única opção para a população, que levou meses para se recuperar do prejuízo.

Estresse pós-traumático - principalmente em crianças e adolescentes

Num especial de saúde mental, a VICE publicou o apontamento de uma pesquisa realizada pela médica psiquiatra, pesquisadora e professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Maila de Castro. Do total de vítimas entrevistadas na tragédia de Mariana, 42% eram crianças e adolescentes. Entre eles, 91,7% testemunharam o desastre e 8,7% receberam notícias traumáticas decorrentes do acidente. O grupo de estudos diagnosticou que 82,9% dos entrevistados deste núcleo foram rastreados positivamente para o Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT).

O aumento da violência doméstica

Contrariando ordens do Ministério Público, a Samarco pagou alguns auxílios pós-tragédia para homens – e não para mulheres – desestabilizando famílias na cidade. Em um dos casos que publicamos, uma mulher chegou a cortar as costas do ex-companheiro com uma faca depois de ele ter recebido R$ 20 mil de indenização e ela acabar sem teto e sem dinheiro. Antes da tragédia, ambos moravam juntos em uma casa em Bento Rodrigues. "O pior é se sentir humilhada, era muito ruim ver ele recebendo um dinheiro que eu também tinha direito”, disse a mulher.

Na época, o promotor Guilherme Meneghin mencionou que em 20% dos casos a Samarco "agiu com irresponsabilidade, repassando o cartão e a chefia da família para o homem, ao contrário do que recomendamos. Assim, ao menos metade destes casos geraram problemas onde tivemos que intervir".

O impacto econômico no turismo e no comércio local

Brumadinho é conhecida por abrigar o Instituto Inhotim, tido como o maior museu de céu aberto do mundo, e que foi fechado temporariamente no mesmo dia em que a barragem no Complexo do Feijão rompeu. A cidade é também conhecida por abrigar pousadas, fazendas e cachoeiras. Na época da tragédia, Mariana estava vazia, sem turistas, e até mesmo sem os funcionários da Vale, que faziam o comércio local girar. Numa reportagem que publicamos, uma empresária de turismo chegou a dizer que as pessoas enviavam e-mail para ela perguntando se era preciso levar água filtrada para a estadia. "Eles acham que a cidade está sem infraestrutura", comentou à época. Segundo informado pela prefeitura de Mariana ao G1, seis meses depois da tragédia, "o turismo de lazer a zero".

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